Nem o fogo apagará nossa memória

A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE) lamenta, com profundo pesar e indignação, o incêndio que acometeu a unidade da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina, em São Paulo, na última quinta-feira, comprometendo para sempre uma parcela significativa do inestimável acervo de filmes e documentos mantidos há décadas por essa instituição fundamental na salvaguarda e preservação da memória audiovisual brasileira.

Esse incêndio condenável, previsível e evitável – assim como boa parte do meio milhão de vidas ceifadas pela pandemia de covid-19 – é resultado direto da estratégia execrável, indisfarçada e sistemática de destruição da ciência, cultura e educação conduzida pelo governo federal que, em lugar de cumprir sua missão primordial de preservar e investir nas instituições públicas sob sua responsabilidade – museus, universidades, agências de fomento às artes e às ciências, institutos de ensino e pesquisa etc. -, optou pela via da difamação, da incompetência e do abandono, com a cumplicidade de importantes instituições públicas e privadas, e de parte significativa da elite colonizada deste país.

O preço a pagar por tanto desmonte e destruição é incalculável e as perdas serão sentidas por gerações presentes e futuras. Pesquisas serão prejudicadas e nossa memória – já precária, lacunar e distorcida por séculos de injustiça e crimes – sofrerá com mais esta cicatriz. No entanto, nem a ciência, nem a cultura, nem a arte de um povo podem ser queimadas pelo fogo ou esmagadas pela violência. Elas são muito maiores e muito mais poderosas que os vermes que por ora governam um país. Eles passarão, mas a cultura, a ciência e a arte, estas resistirão, pois ultrapassam e transcendem a matéria: elas habitam nossa alma.

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Nem o fogo apagará nossa memória

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