Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Gabriela Santos Alves (UFES)

Minicurrículo

    Professora do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós graduação em Comunicação e Territorialidades da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Brasil. Pós doutora em Comunicação e Cultura (Eco/UFRJ). Realizadora audiovisual, atua como roteirista, diretora, curadora e cineclubista. Áreas de interesse acadêmico: cultura audiovisual, teoria feminista, cinema, memória e gênero. E-mail: gabriela.alves@ufes.br.

Ficha do Trabalho

Título

    C(elas): claustros femininos e maternagem no ambiente prisional

Resumo

    O objetivo desta proposta é tratar do processo de realização do curta-metragem C(elas), documentário que trata da relação entre maternidade e sistema prisional no Brasil a partir da experiência e do encontro entre uma equipe de set constituída exclusivamente por mulheres e mulheres em situação de privação de liberdade na ala materno infantil da Penitenciária Feminina de Cariacica, a fim de abordar uma temática importante para a teoria feminista: a maternidade.

Resumo expandido

    Silenciamento e invisibilidade são conceitos centrais da teoria feminista, dada suas potencialidades de desconstrução e ressignificação de práticas culturais e de papeis sociais de gênero, contribuindo para a construção de uma memória social feminina, no cinema e audiovisual ou nos demais campos do conhecimento. Nesse universo, julgo importante destacar duas ausências femininas: a das mulheres em situação de privação de liberdade e a das mulheres que roteirizam e dirigem filmes. Segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), a partir de um levantamento inédito no Brasil, das 2.583 obras audiovisuais registradas na agência em 2016 apenas 17% foram dirigidas e 21% roteirizadas por mulheres, embora mais da metade da população brasileira seja feminina. Além disso, mostra que mulheres negras não dirigiram ou roteirizaram um filme sequer entre os de maior bilheteria no período de 1995 a 2016, o que significa que o olhar que contribuirá para a formação do imaginário coletivo das futuras gerações no Brasil será o do homem (Ancine, 2017).
    Na contramão desse cenário há produções audiovisuais brasileiras que investem não só na formação de equipes majoritariamente femininas, com mulheres ocupando cargos de direção e roteiro mas, especialmente, em narrativas que focam suas abordagens em temas femininos e/ou feministas, trazendo a figura da mulher, literalmente, para o primeiro plano, com personagens mulheres tratando de assuntos comuns ao seu universo e narrando suas próprias experiências. Nesse cenário, o objetivo desta proposta é tratar do processo de realização do curta-metragem C(elas), documentário que trata da relação entre maternidade e sistema prisional no Brasil a partir da experiência e do encontro entre uma equipe de set constituída exclusivamente por mulheres a fim de abordar uma temática importante para a teoria feminista, a maternidade, e em um ambiente específico: a ala materno infantil da Penitenciária Feminina de Cariacica, localizada no estado do Espírito Santo, Brasil. O roteiro do documentário, bem como sua direção, foram realizados por mim.
    Desse encontro entre mulheres, especialmente a partir de suas conversas, o filme foi realizado. Para a equipe, ouvir as mulheres grávidas e/ou com filhos recém-nascidos foi a principal ação – o que essas mulheres em situação de privação de liberdade tinham a dizer? O dado que impulsionou a escrita do argumento e do projeto do filme foi o crescimento alarmante e contínuo da população prisional feminina no Brasil nos últimos quinze anos, que foi de 567,4%. Sobre a temática da maternidade na prisão, ela tem sido presente em meus estudos desde 2014, quando a partir das reflexões sobre feminismo e violência contra a mulher me deparei com o altíssimo e crescente número de mulheres encarceradas no Brasil. O tema, então, passou a ser o objeto central de minha pesquisa acadêmica, cujo projeto de pesquisa se intitula Clausuras — territórios e sentidos dos claustros femininos, e também de minha produção artística, na realização de documentário e roteiros que tratam da temática. O objetivo, nos próximos anos da pesquisa acadêmica e artística, é refletir sobre territórios e sentidos de outros claustros femininos, institucionalizadas ou não, em ambientes além da penitenciária, como o hospital psiquiátrico, o espaço urbano e o espaço doméstico, a partir das categorias mães, donas de casa, loucas, santas, putas, histéricas, drogadas e presas.

Bibliografia

    DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas? Trad.: Marina Vargas. Rio de Janeiro: Difel, 2018.
    FALUDI, Susan. Backlash: o contra-ataque na guerra não declarada às mulheres. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
    HOOKS, Bell. El feminismo es para todo el mundo. Trad.: Mapas. Madrid: Traficantes de sueños, 2017.
    HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs). Feminino e Plural: mulheres no cinema brasileiro. Campinas, SP: Papirus, 2017.
    JAGGAR, Alison, BORDO, Susan. Gênero, corpo, conhecimento. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2017.
    LAGARDE Y DE LOS RIOS, Marcela. Los cautiverios de las mujeres: madresposas, monjas, putas, presas y locas. 5ª edição. México, D.F.: Siglo XXI, UNAM, 2014.
    MONTERO GARCIA-CELAY, Maria Luisa, NIETO NAVARRO, Mariano. El patriarcado: una estrutura invisible. Julho de 2002. Disponível em: , acesso em: 23/06/2017.