Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    moema pascoini (UFMG)

Minicurrículo

    Professora substituta do curso de cinema da UFS, doutoranda em Artes (linha: cinema) pela UFMG e mestre em Imagem e Som pela UFSCAR. É também formada em Direção de Fotografia e em Documentário pelo Centro de Formação Profissional do Sindicato da Indústria Cinematográfica Argentina (C.F.P del SICA).
    Realiza pesquisas sobre a bitola super-8 e enquanto profissional da área de audiovisual trabalha com cinema e televisão.

Ficha do Trabalho

Título

    A apropriação do super-8 por mulheres nordestinas nos anos 70 e 80.

Resumo

    Esta apresentação deseja lançar luz sobre o cinema superoitista realizado por mulheres no nordeste entre os anos de 1970 e 80. Pretende-se analisar a maneira como essas mulheres se movimentaram em um meio predominantemente masculino e como o super-8 serviu como ferramenta de acesso à criação cinematográfica, possibilitando a expansão da condição de expectadora ou de personagem para a de realizadora. Como estudo de caso, utilizaremos o curta-metragem O Beijo (Dir: Ilma Fontes; Yoya Wurcsh, 1980).

Resumo expandido

    O suporte fílmico denominado super-8 corresponde a uma evolução técnica da bitola 8mm. A largura da película foi mantida, mas o tamanho das perfurações laterais foi reduzido, permitindo dessa forma, o aumento da área dedicada à fixação da imagem (frame) e a consequente melhoria da qualidade desta última. Foi acrescentado, também, um espaço para uma pista magnética que permitiu a gravação simultânea do som, dispensando a necessidade de um equipamento extra para a captação direta de áudio. A nova bitola foi lançada longe dos holofotes da produção do cinema profissional e surgiu no mercado em 1965, com o objetivo de servir a fins domésticos.
    Rapidamente, no entanto, uma apropriação experimental desse suporte foi realizada para a utilização em filmagens de curtas-metragens, documentários e intervenções. Dessa forma, artistas plásticos, estudantes, adolescentes, militantes políticos e tantas outras figuras passaram a utilizar o super-8 e se viram na posição do registro e da criação.
    No nordeste brasileiro desenvolveu-se um ciclo de cinema superoitista alimentado por cineclubes e festivais dedicados à bitola. Como amostragem inicial, podemos verificar que entre os 92 filmes catalogados pelo Núcleo de Documentação Cinematográfica da Universidade Federal da Paraíba (NUDOC) , 21 foram dirigidos ou co-dirigidos por mulheres, o que nos mostra que a participação feminina era menor que a masculina, sem deixar de ser, no entanto, numericamente relevante. Nesse sentido é interessante notar como a apropriação do super-8, permitiu às mulheres a saída da condição de personagem ou expectadora (inclusive em filmes familiares, onde o uso da câmera está ligado à figura masculina) para a de realizadora, assumindo assim, autonomia frente às suas criações e revelando, através delas uma relação entre o seu universo pessoal e o contexto social no qual estavam inseridas.
    Realizadores superoitistas nordestinos como Edgard Navarro (Bahia), Torquato Joel (Paraíba), Paulo Bruscky ou Jomard Muniz de Britto (Pernambuco) são de maneira justa e acertada estudados e discutidos, porém o mesmo não se dá com realizadoras como Jane Malaquias (Ceará), Ilma Fontes (Sergipe) ou Elisa Cabral (Paraíba), por exemplo. Seriam os seus filmes considerados menos importantes? Conforme analisado por Machado e Campos (2017), esse vácuo dentro dos estudos superoitistas é resultante de uma postura teórica de desvalorização em relação ao cinema realizado por mulheres, como também um reflexo da subordinação à qual a mulher é submetida no momento de produção desses filmes.
    Acredita-se aqui que as obras fílmicas realizadas por mulheres nordestinas ainda não possuem suficiente espaço de reflexão e aprofundamento teórico dentro da academia e que essa problemática é ainda mais aguçada em relação aos filmes realizados em super-8. Dentro deste recorte, para esta apresentação, será feita uma análise do filme sergipano “O Beijo” (7min,1980), das realizadoras Ilma Fontes e Yoya Wursch.

Bibliografia

    GUBERNIKOFF, Giselle. Cinema, identidade e feminismo. São Paulo: Editora Pontocom, 2016.
    HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs.). Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro. Campinas: Papirus, 2017.
    KAPLAN, E. Ann. A mulher e o cinema: os dois lados da câmera. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
    MACHADO JÚNIOR, Rubens L. R.; CAMPOS, Marina da Costa. Protagonismos experimentais femininos no surto superoitista dos anos 1970. In: HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs.). Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro. Campinas: Papirus, 2017.
    MORENO, Djaldino Mota. Cinema Sergipano: Catálogo de Filmes. Aracaju: Conselho Estadual de Cultura, 1984. 119 p.
    MULVEY, Laura. Prazer Visual e cinema narrativo. In: XAVIER, Ismail (org). A Experiência do Cinema: antologia. Rio de Janeiro: Edições Graal; Embrafilme,1983, p.437-453.
    ZIMMERMANN, Patricia; ISHIZUKA, Karen. Mining the home movies: excavations in histories and memories. University of California Press, 2008.