Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Gustavo Soranz (Ceuni-Fametro)

Minicurrículo

    Doutor em multimeios pela Unicamp. Coordenador do curso de Jornalismo do Ceuni Fametro (AM). Graduado em Rádio e TV e mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia. Publicou artigos sobre cinema na Amazônia, documentário e o verbete Brazil, na Encyclopedia of Documentary Film, editada em 2006. É membro do Núcleo de Antropologia Visual da Universidade Federal do Amazonas (NAVI/UFAM) e do Centro de Pesquisas em Cinema Documentário da Unicamp (CEPECIDOC).

Ficha do Trabalho

Título

    Ex-pajé e as modulações no documentário

Resumo

    Apresentamos uma análise do filme Ex-Pajé, que tem como personagem Pepera Suruí, um antigo pajé que renegou sua cultura e abdicou de sua posição de curador em nome de valores impostos pela evangelização. Pretendemos evidenciar como o filme se constrói na modulação entre dualidades estéticas, como a observação e a encenação, a fotografia panorâmica e o desenho de som, o campo e o extra-campo, para representar a vida de um homem e uma cultura divididos entre dois mundos.

Resumo expandido

    No filme Ex-Pajé (2018) o diretor Luís Bolognesi mostra a história de Pepera Suruí, um antigo pajé de uma aldeia Suruí de Rondônia, que abdicou de seu papel de líder e curador espiritual da tribo em nome de valores impostos pela evangelização que passou a influenciar a vida na comunidade. Após décadas de intensa aculturação, somos apresentados a uma comunidade onde as marcas desse processo são visíveis no cotidiano da comunidade, ao passo em que acompanhamos um processo de retomada dos valores culturais tradicionais e questionamento dos valores religiosos impostos pelas missões evangelizadoras. Nossa análise vai enfocar em como as estratégias de abordagem adotadas pelo documentarista reúnem uma série de recursos em chave dual, que são modulados de modo a compor um filme que se constrói entre o registro observacional e a encenação, em um dispositivo tanto de documentação por parte da equipe do filme quanto de autoficção por parte dos indígenas. O filme se destaca por sua estética elaborada. A fotografia do filme é cuidadosamente composta, com movimentos controlados de entrada e saída de quadro, ao passo em que o desenho de som apresenta uma elaboração sutil e sofisticada, de modo que o mundo visível e o mundo invisível, o mundo físico e o mundo espiritual, o campo e o extra-campo, se conjugam na representação de uma vida e de uma cultura cindidas entre dois mundos.
    Em nossa análise, o conceito de modulação indica como o filme estrutura sua narrativa entre o registro documental e o registro (auto)ficcional, sendo que ambos se imbricam e se modificam mutuamente, resultando em um filme que se constrói na fronteira entre esses domínios cinematográficos, operando passagens de idas e vindas que acabam por construir uma unidade que se dá nessa relação entre o (auto)ficcional e o documental, não entre um ou outro de modo separado, mas exatamente naquilo que se situa na passagem entre um e outro, na mistura entre eles.

Bibliografia

    AUSTIN, Thomas & JONG, Wilma. (Orgs.) Rethinking Documentary: new perspectives, new practices. McGraw Hill Open University Press, 2008.
    CARREIRO, Rodrigo (Org.) O som do filme: uma introdução. Curitiba: Ed. UFPR: Ed. UFPE, 2018.
    COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder: a inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.
    RENOV, Michael. The Subject of Documentary. University of Minnesota Press, 2004.