Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernanda Bernardes (UFRGS)

Minicurrículo

    Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente minha pesquisa está voltada para a análise do texto em webdocumentários, procurando identificar e compreender elementos literários no gênero para web. Mestra em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Graduada em jornalismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Ficha do Trabalho

Título

    Dada-data: Interações entre um webdocumentário e a arte inespecífica

Resumo

    Webdocumentários são obras que tratam do mundo histórico que exibem relação com a tradição de documentários e são desenvolvidas para distribuição e fruição na Web. Essas obras podem combinar elementos como: texto escrito, ilustrações, fotografias, vídeos, áudio, sistemas de gerenciamento de banco de dados, entre outros. Propomos a leitura de Dada-data, webdocumentário que celebra os 100 anos do dadaísmo, sob a ótica da arte inespecífica, baseada numa prática de deslocamento do pertencimento.

Resumo expandido

    “Nós deveríamos fazer toda arte, literatura e cinema livres. O meio não importa, assim como nós. Apenas a composição é essencial. Peguem qualquer material.” (Tradução livre nossa).

    O movimento dadaísta abrigou artistas com produções consideravelmente diversas, incluindo poetas, pintores, fotógrafos, escultores. Esse grupo, ainda que heterogêneo, apresentava preocupações em comum. Entre elas o excessivo distanciamento entre a arte e a vida cotidiana e o domínio do interesse capitalista, tanto como força destrutiva na sociedade, quanto como forma de controle sobre a produção artística. A criação disruptiva, que ressignificava objetos e questionava padrões tradicionais da arte, foi uma das formas empregadas pelos dadaístas para suscitar questionamento. Artistas alemães, como Hausmann, Höch, Grosz e Heartfield (HOPKINGS, 2004), produziram imagens satíricas através da justaposição de recortes de jornais e fotografias. Objetos industrializados e utilitários serviram de matéria prima para os readymades, popularizados por Marcel Duchamp. Bicycle Wheel, de 1913, é composto por uma roda de bicicleta e um banco. De acordo com Duchamp, a fabricação do objeto é irrelevante, o que importa é a escolha, o está por trás da criação é o ato de selecionar o item, retirá-lo de seu contexto e propor um novo pensamento em torno desse material.
    Dada-data presta homenagem aos dadaístas apresentando apropriações e ressignificações para obras e ideias do movimento. O webdocumentário é composto de manifestos, vídeos realizados no Cabaret Voltaire, animações narrando eventos de personagens históricos do movimento, ilustrações das obras, fotomontagens geradas com a colaboração dos usuários e readymades feitos por impressoras 3D. O webdocumentário reúne registros de eventos, cria novas leituras a partir das falas e obras do século XX, apresenta um posicionamento político frente ao contexto atual e convida o usuário a participar desse conjunto de ações. Ao analisar Frutos Estranhos, de Nuno Ramos, Garramuño (2014) afirma que mais do que cruzar meios diversos, é produzida a combinação de diferentes mundos de referência. Dada-data desdobra-se de forma semelhante, pois não há trajeto específico para percorrer a obra, mas um conjunto de recursos e seus desdobramentos.
    Rancière (2011) propõe que as intersecções entre arte e tecnologia podem promover a indiferenciação de meios e a desespecificação da arte. A inespecificidade da arte, para ele, relaciona-se com uma condição de neutralidade, fruto da libertação de especificidades impostas pela tecnologia e dos encontros de diferentes materiais e tipos de arte. Nestas condições, cria-se um meio específico da experiência. Procuramos observar Dada-data de acordo com essa leitura, encontrando intersecções entre a tradição do cinema documentário, o museu de arte e a fruição participativa da web.

Bibliografia

    DADA-DATA. [S.l.], 2016. Disponível em: . Acesso em: 11 ago. 2018.

    DUCHAMP, Marcel. Apropos of “Readymades”. [S.l.], 1961. Disponível em: . Acesso em: 11 ago. 2018.

    GAY, Peter. Modernismo: O Fascínio da Heresia – De Baudelaire a Beckett e mais um pouco. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

    GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecifidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

    HOPKINS, David. Dada and Surrealism: A Very Short Introduction. New York: Oxford University Press Inc., 2004.

    MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Cambridge: MIT Press: 2001.

    MICHAUD, Philippe Alain. Filme: Por uma teoria expandida do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.

    RANCIÈRE, Jacques. What medium can mean. Parrhesia, v. 11, p. 35-43, 2011.