Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    João Luiz Vieira (UFF)

Minicurrículo

    Doutor em Estudos Cinematográficos pela NYU (1984), Professor Titular do Departamento de Cinema e Vídeo e Coordenador do PPGCine-Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF.

Ficha do Trabalho

Título

    Mais popular que o “popular”: PelMex, Cine Azteca, circuito periférico

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    O que pode significar um “simples” anúncio semanal de lançamento cinematográfico, presente na imprensa desde o início do cinema e durante quase todo o século XX? As respostas estariam em análises detalhadas de como os anúncios publicitários dos lançamentos semanais, ajudando-nos a pensar e ampliar questões a respeito de como um “público popular” foi adquirindo determinado capital cultural enquanto conjunto de conhecimentos e habilidades que lhe permitiu apreciar o o que era oferecido.

Resumo expandido

    O que pode significar um “simples” anúncio semanal de lançamento cinematográfico de um filme, presente na imprensa diária desde o início do cinema e durante quase todo o século XX? A memória hoje me faz voltar num distante passado quando, assim que aprendi a ler, me vejo passando muito tempo diante do Correio da Manhã, recebido em casa por assinatura, exatamente na página dos lançamentos semanais, no geral uma ou duas páginas duplas daquele periódico que não existe mais. Lia e relia típicas e muitas vezes repetidas frases publicitárias de impacto. Tentava, pelo título do filme e suas bem escolhidas imagens, criar algum sentido a partir da imagem narrativa construída naqueles pequenos, médios ou muitas vezes grandes anúncios, dependendo também da importância do filme e de seus valores de (super) produção. E da lista geralmente vertical à direita ou esquerda do anúncio, me perdia mesmerizado pela relação dos cinemas que formavam aquele circuito exibidor para tal ou tal título. Não demorou muito tempo para que um esboço de uma nascente cinefilia infanto-juvenil me pegar com uma tesoura recortando e colecionando esses anúncios. Alguns iriam direto para ilustrar um caderno de cinema, onde, cronologicamente entre 1960 e 1966 eu anotei todos os filmes que assisti, acompanhados de seu elenco principal, diretor e, com muita ênfase, os cinemas onde esses filmes foram vistos.
    Há algum tempo esse latente interesse tem se transformado em mais alimento para um outro tipo de cinefilia relacionado à teoria, história e pesquisa em torno da exibição cinematográfica, marcado por uma diversificação de interesses que hoje abrange, o que venho chamando de histórias de cinemas (assim mesmo, em minúsculas e no plural). Nesta revisão e ampliação de pesquisas anteriores já apresentadas no âmbito de outros encontros SOCINE, volto a essa tão fundamental quanto ainda negligenciada forma de intermediação entre o cinema (filme) e seu público, através do que Christian Metz chamava de “terceira indústria, que era o contato intermidiático via imprensa entre o cinema (primeira indústria) e seu público (segunda indústria). A partir do foco em torno da uma sala de cinema bastante especial do Rio de Janeiro, o Cine Azteca (12/10/1951-12/05/1973), e da presença da distribuidora PelMex no Rio e no Brasil, expandindo a exposição continuada da presença e exibição mexicanas no Rio, a pesquisa ora apresentada apontou para uma hipótese comparativa entre a comprovada popularidade da chanchada na primeira metade dos anos 1950 e a popularidade dos filmes mexicanos de gênero (melodrama, policial, romance histórico, erotismo etc.). De que popularidade estamos falando aqui? Como pensar uma formação e fidelização de uma geração de plateia definida como “público”, não só relacionado à oferta cultural, mas principalmente enquanto interpelação, interesse e acesso que envolve, entre outros fatores determinantes, o preço do ingresso, escolaridade, ocupação, idade, gênero e a área geográfica onde se habita, em relação à proximidade ou não de uma sala de cinema? Partimos da hipótese de que “gosto”, “hábito”, ou a “construção de fidelidade” (que envolve, por exemplo, o interesse e culto por determinados gêneros narrativos) enfrentam sempre barreiras e limites geográficos e sócio-econômico-culturais. No Rio de Janeiro dos anos 1950-60, de onde falamos, uma cidade claramente dividida e segmentada se comparada com determinados mas ainda poucos avanços (metrô unindo Barra da Tijuca e Acari, o mais recente sistema de BRT) era comum os pejorativos de “suburbano”, “farofeiro” para todo um público excluído de certos equipamentos. Uma hipótese que vem sendo aprofundada nesta pesquisa está relacionada à inauguração do Cine Azteca e da entrada da PelMex no Rio tentando minimizar um desequilíbrio de acesso cultural à produção mexicana ao dirigir boa parte de sua exibição para subúrbios da zona norte e periferias do chamado Grande Rio, encabeçados pelo Cine Azteca.

Bibliografia

    Gonzaga, Alice. Palácios e poeiras. Rio de Janeiro: Record, 1996.
    Ferraz, Talitha. A segunda Cinelândia carioca. Rio de Janeiro: Multifoco, 2009.
    Freire, Rafael de Luna. Cinematopgrapho em Nictheroy. Niterói: Niterói Livros, 2012.
    Fuller, Kathryn H. At the Picture Show. Washington & London: Smithsonian Institution Press, 1996.
    Mantecón, Ana Rosas. Ir al cine: antropologia de los públicos, la ciudad y las pantallas. Barcelona: Editorial Gedisa, 2017.
    Vieira, João Luiz & Margareth Pereira. Espaços do sonho: cinema e arquitetura no Rio de Janeiro, 1920-1950. Embrafilme/ Cinetema, 1982.