Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    André Huchi Dib (UFPB)

Minicurrículo

    Jornalista, pesquisador e crítico de cinema com textos publicados em diversos jornais, livros revistas, sites e catálogos. Mestrando no programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB. Realiza curadorias e oficinas para instituições, cineclubes, mostras e festivais. Membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Membro do Grupo de Pesquisa em Cinema e Audiovisual – Gecine/UFPB. Fundador do movimento #CineRuaPE (Recife, 2015).

Ficha do Trabalho

Título

    VELO-CINE: UMA FÁBRICA DE PROJETORES NO NORDESTE BRASILEIRO

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Entre 1960 e 1980 uma indústria sediada em Pernambuco produziu e reformou mais de uma centena de projetores, equipando e prestando serviços para dezenas de cinemas em capitais e no interior do nordeste, como alternativa ao alto custo de aquisição e manutenção de projetores importados ou originários do sudeste. As relações entre a Indústria Velo-Cine e este circuito de exibição de filmes é o tema desta apresentação, situada no campo da história das mídias e arqueologia do cinema.

Resumo expandido

    Este trabalho traz informações inéditas sobre o que possivelmente seja o único fabricante e montador nacional de projetores a atuar fora da região Sudeste. Ao observar as relações entre a Indústria Velo-Cine e o circuito de exibição e distribuição de filmes no Nordeste entre 1960 e 1980 (período de atuação da fábrica) pretende-se articular temas em torno de mídias analógicas, artes de projeção, memória, cultura e sociedade.

    O surgimento da projeção cinematográfica gravou em matéria fotoquímica o imaginário da vida moderna. O cinematógrafo permitiu, pela primeira vez, a projeção e objetivação de nossos sonhos, fabricados industrialmente e compartilhados coletivamente em espaços singulares de convivência urbana, formadores de sensibilidades e de modos de experimentação conformadores da modernidade – os cinemas de rua.

    Entre 1960 e 1980 a Indústria Velo-Cine produziu, montou, reformou e comercializou mais de uma centena de projetores, facilitando assim o upgrade técnico e a manutenção de cinemas situados em cinco estados: Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Este contexto traz à tona um corpo de técnicos, exibidores, distribuidores e antigos cinemas apontam para um mapeamento que passa prédios em desuso ou com novas finalidades e máquinas e demais objetos pertencentes ou relativos a esses espaços. Assim, revela-se um cenário que, se por um lado se mostra disperso geograficamente, por outro esteve organicamente conectado por um peculiar sistema de distribuição de imagens analógicas – os filmes.

    O inventor dos projetores Velo-Cine se chama Pedro Veloso (1906-1977), que desde quando servia o exército, nos anos 1930, já trabalhava na manutenção de cinemas, e nos anos 1950 se tornou funcionário da Philips, na época uma das maiores fabricantes de projetores do mundo. Assim ele conseguiu decifrar as fragilidades e os pontos fortes dos projetores, peças de maior desgaste, mecanismos com mais defeitos e os mais resistentes. A esse conhecimento, Veloso aliou a habilidade no torno mecânico, o que o possibilitou forjar todos os componentes para construção de seu próprio projetor. O único componente externo eram as lentes, importadas da Alemanha ou Japão. A partir do molde do projetor Philips, Veloso trouxe elementos de outras marcas, possibilitando um modelo próprio, estável, com menos necessidade de manutenção e mais barato do que os oferecidos pelos concorrentes.

    Os primeiros equipamentos de projeção cinematográfica fabricados no Brasil datam dos anos 1930. De acordo com o pesquisador Rafael de Luna (2018), “o advento do filme sonoro na passagem para os anos 1930 que, além de provocar inúmeras mudanças no mercado cinematográfico brasileiro, alavancou o desenvolvimento dessa indústria”. Surgiram assim marcas que por décadas equiparam as cabines de projeção de todo o país: Cinephon, Phonocinex, Cinetom, Solidus, Centauro, Triumpho. “Esse estágio envolve adaptações que, em nosso caso, incluem imitações e simplificações de uma tecnologia importada para atender às demandas dos exibidores brasileiros”.

    Senso de oportunidade e habilidades técnicas foram decisivos para Veloso criar uma fábrica de projetores nos fundos de sua casa, em Olinda. No entanto, a longevidade do empreendimento também pode ser atribuída à compreensão de necessidades próprias do circuito exibidor regional, principalmente nos cinemas do interior, aonde os rolos de celuloide chegavam após rodar nas capitais, não raro em más condições, com muitas emendas e avarias, tornando corriqueiras as sessões interrompidas por conta do rompimento da fita ou de dificuldades na leitura óptica do som ou da imagem. Identificar estas e outras demandas e compreender como elas foram correspondidas por Pedro Veloso e sua fantástica fábrica são questões que este trabalho se propõe a responder.

Bibliografia

    ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. 1ª ed. São Paulo: Editora Sesc, 2018. 320 p.
    FERRAZ, Talitha. A segunda Cinelândia carioca. 2ª ed. Rio de Janeiro: Mórula editorial, 2012. 240 p.
    FREIRE, Rafael De Luna. Cinephon: sobre como o cinema sonoro impulsionou a fabricação de projetores cinematográficos no Brasil. Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento, v. 5, p. 105-125, 2018.
    KITTLER, Friedrich. Mídias ópticas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2016.344p.
    MORIN, Edgar. O cinema ou o homem imaginário: Ensaio de antropologia sociológica. 1ª ed. São Paulo: É Realizações Editora, 2014. 288 p.