Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Míriam Silvestre (UnB)

Minicurrículo

    Doutoranda em História (na área de Ideias, Historiografia e Teoria) pela Universidade de Brasília (UnB) com pesquisa sobre comédias históricas no cinema brasileiro. Mestre em História Social e das Ideias também pela UnB com dissertação sobre a representação do homem caipira nos filmes de Amácio Mazzaropi. Especialista em História e Cultura Afro-Brasileira e Africana pela UFG. Professora de História e de Sociologia da Secretaria de Estado e Educação do Distrito Federal.

Ficha do Trabalho

Título

    Ladrões de cinema (1977) e a carnavalização do filme histórico.

Resumo

    Proponho a discussão sobre o que caracteriza o gênero do filme histórico e de que maneira se configura todo um ideário a respeito deste conceito através do filme Ladrões de cinema (1977), produção brasileira dirigida por Fernando Coni Campos (1933-1988). O filme ultrapassa a mistura de discussões sobre metalinguagem no cinema, abordando elementos como a divulgação da história para além do texto acadêmico, presente em outros campos (como nos sambas-enredo, por exemplo).

Resumo expandido

    O que caracteriza o gênero do filme histórico e de que maneira se configura todo um ideário a respeito deste conceito através do filme “Ladrões de cinema” (1977), produção brasileira dirigida por Fernando Coni Campos (1933-1988). Na trama, um grupo de moradores do morro Pavãozinho roubam os instrumentos de filmagem de uma equipe de produção norte-americana que realizava imagens do carnaval carioca. De posse dos equipamentos, todo o grupo (com exceção de Silvério, que precisa pagar suas dívidas e queria a venda do maquinário) decide filmar os acontecimentos referentes à Inconfidência Mineira. Bastante elogiado já à época de sua estreia, o filme ultrapassa a mistura de discussões sobre metalinguagem no cinema, abordando elementos como a divulgação da história para além do texto acadêmico, presente em outros campos (como nos sambas-enredo, por exemplo). A própria escolha de Tiradentes e os inconfidentes como tema de filme a ser realizado pelo grupo nos fornece diversos elementos sobre que tipo de cinema se almejava, o que serviria de aclamação, de reconhecimento, além de toda a discussão sobre o que configura uma produção que se encaixe no gênero histórico ou o que era à época (fim dos anos de 1970) a produção nacional. O que é motivo de riso, motivo para a sátira? Sobre quem se quer rir? Esta premiada comédia da década de 1970, em plena ditadura militar oferece ricos caminhos de análise para pensar não apenas sua época de produção, mas o gênero histórico na cinematografia brasileira e a representação do passado pelo uso da alegoria perpassada pela carnavalização. Por atuar no plano coletivo, o riso, segundo Henri bergson, seria uma representação das imagens de um grupo, tendo uma significação social e correspondendo às exigências da vida comum. Desta forma, o que Bergson propôs foi uma análise da comicidade no seio de seu próprio ambiente, que seria a sociedade. Nas diferentes maneiras que evocam o riso estariam presentes disfarces da sociedade e, inclusive, da natureza. Diversas formas de expressão cultural, dentre as quais ressaltam-se a caricatura, a literatura, o cinema e o teatro contribuíram para afirmar e identificar o tema e a figura aqui propostos. Contudo, no nosso entendimento, reconhece-se aqui que o cinema propiciou uma maior propagação de imagens facilmente reconhecíveis pelo mundo. De acordo com Marc Ferro, o cinema desde sua origem teria passado a intervir na história quando em seu discurso, fosse pelo documentário ou filme de ficção, estiveram presentes representações, doutrinas ou mesmo propaganda através do uso da imagem . Associando-se a comicidade ao cinema podem ser construídas as mais diversas representações. Retomando as considerações sobre o filme de Coni, de que maneira se articulam essas considerações? De que maneira é possível pensar esta fita além do caráter metafílmico? A forma como foi estruturada a narrativa sobre Tiradentes nos aponta para as condições de produção no Brasil e a importância da produção de cunho histórico. A década de 1970 da produção nacional foi alimentada não somente por títulos estrelados por Amácio Mazzaropi, os Trapalhões ou pornochanchadas. O gênero histórico (do tradicional ao alegórico) marcou sua presença. Desde obras como “Independência ou Morte” (1972, de Carlos Coimbra) a “Xica da Silva” (1976, de Carlos Diegues) até “Os inconfidentes” (1972, de Joaquim Pedro de Andrade), para mencionar apenas alguns títulos. Marc Ferro, nos seus estudos relacionando cinema e história, ressaltou a importância dos filmes como fontes históricas, apesar destas fontes poucas vezes “fazerem parte do universo do historiador” . A partir do estudo das imagens cinematográficas, considerando-as como documentos históricos, pensar uma época e as representações produzidas no período. As representações do mundo social são múltiplas e concorrentes: operando através de categorias de delimitação e classificação, elas organizam formas de apreensão e compreensão da realidade.

Bibliografia

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