Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    RAFAEL ROSINATO VALLES (UFPEL)

Minicurrículo

    Docente na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGCOM/PUCRS). Foi bolsista da CAPES (2014-2018) durante o doutorado e realizou Doutorado Sanduíche (PDSE-CAPES), no Departamento de Periodismo y Comunicación Audiovisual, na Facultad de Humanidades, Comunicación y Documentación, na Universidad Carlos III de Madrid, Espanha. Mestre em Cinema Documentário pela Fundación Universidad del Cine (FUC/Argentina).

Ficha do Trabalho

Título

    La Generación del 60 e o legado da obra teórica de Simón Feldman

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    A trajetória cinematográfica de Simón Feldman foi marcada tanto pelos filmes que realizou, como pela sua obra teórica e atuação acadêmica. Ao publicar o livro “La Generación del 60” (1990), ele conseguiu unir os seus primeiros passos como realizador e a reflexão sobre o legado de uma geração que aportou novos enfoques temáticos, estilísticos e técnicos ao cinema argentino. Neste trabalho, buscaremos analisar como ele procurou relacionar a sua atuação como cineasta, em relação a sua obra teórica.

Resumo expandido

    Simón Feldman (1922-2015) foi um cineasta que construiu uma obra que esteve diretamente vinculada ao novo cinema argentino que despontou entre fins dos anos cinquenta e início dos anos sessenta. Autor de filmes como “El negoción” (1959) e “Los de la mesa 10” (1960), Feldman – em conjunto com autores como Manuel Antín, Rodolfo Kuhn, José Martínez Suárez, Fernando Birri, Leonardo Favio, entre outros -, foram responsáveis por aportar novos enfoques temáticos, estilísticos e técnicos ao cinema argentino. Conhecidos como La Generación del 60, esses realizadores – que não buscaram propriamente construir um movimento -, acabaram rompendo com os modos de produção atrelados aos cinemas de estúdio que predominavam no cinema argentino desde a década de trinta.
    No caso de Feldman, além de pertencer a essa geração, também é necessário assinalar uma outra particularidade. Sua atuação no âmbito cinematográfico não se restringiu a dirigir filmes. Com o passar dos anos, ele também consolidou uma reconhecida trajetória acadêmica, tanto pelas atividades e cargos que ocupou, como também pelos livros que escreveu. É o caso de obras como “Realización cinematográfica – Análisis y Practica”, “Director de Cine – técnicas y herramientas”, entre outros, que buscaram transpor para a teoria, a concepção cinematográfica que ele possuía sobre os ofícios de diretor e roteirista.
    No ano de 1990, Feldman buscou escrever um livro que não somente fez um resgate histórico sobre a geração ao qual pertenceu, mas que também proporcionou uma reflexão sobre o legado dessa geração para a história do cinema argentino. Ao analisar os fatores para a ascensão destes cineastas, as características bastante heterogêneas que cada realizador possuía nas suas origens e nas propostas estilísticas e temáticas dos seus filmes, “La Generación del 60” procura abarcar uma diversidade de fatores que afirmaram esse período do cinema argentino.
    Além disso, Feldman também procurou aportar uma reflexão sobre o sentido dessa obra ter sido escrita “por alguém que participou em toda a trajetória dessa geração”, o que possibilita, segundo o autor, “a originalidade de preparar um material em primeira mão” (Feldman, 1990, p.09, trad. nossa). Ele questiona se a história do cinema contada pelos livros não seria uma “história ‘escrita’ do cinema”, na medida em que muitos dos livros até então publicados não possuíam a fonte direta dos cineastas e profissionais relacionados a realização dos filmes. Como Feldman afirma, “a visão direta é substituída então por textos, crônicas e juízos que (…) servem de segunda mão para os investigadores” (Feldman, 1990, p.08, trad. nossa). “La Generación del 60” acaba se tornando assim um livro que reivindica um entendimento sobre a teoria dos cineastas.
    Mesmo não sendo um relato escrito em primeira pessoa, Feldman reivindica a sua posição nesse contexto. Através do distanciamento histórico, assume um conhecimento de causa sobre as conquistas e os fracassos dessa geração de cineastas, assim como aponta caminhos para entendermos como o novo cinema argentino realizado a partir de fins dos anos noventa possuí muitos pontos em comum com essa geração de cineastas. Ler “La Generación del 60” é também identificar de que forma filmes como “Pizza, birra e faso” (Caetano; Stagnaro, 1998) e “Mundo Grua” (Trapero, 1999), resgataram questões temáticas e estilísticas que foram trabalhadas trinta anos antes pela geração de Feldman.
    É a partir dessas e outras questões, que buscaremos analisar como o livro “La Generación del 60” é importante não somente como documento histórico sobre um período na história do cinema argentino, mas sobretudo como um documento que reflete uma relação entre a práxis cinematográfica e a teoria, a partir de um autor que transitou continuamente por ambos caminhos.

Bibliografia

    BERNINI, Emilio. Ciertas tendencias del cine argentino – Notas sobre el “nuevo cine argentino” (1956-1966). Revista Kilometro 111.
    ESPAÑA, Claudio (comp.). Cine argentino – Industria y clasicismo 1933/1956. Buenos Aires: Fondo Nacional de las Artes, 2000.
    _______________Cine argentino – Modernidad y vanguardias 1957/1983 (Vol. 01). Buenos Aires: Fondo Nacional de las Artes, 2000.
    _______________Cine argentino – Modernidad y vanguardias 1957/1983 (Vol. 02). Buenos Aires: Fondo Nacional de las Artes, 2000.
    FELDMAN, Simón. La generación Del 60’. Buenos Aires, Editorial Legasa, 1990.
    PEÑA, Fernando Martin (Ed.). Generaciones 60/90. Cine argentino independiente. Buenos Aires: Fundación Eduardo F. Costantini, 2003.
    VALLES, Rafael. Fotogramas de la memoria – Encuentros con José Martínez Suárez. Buenos Aires: ENERC/INCAA, 2014.
    WOLF, Sergio (comp.). Cine Argentino: la otra historia. Buenos Aires, Letra Buena, 1992.