Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Carlos Roberto de Souza (UFSCar)

Minicurrículo

    Graduado em cinema pela ECA/USP, mestrado em Artes pela USP e doutorado em Ciências da Comunicação pela USP com a tese “A Cinemateca Brasileira e a Preservação de Filmes no Brasil”. Funcionário aposentado da Cinemateca Brasileira onde trabalhou de 1975 a 2015. Professor colaborador do Programa de Pós- Graduação em Imagem e Som da UFSCar. Pós-doutorado com pesquisa sobre o impacto da chegada do som no cinema do Brasil. Desde 2016 presidente da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Desafios para a permanência da Preservação Audiovisual no Brasil

Mesa

    Desafios políticos e metodológicos da preservação audiovisual

Resumo

    A comunicação fará uma periodização da atividade de Preservação audiovisual no Brasil levantando as características e os desafios de cada fase. Da década de 1930 a meados da década de 1970: o surgimento dos movimentos de cultura cinematográfica e a criação dos primeiros organismos voltados à preservação. A segunda fase, até o final da primeira década do século XXI, caracterizada como de Expansão e consolidação da área. A fase atual, marcada pela crise que atinge a área de cultura e educação.

Resumo expandido

    A comunicação abordará inicialmente os primórdios da Preservação no Brasil, num período em que não havia clareza conceitual do campo. Reunir era o objetivo central, subordinado ao de exibir filmes em cineclubes. Organismos organizados na França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos criaram a Federação Internacional de Arquivos de Filmes. No Brasil, os germes do movimento foram os clubes de cinema de São Paulo, surgidos da vontade de se construir uma cultura cinematográfica. O segundo clube de cinema transformou-se na Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que gerou a Cinemateca Brasileira em 1956. Paralelamente, movimentos de cultura cinematográfica no Rio de Janeiro organizam-se e em pouco tempo cristalizam-se na Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro. O período se caracteriza por percalços de toda ordem, econômicos sobretudo, mas também políticos. Acima de tudo, sempre, a ignorância absoluta da classe política em entender a importância da cultura e da memória para a história – e o custo disso. Até meados da década de 1970 alternam-se momentos de efervescência e de agonia.
    O segundo período pode ser chama do Expansão, e se caracteriza por dois aspectos:
    A) O surgimento de uma geração oriunda de estudos universitários interessados no cinema enquanto manifestação cultural, social e histórica e que se preocupa e envolve nas atividades das grandes cinematecas para dinamizá-las e encontrar interlocutores na classe política e da administração pública que atuem no sentido de alocar recursos para a Preservação.
    B) O interesse e envolvimento efetivo de instituições públicas federais e algumas secretarias de cultura estaduais e municipais que, em geral mediante financiamento de projetos, destinavam recursos para as atividades de Preservação.
    De certa forma, as articulações dos dois aspectos forçam a especialização e profissionalização dos interessados na área, com a participação de brasileiros em cursos organizados pela Fiaf e em seminários e encontros oferecidos por arquivos europeus e americanos a partir da década de 1980.
    A incorporação da Cinemateca Brasileira ao governo federal em 1984 foi o grande marco: finalmente o Estado brasileiro possuía um órgão dedicado à Preservação do patrimônio audiovisual. Isso não resolveu os problemas da instituição, mas deu a ela o respiro suficiente para – através das leis de incentivo – captar recursos para desenvolver um laboratório de restauração e construir no país o primeiro depósito climatizado desenhado especificamente à adequada conservação de matrizes em película cinematográfica. A realização no Brasil, em 2006, de um Congresso Anual da Fiaf representa simbolicamente o apogeu dessa fase.
    A partir da segunda década do século XXI, há uma retração dos investimentos estatais nas atividades de Preservação. O desenvolvimento dos quadros profissionais da área, ocorrido no período anterior, estimulou a discussão e formação de associações “de classe”. A Associação Brasileira de Preservação Audiovisual é criada na Mostra de Cinema de Ouro Preto, em 2008, e congrega profissionais da área de todo o país. Em seus primeiros anos de atuação, a ABPA e a CineOP convocaram representantes do MinC e da SAv para diálogos. A discussão maior foi a ausência de uma política nacional de Preservação audiovisual. A urgência desse plano se tornava cada vez maior com a transformação da atividade audiovisual de estruturas analógicas – da produção à veiculação – em tecnologias digitais. Os membros da ABPA discutiram e, em assembleia de 2016, aprovaram o Plano Nacional de Preservação Audiovisual, que abarca necessidades e ações a serem desenvolvidas em todas as subáreas da Preservação. Dados os acontecimentos da história política brasileira recente, esse plano não chegou a ser discutido com os organismos federais envolvidos com o audiovisual. O atual governo extinguiu ministérios, secretarias e conselhos que seriam os interlocutores naturais com os profissionais de preservação no Brasil. E agora, o que fazer

Bibliografia

    Coelho, Maria Fernanda Curado. A experiência brasileira na conservação de acervos audiovisuais – um estudo de caso. Dissertação de mestrado apresentada à Escola de Comunicações e Artes da USP, 2009.
    Edmonson, Ray; Arquivística audiovisual – filosofia e princípios. Terceira edição revista e aumentada. Tradução: Carlos Roberto de Souza. Brasília: Unesco, 2018.
    Souza, Carlos Roberto de. A Cinemateca Brasileira e a preservação de filmes no Brasil. Tese de doutorado apresentada à Escola de Comunicações e Artes da USP, 2009.
    Quental, José Luiz de Araújo. A preservação cinematográfica no Brasil e a construção de uma cinemateca na Belacap: a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense, 2010;