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Ficha do Proponente

Proponente

Andrea Vicente Toledo Abreu (PUC-Rio)

Minicurrículo

Doutoranda em Educação pela PUC-Rio, onde é bolsista CAPES/PROEX, com doutorado-sanduíche no Programa de Pós-Graduação Memória: Linguagem e Sociedade na UESB. Mestre em Ciências Sociais pela UFJF. Graduada em Letras e Pedagogia. Integrante do GRUPEM – Grupo de Pesquisa Educação e Mídia (PUC-Rio). Professora e pesquisadora na UEMG. Possui experiência na educação básica, na formação de gestores e de professores, e na promoção da inclusão digital, do audiovisual na educação e da leitura.

Coautor

Rosalia Duarte (PUC-Rio)

Ficha do Trabalho

Título

Trajeto de cinema em Cataguases: encontros, relações e aprendizados

Resumo

Este estudo busca refletir sobre os fatores sociais, culturais e contextuais que contribuíram para a estruturação do Polo Audiovisual de Cataguases considerando as redes de relações intergeracionais estabelecidas em torno do aprender/ensinar cinema, tendo como como ponto de partida Humberto Mauro e o Ciclo de Cinema de Cataguases. Foi possível relacionar essa história, as continuidades e os processos estabelecidos entre pessoas com interesses em recolocar a cidade no cenário do cinema nacional.

Resumo expandido

O aprendizado não é algo que se restringe ao território dos espaços formais e institucionalizados. Trata-se de um processo construído em todo canto e lugar, a todo momento, durante toda a vida, no interior do qual se configuram redes de relações interpessoais de compartilhamento de saberes. Este trabalho, resultado parcial de pesquisa de doutoramento, articula elementos empíricos e teóricos na compreensão de experiências informais e intergeracionais de construção de conhecimentos, que têm a educação para e pelo cinema como eixo central.
Tendo como referência a tradição de estudos que analisam as relações entre cinema e educação, consideramos importante entender como se configurou, em Cataguases, uma tradição histórica de educação não formal pelo e para o cinema. O ciclo de cinema de Cataguases, uma das primeiras iniciativas institucionais de produção cinematográfica no país, teve impacto significativo na constituição das bases originais do cinema brasileiro não somente por instituir certo modo de fazer cinema, mas também por criar formas de reunir pessoas, de diferentes origens, interesses e perspectivas, em torno da atividade de criação e difusão de obras cinematográficas. Buscamos identificar e analisar possíveis relações entre as experiências, memórias e formas de transmissão de saberes gestadas por essas pessoas, e a criação, contemporânea, de um polo de produção audiovisual, em Cataguases, com objetivos educativos.
O estudo busca compreender a configuração do Polo Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais (criado em 2010) frente ao Ciclo de Cinema de Cataguases (década de 1920) e as interfaces, correlações, intercessões, interferências entre eles. Buscamos estabelecer elementos comuns entre duas experiências aparentemente distintas, que se interconectam. Para isso, formalizamos e teorizamos conexões entre elas por meio de entrevistas, de documentos do Polo, de matérias jornalísticas e de publicações acadêmicas e literárias que abordam a vida e a obra de Humberto Mauro. O material produzido, referente à herança cultural de Mauro e às interconexões entre o Ciclo de Cinema de Cataguases e a criação (e os criadores) do Polo Audiovisual foi analisado à luz das obras e perspectivas teóricas de Norbert Elias (1994, 2001, 2006) e de Pierre Bourdieu (1996, 2007a, 2007b). Tais fundamentos estão relacionados à sociologia dos processos sociais, de longa duração, que toma a convivência humana como fonte primária das aprendizagens. Elias (1994) explica que cada indivíduo nasce em um grupo de pessoas que já existiam antes dele e precisa deles para crescer. Além disso, necessita da presença simultânea de outras pessoas inter-relacionadas para aprender e se desenvolver. O embasamento nesses autores possibilita analisar dinâmicas espaço-temporais, de constituição de configuração ou de figuração, em Cataguases, e como essa condição cultural foi estruturando as possibilidades de continuidade. Existe uma história de aprendizados que precede e dá suporte ao Polo.
Podemos afirmar que o legado de Mauro se fez presente nas decisões tomadas em relação ao desenvolvimento da cidade e à escolha da cultura como um dos pilares da economia local, tendo o cinema como eixo central. As condições de possibilidade que viabilizaram essa escolha, estão relacionadas com as trajetórias e os aprendizados intergeracionais. Uma rede de pessoas diferentes, com formações diferentes, vindas de lugares diferentes, encontrou em Cataguases um ponto comum que configurou outras redes, agregando outras pessoas em torno do cinema. Cada uma delas teve/tem uma função específica e um trabalho que contribuiu/e para a constituição e permanência do Polo Audiovisual. Certamente essa estruturação em uma cidade que não tivesse vínculos históricos, afetivos e formativos com o cinema ficaria mais difícil de se realizar. O trabalho pretende mostrar o modo como esses vínculos foram estabelecidos e transmitidos entre gerações.

Bibliografia

BOURDIEU, P. As Regras da Arte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
____ Escritos de Educação. NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. (Orgs.). Editora Vozes. Petrópolis. 2007a.
____ A Miséria do Mundo. Petrópolis: Vozes, 2007b.
ELIAS, N. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1994.
____A Sociedade de Corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2001.
____ Escritos & Ensaios: estado, processo, opinião pública. (Vol. I). NEIBURG, Frederico; WAIZBORT, Leopoldo (Orgs.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2006.

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