Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Felipe Corrêa Bomfim (UNICAMP)

Minicurrículo

    Felipe Corrêa Bomfim é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Realizou doutorado sanduíche de curta duração na Universidade de Leeds (Inglaterra). Durante a sua graduação, em Cinema pela Universidade de Bolonha (Itália), realizou um intercâmbio de um ano na Universidade de Colônia (Alemanha) e estagiou na Cinemateca de Viena (Áustria), com o apoio do Projeto Leonardo da Vinci da União Europeia.

Ficha do Trabalho

Título

    Tendências de um olhar descolonizado: descontrole e tensões da imagem

Seminário

    Teorias e análises da direção de fotografia

Resumo

    Investigamos os desdobramentos estéticos na configuração da imagem da pele escura no cinema na produção britânica de filmes entre os anos 1985 e 1995 – em particular, os filmes inaugurais de Isaac Julien e John Akomfrah, respectivamente, Territories (1985) e Handsworth (1986) –como detonadores de dois elementos constitutivos no campo da imagem: primeiro, o questionamento sobre a construção da neutralidade forjada da imagem do branco e, segundo lugar,a reconfiguração da imagem do negro no cinema.

Resumo expandido

    Esta pesquisa investiga os desdobramentos estéticos na configuração da imagem da pele escura no cinema por meio do contexto particular da produção britânica de filmes entre os anos 1985 e 1995, realizados pelos cineastas Isaac Julien e John Akomfrah e seus respectivos coletivos, Black Audio Film Collective e Sankofa. Voltamos nosso olhar para as primeiras obras desses cineastas com o intuito de aferir as suas articulações como detonadores de dois elementos constitutivos no campo da cinematografia: primeiramente, o questionamento sobre a construção da neutralidade forjada que envolveu a imagem da pele branca na cinematografia e, em segundo lugar, o ímpeto no qual esses filmes avançam no sentido de uma reconfiguração da imagem do negro no cinema.
    Este impulso dos anos 1980, marcado pelo início da produção dos dois coletivos ingleses, ofereceu a visibilidade de modos distintos de figuração em relação à pele escura como alternativa plausível de subversão aos padrões previamente estabelecidos. Os esforços e suas negociações para estender o entendimento da pele negra no campo da cinematografia, encabeçados pelos dois coletivos britânicos mencionados, foram impulsados por diversas demandas de ordem política – como a repressão policial as comunidades negras e de imigrantes nas cidades de Londres, Birmingham, Bristol, entre outras no início da década de 1980 –, social e cultural – devido a uma larga intensificação das comunidades diaspóricas presentes em tais localidades.
    Em particular, os filmes inaugurais de Isaac Julien e John Akomfrah, respectivamente Territories (1985) e Handsworth (1986), descortinam a intenção de avançar no sentido de outras possibilidades de visibilidade e investigação sobre a própria imagem. Tais indícios apontam para um alargamento das fronteiras da figuração, investindo no deslocamento de um olhar viciado nas referências da tradição eurocêntrica da imagem com o intuito de expandir a fronteira de seus próprios usos e abranger possibilidades de expressão mais diversificadas. A configuração desse olhar descortina os modos de uso descolonizado da técnica cinematográfica, anteriormente considerada como limitante, que se adequam as demandas do cinema negro, que emerge a todo vapor em diversos lugares do mundo a partir dos anos 1980 com a utilização de materiais e suportes como o anteriormente consolidado 16mm e a recente chegada do vídeo.
    A conjuntura inaugurada por linhas de força presentes na década de 1980 como: o emprego de suportes para uso amador e doméstico – marcado pelo uso efetivo do vídeo e do longo percurso paralelo do formato 16mm em contextos familiares -, coadunado a um público mais interessado em tratar de temáticas de esfera mais pessoal do que privada favoreceu um discurso estético de coexistência e interdependência de duas esferas complementares no cinema: a ‘esfera pública’ – com a produção industrial cinematográfica e suas demandas – e, por outro lado, a ‘esfera privada’, que compreende as temáticas mais pessoais que abarcam a condição de ‘amador’ (ZIMMERMAN, 1995; WINSTON, 1996).
    Em consonância a esses pensamentos, as demandas pertinentes à esfera pessoal, como o discurso estético da reconfiguração da imagem da pele negra, são percebidas e assimiladas à imagem por meio da incorporação física e multissensorial da ‘visualidade háptica’ (MARKS, 2000) que engaja corporalmente o espectador à memória e à experiência cultural dos filmes e não simplesmente uma representação visual da sua experiência. Os procedimentos e técnicas ligados ao amadorismo – como as lógicas de um olhar articulado por imagens ‘fora do controle’ – e articulação de outros sentidos da imagem, como o ato de explorar sua superfície, compreendem as resistências e negociações que permitem que tais corpos circulem nas mais diversas janelas de um mundo diaspórico. Este movimento sintetiza as bases sólidas para os tensionamentos da produção simbólica de um lado (DYER, 1997) e do campo da cultura do outro (HALL, 2006; MARKS, 2000)

Bibliografia

    DYER, Richard. White. London: Routledge, 2017 [1997].

    ESHUN, Kodwo. The ghosts of songs. The film art of the Black Audio Film Collective. 1982-1998

    HALL, Stuart. Da diáspora. Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

    MARKS, Laura. The skin of the film. Intercultural Cinema,Embodiment, and the Senses. Duke University Press. Londres, 2000.

    WINSTON, Brian. Technologies of seeing. Photography and television. British Film Institute. Londres, 1996.

    ZIMMERMAN, Patricia R. Reel families. A social history of amateur film. Indiana University Press. Indianopolis, 1995.