Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Ian de Vasconcellos Schuler (UERJ)

Minicurrículo

    Doutorando em artes visuais (UERJ), mestre em comunicação (UFRJ).

    Congressos:

    Socine: apresentação em seminário temático (2018)
    Anpap Regional: Apresentação em seminário (2018)
    Socine: apresentação em seminário temático (2012)
    Socine: apresentação em panorama (2013)

    Ensaios e publicações:

    Anpap, Estado de Alerta! Livro 3: “Algumas perspectivas sobre a filmagem de objetos estáticos” (2018)
    Revista Beira: “Cantos de Trabalho” (2017)
    Revista A!: “Em busca de uma verdade acidental” (2013)

Ficha do Trabalho

Título

    A Fotografia em Tempo de Alta Resolução: contrausos da nitidez

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    No ensaio “Em defesa da Imagem Pobre” (2009) Hito Steyerl argumenta em favor das imagens de baixa resolução, convertidas e reconvertidas nas linhas piratas das redes. No entanto, em anos recentes, pequenos produtores assistiram a um crescente barateamento das tecnologias de captação de imagem em alta resolução, o que produziu um ambiente propício para experiências que fazem um uso crítico das condições de captação desses instrumentos. Essa apresentação pretende comentar alguns desses casos.

Resumo expandido

    No ensaio “Em defesa da Imagem Pobre” (2009) a ensaísta e artista visual Hito Steyerl argumenta em favor das imagens de baixa resolução, convertidas e reconvertidas nas linhas piratas das redes. O resultado dessas imagens (cuja “pixelização”, baixo registro de cores e achatamento da profundidade passam a fazer parte de suas próprias condições de visibilidade) igualmente produz um espaço de circulação que escapa às programações dos grandes mercados: emergem redes piratas dedicadas a exibição de filmes experimentais, filmes ensaios e todas as formas em vídeo e filme que recusam as lógicas clássico-narrativa de produção – e por isso são dispensadas pelos agentes exibidores tradicionais. Esse circuito exibidor alternativo cria comunidades pulverizadas e espontâneas entre cinéfilos relativamente despreocupados com as condições ideais de exibição, com a qualidade relativa de um produto fílmico autêntico e primeiro. As condições genéticas da imagem digital, em suas vantagens e deficiências, se torna bandeira estética para distintos cineastas, despertando o interesse tanto de jovens realizadores quanto de cineastas veteranos, incluindo alguns que operam dentro da lógica produtiva de Hollywood, como Michael Mann (“Inimigos Públicos”, 2009, “Miami Vice”, 2006), até cineastas que trabalham à margem dos grandes mercados, como Pedro Costa, e Jean-Luc Godard.

    No entanto, aproximadamente nos últimos dez anos, os consumidores domésticos e os pequenos produtores de filmes assistiram a um crescente barateamento das tecnologias de captação de imagem em alta resolução, no formato popularmente conhecido como “Full HD”, referentes à resolução de captação em 1920 pixels horizontais por 1080 pixels verticais. O relativo baixo custo de acesso a esse padrão de captação permitiu que uma nova geração de cineastas e artistas pudesse produzir imagens com uma resolução e textura similares às produções de alto custo: imagens excessivamente nítidas, que remetem a uma plasticidade típica tanto da publicidade quanto do cinema profissional.

    Esse “novo ambiente” produtivo permite que inúmeras experimentações em Full HD (ou suas derivações de resolução ascendente, como as tecnologias 2k, 4k, 8k, etc.) sejam construídas, inclusive algumas que passam a fazer um uso crítico ou paródico das condições de captação desses novos instrumentos, ou seja, do próprio Full HD. Entre esses casos, podemos mencionar o trabalho da artista visual Bárbara Wagner, que em seus trabalhos produz cruzamentos entre imaginário popular e publicitário, entre ambientes de estrutura social e econômica precária e imagens “polidas”, como se filmasse anúncios publicitários ou videoclipes de música pop em pequenas cidades de interior.

    A relativa democratização do acesso às imagens em alta resolução abre espaço para modos de usar que não são mais restritos as produções de alto custo, onde a correspondência entre nitidez e qualidade técnica geralmente é entendida como automática. A “liberação” da nitidez permite que em certas condições ela atue contra ela mesma, contra a “pureza” e a invisibilidade de seu mecanismo produtivo. Os contrausos da nitidez seriam aqueles que operam uma torção de seu uso típico, que comentam seu ascetismo excessivo pela produção de imagens à beira da repulsa (como em “La Peau”, 2007, de Thierry Kuntzel), ou em sátiras semi publicitárias (como em “Terremoto Santo”, 2017, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca).

    Essa apresentação pretende comentar alguns desses pontos, observando casos onde a alta resolução seria usada fora de seus padrões representativos ou industriais. Onde a sua pulverização permite que ela seja abordada a partir de outras lógicas produtivas.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. O olho interminável (cinema e pintura). São Paulo: Cosac e Naify, 2004.

    BELLOUR, Raymond. O ponto da arte. In: Cinema Sim. Narrativas e Projeções. Org: MACIEL, Kátia. São Paulo: Itaú Cultural, 2008.

    FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta. Rio de Janeiro: Sinergia Relume Dumará, 2009.

    MEKAS, Jonas. Anti-100 Years of Cinema Manifesto. Incite!, 2009.
    Disponível em: http://www.incite-online.net/jonasmekas.html?fbclid=IwAR0HhRzj9MdTeO2GgucuyMirFvblwvAulkUwO535mlnvbufpkA4txQXQEhk

    STEYERL, Hito. In Defense of the Poor Image. E-Flux: Journal 10. 2009.

    STEYERL, Hito. Duty Free Art: Art in the Age of Planetary Civil War. Verso, 2018.

    XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. RJ: Paz e Terra, 1984.