Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabio Silvestre Cardoso (UAM)

Minicurrículo

    Doutor em comunicação e cultura no Prolam/USP, mestre em comunicação contemporânea pela Universidade Anhembi Morumbi e Pesquisador de cinema brasileiro, com ênfase na produção documental, tendo estudado as intersecções entre cinema e crítica de cultura na obra do cineasta Sérgio Bianchi e do crítico Roberto Schwarz.

Ficha do Trabalho

Título

    A direita vai ao cinema: uma análise de 1964: entre Armas e Livros

Resumo

    Lançado em 2019, o documentário “1964: entre armas e livros” lança um olhar revisionista sobre a história brasileira, com ênfase para o período da ditadura militar, que esteve em vigor entre 1964 e 1985. A obra foi produzida pelo site Brasil Paralelo e conta com depoimentos e entrevistas de jornalistas, historiadores e escritores. O objetivo do trabalho é analisar em que medida essa obra se encaixa numa perspectiva narrativa maior, de contestação do consenso sobre a História brasileira.

Resumo expandido

    Na esteira de outras produções audiovisuais recentes, o documentário “1964: entre armas e livros” oferece aos espectadores a oportunidade de perceber uma outra versão da História brasileira, com ênfase no golpe civil-militar de 1964, que depôs o presidente João Goulart e que fez com que os generais ocupassem o poder durante 21 anos. Diferentemente de outras obras do gênero e temática, este documentário apresenta uma narrativa que traz depoimentos, entrevistas e análises de historiadores que abrem espaço para outra narrativa do período, a saber: uma vez que o mundo vivia sob a disputa deflagrada pela Guerra Fria, as lideranças que estavam no poder se mobilizavam para colocar em marcha a implantação do regime comunista no Brasil, quase três décadas depois da Intentona Comunista. Nesse sentido, “1964: entre armas e livros” não apenas refuta os argumentos consagrados pela narrativa oficial, como também apresenta uma própria versão dos acontecimentos daquele período, fundamentando-se em documentação e também em relatos que colocam em xeque a versão majoritariamente apresentada ao longo dos últimos 30 anos. Levando em consideração as características da apresentação de um seminário, o objetivo deste trabalho é, de um lado, analisar em que medida essa obra se encaixa numa perspectiva mais ampla, de contestação do consenso sobre a História brasileira; e, de outro, atentar para os possíveis impactos dessa produção em se estabelecer como um relato que consegue alcançar o objetivo de formar um repertório em defesa do golpe civil-militar na contemporaneidade. É importante frisar que, antes de “1964: entre armas e livros”, outras produções disputaram o imaginário sobre a história recente do país, como “Polícia Federal: a lei é para todos”, o filme mais visto de 2017, e a série “O Mecanismo”, que faz parte do catálogo da Netflix. Sem o mesmo impacto em termos de audiência e recepção da crítica, o filme “Real: o plano por trás da história” também buscou recuperar uma imaginação sobre a História do país tomando como eixo a visão daqueles que não teriam sido reconhecidos como os responsáveis por evitar um colapso econômico no país. Embora abordando temas distintos, não há dúvida de que a produção audiovisual brasileira passou a receber outros atores, que se esmeram em construir também uma versão dos acontecimentos. Em que medida é possível articular essas produções? De que maneira essas filmes, em especial o documentário 1964: entre armas e livros, têm lançado mão dos mesmos recursos estéticos para contar as suas versões dos acontecimentos? Longe de apresentar respostas definitivas, o seminário se estrutura no sentido de levantar hipóteses e buscar caminhos para entender os riscos e as oportunidades que se apresentam com esses filmes.

Bibliografia

    LINS, Consuelo; MESQUITA, Claudia. Filmar o real. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

    MIGLIORIN, Cezar (org.). Ensaios no real: o documentário brasileiro hoje. RJ: Azougue Editorial, 2010.

    RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal o que é mesmo documentário? São Paulo: Ed. Senac, 2008.

    RAMOS, Fernão Pessoa. Teoria contemporânea do cinema. vol II. São Paulo: Ed. Senac, 2005.