Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Edileuza Penha de Souza (UnB)

Minicurrículo

    Capixaba, professora, historiadora, mestre em educação e contemporaneidade doutora em educação e comunicação. Pesquisadora e documentarista. Diretora, realizadora e curadora. Organizou a Coleção: “Negritude Cinema e Educação – Caminhos para implementação da lei 10.639/2003”, editado pela Mazza Edições, Belo Horizonte, aprovada no PNLD dos professores pelo FNDE em 2014. É a idealizadora e coordenadora da Mostra Competitiva de Cineastas e Produtoras Negras Adélia Sampaio

Ficha do Trabalho

Título

    Café com Canela – Cinema como estrategia de autocuidado e afeto

Seminário

    Cinema Negro africano e diaspórico – Narrativas e representações

Resumo

    Em contraponto aos aparatos racistas e estereótipos historicamente impressos no cinema sobre mulheres negras, apresento o filme Café com Canela, produzido Glenda Nicácio e Ari Rosa e destaco como essa obra têm possibilitado reflexões sobre o autocuidado. O objetivo é também apresentar os resultados de um grupo de recepção com o filme e as discussões sobre cinema e autocuidado que foram levantadas.

Resumo expandido

    Pensar o cinema a partir dos estudos de recepção possibilita compreender o processo identitário com que as pessoas assistem a um filme.

    Se analisarmos todo o fetiche, toda a mística que há em torno das tecnologias vamos observar ainda que elas nos são apresentadas como a possibilidade mágica de resolução de todos os problemas da contemporaneidade: a democratização, a liberdade de acesso etc. Como se essas tecnologias falassem por si mesmas, autonomizando-se do corpo ideológico, político, econômico, cultural do conjunto que é a sociedade. Como se essas máquinas não fossem projetadas, programadas e acionadas por pessoas que pensam e programam as estratégias de seu uso, que representam empresas, institutos científicos que, a partir de determinados objetivos, elaboram os discursos dos quais essas máquinas fazem parte.

    Para Mahomed Bamba (2013) os estudos de recepção ainda não formam um campo homogêneo enquanto área específica nos estudos do cinema, mas nos possibilitam construir uma revisão dos modelos analíticos e de como ocorre a espectatorialidade entre o público e a obra. Ou seja, os fatores sociais, culturais, políticos e econômicos da comunidade em que uma pessoa está envolvida irá influenciar diretamente no processo de recepção e de espectatorialidade.

    Desse modo, compreender e analisar a ética socioeducativa fincada na ancestralidade mediante discussão dos estudos de recepção é também observar os aspectos da vida privada – intimidades, amores, sonhos, desejo – que se entrelaçam nos objetivos deste trabalho, de modo a analisar a interação do cinema com o cotidiano das pessoas que fizeram parte dos grupos, suas histórias de vida, e o “papel educativo” que o cinema estabelece com o imaginário a que pertencem.

    O lugar da cultura na sociedade muda quando a mediação tecnológica da comunicação deixa de ser meramente instrumental para espessar-se, condensar-se e converter-se em estrutural: a tecnologia remete, hoje, não a alguns aparelhos, mas, sim, a novos modos de percepção e de linguagem, a novas sensibilidades e escritas”. (BARBERO, 2006, p. 54).

    A exibição do filme “Café com canela” permitiu assim uma articulação entre a produção e a recepção, “com o propósito de investigar como tais sujeitos se relacionam e se apropriam das produções audiovisuais (e dos imaginários que elas suscitam sobre a intersecção de gênero e raça) em suas práticas cotidianas e em seus processos de formação identitária” (FERREIRA, 2016, p. 19).

    O caminho da recepção considera que o próprio filme é uma construção narrativa e retórica. Somos levados a pensar na história contada e de como ela se aproxima ou não de nossas vidas, pois como afirma a pesquisadora Ceiça Ferreira: “A pesquisa de recepção indica formas diferenciadas de interpretação, negociação e ressignificação das representações audiovisuais e imaginários sobre as mulheres negras” (2016, p. 19).

    Assim, dadas as circunstâncias da vida real das pessoas, os grupos de espectadores apresentaram olhares diferenciados sobre o filme. Ou seja, os sentidos e sentimentos se materializam em experiências individuais e/ou coletivas que sustentam as diferentes visões de mundo.

Bibliografia

    ARAÚJO, Joel Zito. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Senac, 2006. 323 p.
    ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II.

    BAMBA, Mahomed (Org.). Teorias da recepção cinematográfica ou teorias da espectatorialidade fílmica? In: BAMBA, Mahomed. A recepção cinematográfica: teoria e estudos de casos. Salvador: Edufba, 2013. p. 19-66.

    FERREIRA, Ceiça. & SOUZA, Edileuza Penha de. Formas de visibilidade e (re) existência no cinema de mulheres negras. In: Karla Holanda; Marina Cavalcanti Tedesco. (Org.). Feminismo e plural: mulheres no cinema brasileiro. 1. ed. São Paulo: Papirus, 2018, v. 1, p. 175-18

    FÍGARO Roseli. Comunicação & Educação. São Paulo: Seguimento, 2000.

    SOUZA, Edileuza Penha de. Cinema na panela de barro: mulheres negras, narrativas de amor, afeto e identidade, 2013. Tese (Doutorado em Educação), Universidade de Brasília (UnB). Brasília, 2013.