Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Bruno Saphira Ferreira Andrade (UniJorge)

Minicurrículo

    Bruno Saphira é doutor pelo Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação-UFBA. Atua como professor de cinema documentário e realização audiovisual no Centro Universitário Jorge Amado (UniJorge) e como cineasta/diretor audiovisual. Algumas de suas realizacão são os filmes documentários: Pescadores do Iguape (2004), Mestres Populares da Cultura (2005), Lindeiras (2011), Bumba Boi (2018).

Ficha do Trabalho

Título

    Atos políticos cinematográficos e o golpe de 2016 no Brasil

Resumo

    O presente trabalho pretende discutir a noção de política da imagem, do filósofo Jacques Rancière, através da análise de dois filmes brasileiros, significativamente diferentes, que abordam/encenam o atual contexto político do país. São eles: Era uma Vez Brasília (2017) , de Adirley Queirós e O Processo (2018) de Maria Augusta Ramos.

Resumo expandido

    Períodos históricos em que a violência, institucional e simbólica, assume o protagonismo das relações sociais e politicas aguçam atos de resistência por parte, principalmente, de artistas e intelectuais em uma sociedade. Podemos ver na ordem do dia brasileiro diversas frentes de atuação diante das agressões cotidianas que sofremos desde o fomento ao processo de impeachment/golpe que teve início logo após a eleição que confirmou o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff em novembro de 2014. O cenário é vertiginoso, as reações a ele também.
    No campo do cinema brasileiro destacam-se duas obras que abordam nossa atualidade política a partir de posturas absolutamente diferentes, são elas: Era uma vez Brasília (2017) do cineasta Adirley Queirós e O Processo (2018) da cineasta Maria Augusta Ramos.
    A obra de Adirley acentua sua aposta, já vista em Branco Sai, Preto Fica (2014), de uma narrativa que põe junto a irrealidade distópica de uma ficção científica e um contexto real também absurdo, num diálogo estimulante, improvável, lacunar. Já a obra de Maria Augusta segue os procedimentos, que a cineasta já adota em sua cinematografia, inspirados no movimento do cinema direto norte americano das décadas de 1960 e 1970, cujo um dos fundamentos é o acompanhamento de determinado fenômeno social sem uma interferência direta ou ao menos visível/audível da cineasta. Ramos acompanha as etapas que configuram o golpe/impeachment da presidente Dilma Rousseff, nos mostrando as etapas do processo e formando um mosaico complexo das instâncias e atores que agem nesse fato social de grande impacto e mobilização. Duas posturas bastante distintas que orbitam num mesmo ambiente.
    Esse trabalho se propõe analisar essas duas obras a partir da ideia de uma política das imagens, do filósofo Jacques Rancière, que está atrelada e é de certa forma uma derivação de duas de suas formulações centrais que são o regime estético das artes e as noções de política enquanto dissenso. Apesar do corpus está vinculado fortemente a um contexto da política institucional, a análise parte não da identificação do tema como caracterizador da imagem desses filmes como política.
    A discussão passa por avaliar os “atos cinematográficos” – expressão de certa forma metafórica proveniente do Ato Fotográfico de Dubois – que atravessam essas obras e que chegam até nós não como reorganização de um campo de entendimento do contexto abordado/encenado, e possível prescrição de contraposição a ele, mas como expressões vertiginosas que se inserem numa dinâmica política de rupturas e dissensos. Seria a pretensa não intervenção do cinema direto uma postura organizadora da experiência real do golpe? Há caminhos a seguir no mundo devassado e improvável da ficção-documental-científica de Adirley? Questões que, por hora, estimulam esse trabalho.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. Limites de la fiction: considerations actuelles sur l’état du cinéma. Paris: Bayard, 2014.
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    DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico. São Paulo: Papirus, 1994.
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    GUIMARÃES, Vitor. O Desvio pela ficção: contaminações no cinema brasileiro contemporâneo. In: DEVIRES, v.10 n.2 , 2013.
    MARQUES, Ângela. Política da imagem, subjetivação e cenas de dissenso. In: discursos fotográficos, Londrina, v.10, n.17, p.61-86, jul./dez. 2014
    RANCIÉRE, Jacques. A fábula cinematográfica. Campinas, SP: Papirus, 2013.
    RANCIÉRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34, 2009.
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