Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Laís Serra (UFRJ)

Minicurrículo

    Mestranda em Artes da Cena, graduada em Design de Moda, PUC-RJ (2012), e master em Marketing e comunicação de Moda, IED Barcelona – Espanha, (2014). Estuda atualmente a Poética do Espaço (BACHELARD) dos filmes As Virgens Suicidas (1999) e Maria Antonieta (2006), ambos de Sofia Coppola. Busca com esta pesquisa, estudar o imaginário intertextual na obra desta cineasta através do cunho estético, primordialmente vinculado a Direção de Arte.

Ficha do Trabalho

Título

    Interseções entre Cinema e Pintura em Maria Antonieta de Sofia Coppola

Resumo

    A cena fílmica de Maria Antonieta de Sofia Coppola se faz em dialética com obras pictóricas, ocorrendo primordialmente em três formas: a pintura clássica dentro do espaço diegético enquanto elemento da cenografia; a pintura enquanto cena, quando o quadro fílmico incorpora a estética pictórica de uma obra canônica; e a reapropriação de uma pintura canônica conforme os moldes estéticos do universo fictício do filme em questão, este disposto, enquanto objeto cênico.

Resumo expandido

    No filme Maria Antonieta (2006) de Sofia Coppola identificamos práticas de interseção com outras linguagens artísticas, como a música, o videoclipe, e especialmente a pintura, a qual daremos enfoque neste trabalho. A cena de Maria Antonieta se faz em dialética com obras pictóricas, ocorrendo primordialmente em três formas: a pintura clássica dentro do espaço diegético enquanto elemento da cenografia; a pintura enquanto cena, quando o quadro fílmico incorpora a estética pictórica de uma obra canônica; e a reapropriação de uma pintura canônica conforme os moldes estéticos do universo fictício do filme em questão, este disposto, enquanto objeto cênico.
    Uma vez que o filme visa reiterar a figura da rainha francesa em um contexto contemporâneo, estas apropriações estéticas constituem uma forte estratégia de visualidade. Embora haja múltiplos artifícios que irão executar este anacronismo entre o século XVIII e a atualidade – como por exemplo a palheta cromática e o famoso “tênis all-star” no chão do palácio -, neste artigo, nos voltaremos para a relação entre o “quadro fílmico” e “quadro pictórico”. Podemos perceber que pintura, uma imagem estética que auxiliou a conformar o imaginário da corte francesa e de Maria Antonieta, se transforma perante à reapropriação da mídia cinema, e conforma uma nova imagem e estética. Nesta interlocução entre as pinturas e a cena filmica, o próprio imaginário hibrido da cena artística comtemporânea se faz presente, e disponibiliza materiais para analises reflexivas de cunho teórico.
    Logo, bem como apontado por Edgar Morin, podemos dizer que “num certo sentido tudo gira em torno da imagem, porque a imagem não é apenas o entroncamento entre o real e o imaginário, é o ato constitutivo e simultâneo do real e do imaginário.” (MORIN, 2014: 14). Pois entendemos então que nesta dinâmica entre essas “telas”, as pinturas clássicas enquanto elemento da cenográfia corroboram para construir a atmosfera da cena e a subjetividade dos personagens diegéticos; as pinturas enquanto própria cena, tem a sua aura (BENJAMIN) impressa neste quadro cinematografico, hibridizando-se com o filme, e formulando uma nova esfera de sensibilidade para esta imagem; e, as pinturas que foram reapropriadas e exibem esta “nova imagem” da rainha Maria Antonieta – conforme a estética da ficção e com rosto da atriz Kirsten Dunst – representam justamente a relação do espaço nos quais estes quadros hibridos se introduzem.
    Ademais, nestas interseções os artíficos destes campos artísticos se vinculam e se misturam, como o uso da cor, a impressão de movimento, o estilo, os figurinos, a composição do quadro, dentre outros, possibilitando tensionamentos reflexivos sobre os novos modos de produção de uma imagem e seus efeitos. Michel Maffesoli diz: “Não é a imagem que produz o imaginário, mas o contrário. A existência de um imaginário determina a existência de conjuntos de imagens. A imagem não é o suporte, mas o resultado.” (MAFFESOLI, 2001: 76). Deste modo, confiamos que a cena cinematográfica de Sofia Coppola exprime esta “aura” do imaginário da cena artística contemporânea. Seus filmes, embora presentes em circuitos comerciais, contém uma poética de extrema sensibilidade e constantes interlocuções das artes enquanto própria base constitutiva do filme. Ademais, seu enfoque de criação recai sobre o quesito visual, em “contar histórias visualmente”, o que disponilibiza obras um olhar de desdobramentos relativos as artes visuais enquanto dispositivo cinematográfico.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. ​O olho interminável; Cinema e Pintura. ​2o Edição. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
    AUMONT, Jacques. ​et. al. A​ Estética do Filme. ​9o Edição. São Paulo: Papirus Editora, 2017.
    MAFFESOLI, Michel. ​O imaginário é uma realidade​. Revista FAMECOS, Porto Alegre, no 15, pág. 74-86, agosto 2001. Entrevista concedida a Juremir Machado da Silva, em Paris, 20/03/2001.
    MORIN, Edgar. ​O Cinema ou o Homem Imaginário; ensaio de Antropologia Sociológica. São Paulo: É Realizações, 2014.
    STAM, Robert. ​Introdução à teoria do cinema​. 5a Edição. São Paulo: Papirus Editora, 2014.
    MARIA Antonieta. Direção de Sofia Coppola. EUA, França: Pricel, Tohokushinsha Film Corporation, American Zoetrope, Pathé, 2006. (123 min.), son., color.