Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Francieli Rebelatto (UNILA/UFF)

Minicurrículo

    Docente de Fotografia em Cinema e Audiovisual na UNILA. Doutoranda em Cinema e Audiovisual da UFF. Mestre em Ciências Sociais pela UFSM(2011), com pesquisa na área de Antropologia audiovisual e cultura de fronteira. Formada em Comunicação Social pela UFSM (2008), com estudos em Fotografia e Documentário. Atua como roteirista, diretora e fotógrafa. Tem interesse em: cinema e audiovisual, fotografia e cinematografia, América Latina e processos de integração, política e gênero.

Ficha do Trabalho

Título

    Paisagens de fronteira e corpos femininos no quadro cinematográfico

Seminário

    Teorias e análises da direção de fotografia

Resumo

    As personagens femininas dos filmes Mulher do Pai (2017) e Pela Janela (2018) atravessam distintas fronteiras entre o Uruguai, Brasil e Argentina. Pretende-se uma análise dos dois textos fílmicos na perspectiva da direção de fotografia ampliando as leituras sobre o deslocamento de afetos, corpos e câmera no território. Pretende-se articular a relação entre os conceitos de paisagem e sua expressividade no enquadramento, bem como, papel central no processo de criação dos diretores de fotografia.

Resumo expandido

    Nalu no filme Mulher do Pai (2017) questiona sobre o que tem do outro lado da fronteira entre Brasil e Uruguai. Rosália, carregada de medos, atravessa a fronteira entre Brasil e Argentina no filme Pela Janela (2018). Os corpos de Nalu e Rosália se deslocam pelo quadro e pelo território construindo novas afetividades, e as paisagens de um ‘cinema-fronteira’ são desenhadas pela luz do pampa na fotografia de Heloisa Passos e as Cataratas do Iguaçu são acarinhadas pela câmera na mão de Claudio Leone.
    Entendo, neste sentido, que o debate sobre paisagem é fundamental ao cinema, que retrata, cria e intervém efetivamente na paisagem, permitindo compreender distâncias teóricas e concretas do mundo e da linguagem. A paisagem não é só um meio ambiente físico, mas uma relação que o ser humano estabelece com determinado ambiente ou meio, uma forma de enquadrar a realidade, de lhe colocar molduras/enquadramentos, de propor modos de convivência entre os seres e em sua relação com a natureza e com a percepção dela. O filósofo Gilles A. Tiberghien diz que “há uma dimensão da paisagem que é fundamental, a de que ela é uma relação, e não uma coisa, uma ligação entre os homens, e ao mesmo tempo o reflexo de sua atividade” (2012, 180). A partir disso, nos interessa pensar como estes corpos que cruzam pela paisagem e pelo quadro cinematográfico, apontando formas de problematizar a plasticidade cinematográfica a partir da prática da direção de fotografia.
    A dimensão do pampa, entre Brasil e Uruguai se estende a perder de vista no olhar do viajante, permanece um tanto monótono no olhar de quem por ali vive entre as fronteiras, pensando nisso, a diretora de fotografia Heloisa Passos no filme Mulher do Pai reconhece em sua fotografia que a paisagem é também personagem. Já no filme Pela Janela, as águas das Cataratas do Iguaçu molham o corpo de Rosália, as lentes da câmera na mão de Claudio Leone e borram o olhar do espectador. Nestas duas marcas de paisagem e sua relação com a câmera, busco dialogar com Rogério Luiz Silva de Oliveira a partir de sua leitura de Marcel Martin, quando então, ele recorre ao entendimento da relação do equipamento fotográfico com a expressividade fílmica, pois, ‘dotado da capacidade de atribuir sentidos, a partir de seu posicionamento, perspectiva ou mesmo movimentação, o equipamento cinematográfico passou a ser explorado em experiências coreográficas, assumindo a feição de um agente ativo de registro da realidade material’ (MARTIN, 2011, p. 33).
    Recorre-se a plasticidade da cinematografia dos dois primeiros filmes de longa-metragem das diretoras Caroline Leone e Cristiane Oliveira que contam com importantes diretores de fotografia já mencionados, para evidenciar o processo de criação do/a diretor/a de fotografia, o papel central da luz natural e seu desenho nos corpos femininos e nos deslocamentos territoriais. Ou seja, que neste ensaio busca-se estabelecer a relação entre a discussão dos conceitos de paisagens e sua relação com o cinema e com a expressividade da fotografia cinematográfica, o pensamento sobre o enquadramento e as formas de representação/apresentação dos corpos femininos das personagens principais em quadro, e ainda, o papel central no processo de criação dos diretores de fotografia e suas escolhas estilísticas. Retomando assim, mais uma vez, as perspectivas Oliveira (2016) que em sua tese de doutorado ‘Memória e Criação na Direção de Fotografia’ toma o fazer do/a diretor/a de fotografia como objeto de investigação, a partir da análise do plano, está célula básica da narrativa cinematográfica (2016, p.18), pois se no caso do autor, é possível fazer uma relação entre memória e criação da fotografia, aqui, pretende-se pensar como a direção de fotografia corrobora no aprofundamento de novas formas de representação de territórios e gênero no cinema.

Bibliografia

    MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2011.
    OLIVEIRA, Rogério Luiz Silva de Oliveira. Memória e Criação na Direção de Fotografia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Vitória da Conquista – BA, 2016.
    Tiberghien, Gilles. 2012. “Trajetória e interesses: entrevista com Gilles A. Tiberghien”. Revista-Valise v.2, n. 3, ano 2 (julho): 177-185.