Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Emilly Belarmino (UFPE)

Minicurrículo

    Emilly Belarmino é graduada em Design Gráfico pela UNIBRATEC, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, na linha de pesquisa Estética e Culturas da Imagem e do SOM, integrante do LISIM (Laboratório de Investigação de Sons e Imagens) da UFPE e bolsista da FACEPE.

Ficha do Trabalho

Título

    Tensões entre amadorismo e profissionalismo em instaséries

Resumo

    Pretendemos refletir sobre o embate profissional versus amador no contexto das produções audiovisuais encontradas na web, tendo como objeto de análise duas micronarrativas seriadas compartilhadas no Instagram, as instaséries Browmance e Relacionamento Sério. A partir de elementos como estética, técnica e equipamentos utilizados na produção e pós-produção discutimos o que de fato classifica uma obra como amadora ou profissional na web, ambiente onde essa linha tem se tornado cada dia mais tênue.

Resumo expandido

    O audiovisual tem se tornado cada vez mais presente na internet, nela encontramos uma infinidade de obras espalhadas em diversas plataformas, trazendo uma nova retomada ao debate em torno do que é profissional ou amador. Esse artigo pretende refletir as tensões entre esses dois universos através das micronarrativas seriadas disseminadas no Instagram, aqui classificadas como Instaséries. Por meio de uma análise comparativa entre as produções “Browmance”, do grupo carioca @Medaumminutinho e “Relacionamento Sério”, dos gaúchos do @1quarto, discutiremos sobre o que caracteriza uma produção como profissional ou amadora. A estética adotada? A técnica empregada durante a produção? Ou os equipamentos utilizados para captação e pós-produção? As instaséries se diferenciam não apenas pelo ambiente em que são experienciadas, prioritariamente desenvolvido para compartilhamento de fotos e vídeos do cotidiano, mas por trazer à produção elementos característicos da rede em que circula: curta duração, efemeridade, ubiquidade, uso de ferramentas que compõem o app, como hiperlinks, gifs e tags.

    O debate sobre profissionalismo e amadorismo no audiovisual é assunto recorrente em ambientes acadêmicos e mercadológicos. Apesar de toda polêmica que envolve esse debate, diversos realizadores chegaram a afirmar que as experimentações oriundas das produções ditas amadoras são benéficas para o universo audiovisual “Como dizia Flaherty, as grandes mudanças no cinema serão provocadas por amadores e não por profissionais. (ROUCH, Jean, 1964, apud WELLLER, Fernando, 2014). Com o barateamento dos equipamentos de produção, o crescente uso de câmeras de celulares e a expansão de ambientes livres advindos da internet, a linha entre profissional e amador tem se tornado cada vez mais tênue e esse debate ganha força novamente. É certo que produções ditas amadoras sempre existiram. Quando as primeiras câmeras compactas começam a se espalhar pelas casas dá se início a pequenos registros familiares, de atividades do cotidiano, similares aos primeiros registros dos Lumière. Mas, diferentemente dos irmãos, os indivíduos não possuíam equipamento para grandes exibições, não podiam recorrer a uma praça pública ou qualquer outro mecanismo que viesse a atingir grandes audiências e o material ficava registrado em VHS, a espera de encontros familiares na sala de estar.

    Com a chegada da internet o cenário começa a mudar. No início verificamos que, apesar da ausência de ambientes apropriados ou específicos para o compartilhamento desses conteúdos a criatividade entrava em jogo. Através dos e-mails esses materiais eram compartilhados com contatos geograficamente distantes, mas ainda existia a impossibilidade de atingir grandes audiências. Após o nascimento do YouTube em 2005 a sociedade viu tudo isso mudar: nascia um ambiente apropriado para o compartilhamento de suas produções, sem restrições ou limitações. Onde o necessário era apenas filmar, fazer o upload e compartilhar. A partir daí começam a surgir uma série de transformações nas formas de produção e consumo e o despontar das produções ditas amadoras.

    Analisando de forma crítica essas mudanças trazidas pela web 2.0, Andrew Keen (2007) as classifica como “Culto do amador”. Em seu livro homônimo o autor afirma que a sociedade se torna cada dia mais amadora, podendo causar prejuízo em algumas instâncias. Para ele, estar conectado ao computador não transforma um indivíduo em bom jornalista, ter acesso a cozinha não cria um grande cozinheiro e assim sucessivamente. Ao observarmos o audiovisual, porém, é possível considerar que tal instância vem agregando inúmeros benefícios com o avanço da tecnologia virtual. Vários elementos sonoros ou visuais utilizados nas produções encontradas na web têm sido incorporados a produções distribuídas em grandes veículos de mídia.

    Tendo em mente todas as questões mencionadas, entraremos aqui em uma discussão guiada por autores como Weller (2014), Keen (2007), Cassetti (2015) e Carreiro (2018).

Bibliografia

    BAMBOZZI, Lucas. Microcinema e outras possibilidades do vídeo digital. São Paulo: @Livros Digitais, 2009.

    BOLTER, Jay David; GRUSIN, Richard. Remediation. Understanding New Media. Cambridge: The MIT Press, 1999.

    CARREIRO, Rodrigo. A hora dos amadores: notas sobre a estética da imperfeição no audiovisual contemporâneo. RUMORES (USP) , v. 12, p. 153-162, 2018.

    CASETTI, Francesco. The Lumière Galaxy: Seven Key Words for the Cinema to Come. New York, Columbia University Press, 2015.

    KEEN, Andrew. O culto do amador: como blogs, MySpace; YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia,cultura e valores. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

    WELLER, Fernando. “Eis o filme” – O formato 16mm e a influência da estética amadora no documentário moderno. E-Compós (Brasília) , v. 17, p. 1, 2014.