Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    José Wilker Carneiro Paiva (UFC)

Minicurrículo

    Graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará (2018), atualmente é mestrando em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da mesma instituição, desenvolvendo pesquisa sobre a prática do remix, seu estado da arte e potencial politico.

Ficha do Trabalho

Título

    Remix: estéticas de montagem e práxis política

Seminário

    Montagem Audiovisual: reflexões e experiências

Resumo

    O presente trabalho busca, através de um debate que passa por política, estética e remix, investigar o estado da arte dos vídeos remix, o potencial político e de transformação social através de sua estética de montagem. As obras que irão conduzir esse debate são: Echolocation (2018), de Marc Lee e 16 Step Social (2015), de Mike Richison. Partindo das análises discutiremos sobre estéticas de montagem, imagem dialética e desvio como formas (estéticas) de combate à sociedade espetacular.

Resumo expandido

    O remix no audiovisual é, desde sua origem, uma prática cultural que tem como base a montagem, isto é, a (re)organização de materiais de arquivos em bancos de dados e alteração de suas propriedades através de gestualidades operadas na mesa de montagem, a exemplo: paragem, repetição e, com a difusão do motion graphics, tratamento de cor, sobreposição por cor ou luminância, etc. Essa compreensão de remix se aproxima do que entendemos como filmes de arquivo. Yann Bevouis (2003), fala sobre esse cinema no âmbito experimental, a partir do found footage. Porém, a diferença basilar está além materialidade fílmica, entre vídeoteca e banco de dados, está nas novas possibilidades de intervenção que o artista encontra e desenvolve nas novas tecnologias. Sendo assim, percebemos o remix fazendo parte dessa tradição, como sua avant-garde. Com isso, Eduardo Navas (2012), ao falar da história do remix, o coloca como uma atividade onipresente na arte e na comunicação de massas, especialmente nas novas mídias. Dessa forma, abrimos precedentes para refletir sobre qualquer tema na mesa de montagem, em específico: política. A exemplo: Esther Schub, Dziga Vertov, Guy Debord, Chris Marker e, mais atualmente, Marc Lee e Mike Richison.
    Walter Benjamin (1994), ao falar sobre as novas mídias, coloca que a montagem é imanente a obra de arte. Nesse momento o autor revela seu objetivo de colocar a montagem como práxis que busca reorganizar as imagens que, ao perderem suas auras e ganharem valor político, são acumuladas como capital ou espetáculo, assim como falava Guy Debord, na primeira tese de A sociedade do espetáculo (2018). Percebe-se, então, um vínculo entre imagem e objetos de consumo. Benjamin em uma de suas cartas para Adorno (2013) coloca que a montagem é a superação da dialética, é o passo adiante, com ela poderíamos refletir sobre qualquer elemento da sociedade, isto é, poderíamos justapor vários desses elementos, algo como uma constelação de imagens warburgiana, porém dialética. Essa imagem dialética benjaminiana está diretamente ligada à montagem e ao remix uma vez que ela é o resultado histórico do conflito entre o ocorrido e o agora, ou seja, a imagem como resultado desse conflito é a expressão maior do momento crítico.
    Com o desenvolvimento da discussão até o momento podemos dizer que a práxis da montagem através do remix é uma reflexão sobre as imagens acumuladas enquanto capital, espetáculo. Três grandes autores que tratam da questão estético-politica do acumulo de capital, estão: Herbert Marcuse (2013) e David Harvey (2014) e Guy Debord (2018). Ambos os autores vão tratar da dominação ideologica do capital a partir das imagens. Enquanto Marcuse (2013) trata de uma arte que penetre na estrutura ideologica petrificada pela lógica de uma sociedade opressora, Havey (2014), fala, a partir de Benjamin, sobre uma sociedade do marketing que, ao invés de penetrar o inconsciente, ela explora o consciente a partir da imaginação, de um musée imaginaire; e, por último, Debord (2018) que traz com grande força, que reverbera em nosso tempo, o desvio (détournement), essa que é a prática de desviar imagens espetaculares contra o próprio espetáculo, ou seja, tirar o negativo do capital da imagem e potencializá-lo na mesa de montagem.
    Partindo da articulação entre remix, montagem e suas implicações estetico-politicas, pretendemos debater duas produções comtemporâneas: Echolocation (2018), de Marc Lee e 16 Step Social (2015), de Mike Richison. A primeira traz um remix 5.0, isto é, uma montagem previamente programada, uma inteligência artificial, onde a partir da escolha de um local em um mapa digital dispara uma montagem com uma série de vídeos capturados da web e exibidos em multitelas. No segundo trabalho, o participante interage com uma mesa controladora que possui uma interface onde é possivel baixar e editar imagens do instagram em tempo real. A crítica da sociedade capitalista passa pela mesa de montagem, pela forma filmica (EISENSTEIN, 2002).

Bibliografia

    ADORNO, Theodor W; BENJAMIN, Walter. Correspondência 1928-1940 Adorno-Benjamin. São Paulo: Editora Unesp, 2013.
    BEAUVAIS, Yann. Filmes de Arquivo. In: Revista Recine, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 82-93, 2004.
    BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
    ________________. Passagens. Organização da edição brasileira por Willi Bolle. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa oficial do estado de São Paulo, 2009.
    DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Contraponto, 2018.
    EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002a.
    HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
    MARCUSE, Herbert. A Dimensão Estética. Lisboa: Edições 70, 2013.
    NAVAS, Eduardo. Remix Theory: The Aesthetics of Sampling. Nova Iorque: Springer, 2012.
    XAVIER, Ismail (org.). A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.