Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcus Vinicius Fainer Bastos (PUC-SP)

Minicurrículo

    Marcus Bastos é professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Publicou os livros Limiares das Redes (Intermeios, 2014) e Cultura da Reciclagem (Noema, 2007 ebook), além de organizar Cinema Apesar da Imagem (com Gabriel Menotti e Patricia Moran, Intermeios 2016) e Mediações, Tecnologia, Espaço Público: panorama crítico da arte em mídias móveis (com Lucas Bambozzi e Rodrigo Minelli, Conrad, 2010).

Ficha do Trabalho

Título

    Antecedentes da Performance AV nos Arquivos See this Sound e CVM

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Amy Alexander afirma que um ponto-de-partida comum nas histórias da performance audiovisual é o órgão de cor. Em diálogo com estas práticas, uma série de experiências foram realizadas. Dieter Daniels contextualiza esta trajetória, que considera errática e recursiva. Baseado nos arquivos See this Sound e Center for Visual Music, este artigo apresenta uma história do diálogo entre cor e som, procurando relacionar os experimentos relevantes e estabelecer uma cronologia de seu desenvolvimento.

Resumo expandido

    O termo ao vivo (e similares como tempo real, tempo presente e acontecimento) são cada vez mais usuais em discussões sobre as linguagens contemporâneas, especialmente como resultado dos processos de comunicação que migram dos formatos analógicos do broadcast para as tecnologias digitais de transmissão em rede. Podemos atribuir sua menção recorrente à aceleração experimentada no mundo atual, mas é preciso avaliar o tema com prudência, pois querelas sobre a mudança de velocidade são antigas e recorrentes. A percepção de um mundo veloz ao redor é uma característica do mundo moderno — no sentido histórico, que refere-se à sociedade urbana e industrial configurada a partir do século 17. Não por acaso, tornou-se bastante conhecida a máxima marxista, que comenta a fugacidade dos fenômenos e das relações sociais sob o capitalismo, de que tudo o que é sólido desmancha no ar.
    As poéticas ao vivo tem antecedentes que aparecem ainda mais cedo, desde o século 16. Apesar de terem acontecido de forma dispersa, muitas vezes sem que as informações sobre um experimento fossem conhecidas pelos desenvolvedores de outro, em retrospectiva eles formam um corpo coeso que culmina no interesse pela sinestesia marcante no século 19. O arquivo online See this Sound, com curadoria de Sandra Naumann, e o acervo do Center for Visual Music, com curadoria de Cindy Kieffer, permitem destrinchar dois dos três principais momentos deste percurso: os precursores e o primeiro momento de densidade nas décadas de 1910 e 1920.
    Em Audiovisual Live Performance, Amy Alexander afirma que um ponto-de-partida comum nas histórias da performance audiovisual é o órgão de cor. Conforme Alexander, o conceito remonta à aproximadamente 300 anos, “o que torna sua semelhança com algumas performances audiovisuais contemporâneas ainda mais arrebatadora”1. Baseado na tradição filosófica que remonta a Pitágoras, que imaginou a possibilidade de relação entre os sons existentes e as cores do arco-íris, nomes como Aristóteles, Da Vinci ou Goethe dedicaram-se em alguma medida ao debate dos problemas das relações entre cor e som, campo de pesquisa que, no século 19, passou a abranger os estudos da sinestesia.
    Em diálogo com este contexto, uma série de experiências foram realizadas buscando dar materialidade a estas relações. Em Hybrids of Art, Science, Technology, Perception, Entertainment and Commerce at the Interface of Sound and Vision, Dieter Daniels contextualiza esta trajetória, que ele considera errática e recursiva:
    A maioria destes dispositivos foram, de fato, construídos e apresentados, mas alguns foram apenas descritos e patenteados, ainda que uns poucos tenham sido manufaturados em pequenas séries. A maioria demonstrava analogias cor/som, alguns também eram para tocar composições imagem/som de escopo livre, e outros só produziam visual music silenciosa. Tecnologicamente os dispositivos diferiam consideravelmente, mas eram na maioria uma combinação de partes mecânicas e elétricas. Por causa destas diferenças técnicas, a história das ideias embutidas nos instrumentos toma precedência sobre seu lugar na história da tecnologia. Paradoxalmente, esta história das ideias não é uma genealogia contínua, mas uma história de múltiplas reinvenções porque os autores raramente sabiam da existência uns dos outros2.

    Em diálogo com os já mencionados arquivos See this Sound e Center for Visual Music, este artigo propõe apresentar uma história do diálogo entre cor e som, procurando relacionar os experimentos relevantes e estabelecer uma cronologia que permita perceber o desenvolvimento do tema.

Bibliografia

    Alexander, Amy. Audiovisual Live Performance, in: Dieter Daniels; Sandra Naumann (ed), See This Sound: Audiovisuology Compendium, Cologne: Walther König, 2010.
    Center for Visual Music. http://www.centerforvisualmusic.org
    Daniels, Dieter. Hybrids of Art, Science, Technology, Perception, Entertainment and Commerce at the Interface of Sound and Vision, in: Daniels, Dieter; Naumann, Sandra (Ed). See This Sound: Audiovisuology Reader, Cologne: Walther König, 2015.
    Hankins, Thomas L. The Ocular Harpischord of Louis-Bertrand Castel; or, The Instrument that Wasn’t, in: Osiris Vol. 9, Instruments (1994), pp. 141-156. JSTOR, www.jstor.org/stable/302003.
    Jewanski, Jörg. Von der Farben-Ton-Beziehung zur Farblichtmusik, in: Jewanski, Jörg; Sidler, Natalia (Orgs). Farb – Licht – Musik. Synästhesie und Farblichtmusik. Berlin: Peter Lang, 2006.
    Lucassen, Teun. Color Organs. https://pdfs.semanticscholar.org/229e/239ab7e955886d0e553e1e50f73d2257df97.pdf
    See this Sound. http://www.see-this-sound.at.