Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Sofia Franco Guilherme (USP)

Minicurrículo

    Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECAUSP, na linha de pesquisa Cultura Audiovisual e Comunicação. Mestre em Meios e Processos Audiovisuais e graduada em Comunicação Social (Jornalismo) pela mesma Escola. Integrante do MidiAto – Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas.

Ficha do Trabalho

Título

    Construção audiovisual do espaço de criação de Deborah Colker em Start

Resumo

    O trabalho pretende analisar o potencial de produções audiovisuais que registram processos estéticos em dança contemporânea para revelar as buscas conceituais da coreógrafa Deborah Colker e sua perspectiva teórica e prática sobre o fazer desta arte. Para isso, escolhemos uma reportagem veiculada na “Série Corpos” do programa televisivo Starte, exibido pela Globo News, a fim de investigar o espaço de criação construído por meio da articulação entre elementos verbais e não-verbais no vídeo.

Resumo expandido

    O registro audiovisual dos processos de criação dos espetáculos de dança contemporânea tem potencial de revelar as buscas conceituais das companhias e suas perspectivas teóricas e práticas sobre a produção dessa forma de expressão artística. A análise do segundo episódio da “Série Corpos”, que nos traz uma perspectiva sobre o trabalho de Deborah Colker, exibida pelo programa Starte no canal televisivo Globo News em abril de 2014, permite-nos considerar os diferentes potenciais críticos e de expansão da experiência do público com os espetáculos apresentados por esses conteúdos audiovisuais.
    Pensamos no jornalismo cultural enquanto mediador das obras que apresenta, capaz de recriar e ressignificar um espetáculo de dança, por exemplo, ao oferecer um olhar por detrás das cochias para seu público. A reportagem escolhida constrói o espaço de criação de Deborah Colker por meio do jogo enunciativo entre linguagem verbal e não-verbal típico da mídia televisiva, e se aproxima do gênero documentário ao se basear no discurso referencial e explorar criativamente, na montagem, por exemplo, o tema abordado.
    O acesso às informações dos bastidores da criação abre uma nova gama de possibilidades de análise para as obras em questão, além de instigarem indagações sobre os processos de criação artísticas em geral, dentro de cada forma específica de arte. O objeto audiovisual escolhido para o estudo pode ser entendido como um “documentário sobre o processo” (SALLES, 2010, p.190), pois é uma narrativa posterior à estreia dos espetáculos, sobre o contexto e a história do processo de criação da coreógrafa.
    A “Série Corpos” apresenta Deborah Colker como uma coreógrafa ousada, capaz de fazer a ponte entre a dança contemporânea e o grande público. Desde a introdução do episódio são utilizadas cenas de ensaio na sede da companhia, onde notamos peças que fazem parte do cenário de alguns espetáculos, como a parede de escalada azul e vermelha de Velox (1995) e a escadaria cinza de Belle (2014). Percebemos então a importância do local de criação, pois a repórter visita o casarão da companhia no Rio de Janeiro e acompanha com equipe de filmagem momentos da criação do novo espetáculo.
    Estas imagens do espaço de criação contêm muita informação que não está necessariamente explicada na narrativa verbal, mas que pode ser interpretada pelos espectadores. Isto porque a forma como a coreógrafa organiza seu local de trabalho, as ferramentas que usa, os objetos que decoram a sede da companhia, dizem muito sobre seu processo criativo. “A forma como cada um se apropria de seu espaço fala de sua obra em construção e do próprio sujeito” (SALLES, 2006, p. 54).
    Os desafios e possibilidades físicas desse espaço são explorados pela coreógrafa na construção de sua dança. O processo de desenvolvimento espacial de um espetáculo para o outro, primeiro pela afirmação do plano vertical, depois colocando este plano em movimento, seguida pela inquietação com interferências no plano horizontal, é recriado nesta produção jornalística.
    A reportagem constrói uma narrativa verbal, guiada pelas entrevistas, e uma visual, articulada pelas relações entre as imagens de arquivo, cenas de espetáculos de dança e filmagens no local de trabalho da companhia. Essas duas camadas estão inter-relacionadas, porém não são completamente dependentes uma da outra. Ambas constroem e apresentam concepções de dança e seus processos de criação inseridos em um espaço. A imagem não é meramente ilustrativa e redundante em relação aos elementos verbais, ela abre novas chaves interpretativas para o telespectador.
    Consideramos, assim, a “Série Corpos” como uma produção fértil para a análise do jornalismo cultural em seus formatos audiovisuais. Para vencer a intraduzibilidade da informação estética da arte, “inseparável de sua realização” (CAMPOS, 1992, p.33), o telejornalismo precisa de um processo complexo de recriação do espaço de criação por meio de diversos recursos da linguagem audiovisual.

Bibliografia

    CAMPOS, H. Metalinguagem e outras metas. São Paulo: Perspectiva, 1992.
    CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2012.
    FREIRE, M.; SOARES, R. “História e narrativas audiovisuais: de fato e de ficção”. Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, v. 10, n. 28, 2013.
    MACHADO, A. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2000.
    PIZA, D. Jornalismo cultural. São Paulo: Contexto, 2011.
    SALLES, C. A. Arquivos de criação: arte e curadoria. São Paulo: Fapesp/Horizonte, 2010.
    ________. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Fapesp/AnnaBlume, 2004.
    ________. Redes da criação: construção da obra de arte. São Paulo: Horizonte, 2006.

    Videografia
    CULTURA. Starte – “Série Corpos”. Rio de Janeiro: GloboNews. Abril de 2014. Programa de televisão. Disponível em: . Acesso em: 27 ago. 2015.