Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Janaína Oliveira (IFRJ)

Minicurrículo

    Pesquisadora e curadora, Janaína Oliveira é doutora em História, professora no IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro – Campus São Gonçalo), e Fulbright Scholar no Centro de Estudos Africanos na Universidade de Howard, em Washington D.C. nos EUA. Atualmente é curadora do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul (RJ) e também consultora de filmes da África e da diápora negra para o Festival Internacional de Locarno (Suíça). É idealizadora do FICINE, Fórum Itinerante de Cinema Negro.

Ficha do Trabalho

Título

    Por uma estética opositiva: cinema negro e o conceito de Blackness

Seminário

    Cinema Negro africano e diaspórico – Narrativas e representações

Resumo

    Historicamente as definições sobre o que é cinema negro não são uníssonas. No centro das discussões está o conceito de Blackness, traduzido por vezes por negritude ou experiência negra. O presente trabalho é continuação de pesquisa que se propõe a ir além das análises contextuais que tradicionalmente abordam o tema e refletir sobre as cinematografias negras em um diálogo interno com as manifestações culturais negras e a afirmação de uma estética própria e opositiva.

Resumo expandido

    De um modo geral compreende-se o surgimento e desenvolvimento das cinematografias em paralelo às lutas históricas dos movimentos negros, ao demandarem por mudanças na representatividade negra dentro e fora das telas de cinema. Foi assim nos Estados Unidos, quando pela primeira vez realizadores negros passaram a produzir contra-representações às formas hegemônicas que Hollywood construía os personagens negros no cinema. Quando, por exemplo, Oscar Micheaux em 1920 realizou Nos limites dos portões (Within our gates) uma espécie de resposta cinematográfica às representações racistas em O nascimento de uma nação de D.W. Griffith, primeiro blockbuster da história do cinema estadunidense lançado em 1915. Ou ainda quando em meados dos anos 1980 na Inglaterra o Black Audio Film Collective iniciou seus trabalhos já numa dimensão de vanguarda, apresentando slides e filmes na universidade, museus, galerias de arte e cinemas, rompendo simultaneamente tanto com os estereótipos nas representações dos negros, como a forma de narrar e os espaços onde tradicionalmente se encontravam as imagens em movimento. Tratava-se de “construir uma imagem adequada, uma imagem verdade e intimidade, envolvia declarar guerra à própria máquina-imagem, pois o padrão das configurações do cinema era antiético – e mesmo hostil – à própria possibilidade de cinema negro” dizia o cineasta ganense radicado na Inglaterra John Akomfrah.

    No intuito de compreender e ampliar o debate do campo, o trabalho ora proposto pretende dar continuidade à pesquisa iniciada em 2018, cuja a primeira etapa foi apresentada no último Encontro da SOCINE, e que se propõe a ir além das análises contextuais que tradicionalmente abordam o tema e explorar a possibilidade de entender as cinematografias negras em uma perspectiva voltada para o diálogo interno entre as representações e manifestações culturais negras e a afirmação de uma estética negra e opositiva. A intenção aqui é refletir sobre a construção de uma estética que, mesmo surgida em diálogo e oposição às estéticas hegemônicas e, por extensão, eurocêntricas, possam ser compreendidas e ampliadas de maneira horizontal a partir de experiências culturais negras, tendo como ponto centro uma reflexão sobre o conceito de Blackness.

    Nesse sentido concordamos com bell hooks quando ela nos provoca dizendo: “Nós pensamos sobre a nossa pela como uma sala escura, um lugar de sombras. Nos falamos com frequência sobre as políticas cor e a forma como racismo criou uma estética que nos machuca, uma forma de pensar sobre a beleza que dói. Nas sombras tarde de noite, nós falamos sobre a necessidade de ver a escuridão de uma forma diferente, de falarmos disso de uma nova maneira. Naquele espaço de sombras nos esperamos por uma estética da negritude – estranha e opositiva.” Portanto, quais seriam as dimensões estéticas presentes nos filmes negros? É possível estabelecer linhas ou temas comuns às narrativas fílmicas negras que assistimos contemporaneamente nas telas? Em que medida elas dialogam com as manifestações culturais negras e outras referências dos cinemas da África e também da diáspora? São estes alguns dos questionamentos que orientam a pesquisa mais ampla da qual o trabalho proposto aqui faz parte.

Bibliografia

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