Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Wilson Oliveira da Silva Filho (UNESA)

Minicurrículo

    Doutor em memória Social (PPGMS/UNIRIO), com Bolsa sanduíche (PDSE/Capes) na Universidade de Chicago, sob supervisão de Tom Gunning. Em 2018, finalizou pesquisa de pós-doutorado na ECO/UFRJ. Professor e Pesquisador do Programa Pesquisa Produtividade na UNESA, onde também coordena o curso de graduação tecnológica em Fotografia. Artista multimídia e criador do DUO2x4. Autor de “McLuhan e o cinema/McLuhan and cinema” (editora Verve, 2017).

Coautor

    Márcia Bessa (Márcia C. S. Sousa) (ECDR/IBAv)

Ficha do Trabalho

Título

    ‘Atrações’ do cinema (de rua): multiusos, variedades e inovações

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    A partir de conceitos e características dos primórdios da exibição cinematográfica – notadamente o ‘cinema de atrações’ e o ambiente indiferenciado das ‘variedades’ – e de suas relações para com o público da época, esse trabalho tenta pensar novas possibilidades para a expectação e para as salas de ‘cinema de rua’ contemporâneas; ressaltando ainda a permanência desses espaços como suportes de memória, locais de resistência e experimentação audiovisual.

Resumo expandido

    O ‘cinema de atrações’, que “tanto na forma dos filmes quanto no seu modo de exibição”, caracteriza-se pela produção de imagens em movimento em um período anterior ao narrativo, pela busca de espaço em meio a outras curiosidades, pelos impactos visuais e efeitos fantásticos que afetam sensorialmente o espectador e também por todo o aparato tecnológico necessário a sua transmissão. As ambiências de diferentes arquiteturas e a expectação se transformam no contato com a projeção cinematográfica. Como nos diz Tom Gunning, “[…] O caráter direto desse ato de exibição permite uma ênfase no próprio suspense – a reação imediata do espectador” (1995, p. 56), promovendo reconfigurações internas dos espaços exibidores e dos próprios rituais cinemáticos que ali emergem.
    Do ‘cinema de atrações’ para as atrações do cinema, convocamos as afinidades de dois períodos extremos: a primeira e a última décadas da exibição cinematográfica. O cinema surge e se solidifica como uma atividade de apelo essencialmente urbano e popular, representando a quintessência de um entendimento estético da própria vida moderna. Cabe destacar que na maior parte dos primeiros locais improvisados para a exibição de imagens em movimento o cinema funciona como uma atividade acessória. Ainda não há salas fixas. O cinema se mescla a outras formas de entretenimento nos teatros, galpões, parques e cafés-concerto. Se nessa fase embrionária das atrações, as ‘variedades’ – espetáculos de magia, panoramas diversos, números musicais, esquetes e teatros óticos – se articulam em espaços que muitas vezes vão se transformar em locais de cinema, hoje as salas de exibição (sobretudo os ‘cinemas de rua’) ou se abrem para outras atividades culturais, exibições de novos produtos audiovisuais e oferta múltipla de espaços e serviços ou podem estar fadadas à extinção. Um retorno às ‘variedades’ – mesmo que estas hoje sejam de outra natureza – nos parece fundamental para a resistência dos ‘cinemas de rua’, elevando as potencialidades da sala de exibição ao patamar de um centro cultural e oferecendo mais e melhores meios para a sua sobrevivência.
    Os ‘cinemas de rua’ ainda existentes, além de representarem suportes de uma memória da exibição cinematográfica (e do próprio cinema), nos levam a acreditar em novas possibilidades de permanência desses espaços no presente. Em geral, a intenção hoje é preservar boa parte da arquitetura e da decoração dessas salas ao mesmo tempo que se faz concessões para a diversidade de atividades e formas inerentes às necessidades afinadas com seus novos usos e públicos. O regime de funcionamento dos espaços que abrigam os grandes ‘cinemas de rua’ – sobretudo no que concerne à exclusividade do produto cinematográfico tradicional e à operação em sala única – não apresentam viabilidade econômica na contemporaneidade. Segundo Luiz Gonzaga de Luca (2013), o desequilíbrio financeiro do meio exibidor reside em maior escala na operacionalização das salas e não em sua construção, sendo assim o modelo de ‘cinema de rua/negócio cultural/centro cultural/disposição multisalas’ pode conferir grandes possibilidades de subsistência para as salas de cinema nas ruas citadinas.
    A exemplo do público dos primórdios, ávido por novidades, a principal motivação do espectador que frequenta o cinema hoje parece ser o contato com os produtos audiovisuais que chegam primeiramente às salas de exibição cinematográficas. Se até grandes empresas de streaming têm demonstrado interesse na recuperação de cinemas, pensar novidades e experiências diferenciadas que possam atrair um novo público é um desafio a ser enfrentado. A própria exibição passa por uma (re)configuração, sendo pensada por autores como Copeland (2014) e Bovier & Ney (2015) como exposição ou curadoria e conferindo novos sentidos às artes da projeção. Para além do que busca o grande público, a sala pode se abrir a cinemas expandidos de diferentes maneiras e a outros usos, inovações em conjunto e para além do filme.

Bibliografia

    BOVIER, François; MEY, Adeena [eds.]. Exhibiting the moving image. Zurich: JRP, 2015.

    COPELAND, Mathieu [ed.]. The exhibition of a film. Dijon: Les presses du réel, 2014.

    LUCA, Luiz G. Assis de. Comunicação pessoal em defesa de Tese de doutoramento de Márcia Bessa – PPGMS/UNIRIO, 10/05/2013.

    DOUGLAS, Stan; EAMON Christopher (orgs.). Art of projection. Ostfiledern: HatjeCantz, 2009.

    GUNNING, Tom. Uma estética do espanto: O cinema das origens e o espectador (in)crédulo. Revista Imagens, São Paulo: Editora da Unicamp, n.º 5, ago. / dez. 1995.
    ______. A grande novidade do cinema das origens. Revista Imagens, São Paulo: Editora da Unicamp, n.º 2, agosto/1994.