Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Eduardo Tulio Baggio (Unespar)

Minicurrículo

    Professor e coordenador do Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo e professor do curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Unespar. Coordenador do ST Teoria dos Cineastas da Socine. Tem artigos publicados em revistas como Cine Documental, Doc Online, Galáxia e Cognítio. É um dos organizadores dos livros da série Teoria dos Cineastas, volumes 1, 2 e 3. Cineasta com ênfase em documentarismo.

Ficha do Trabalho

Título

    Propostas à Teoria dos Cineastas: cineasta-criação vs autor-autoria

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    O primeiro objetivo da comunicação é apresentar um debate entre os conceitos de autor e autoria em paralelo aos conceitos de cineasta e criação em busca de uma delimitação. A partir de tais conceitos, o segundo objetivo é apresentar uma proposta de compreensão dos possíveis papeis do(a) cineasta na criação cinematográfica e na inserção desta em nossa sociedade. Por fim, considera-se como tais papeis podem ser trabalhados por pesquisas que vinculadas à abordagem da Teoria dos Cineastas.

Resumo expandido

    Em sequência ao trabalho apresentado no Encontro da Socine de 2018, esta comunicação de pesquisa pretende retomar os conceitos de autoria e de criação no campo das artes cinematográficas e colocá-los em debate paralelo com outros dois conceitos, os de autor e de cineasta. A intenção é traçar uma linhagem da ideia de autoria vinculada, evidentemente, com o conceito de autor e, em linhagem análoga, porém não tão evidente, propor um vínculo da ideia de criação com o conceito de cineasta. Tal percurso argumentativo dará base para apontamentos a cerca dos papeis do(a) cineasta nos processos de criação cinematográfica e, ainda, pensar em como tais papeis se inserem em nossa sociedade, notadamente em como podemos pensar em diferentes agenciamentos desses papeis do(a) cineasta diante de questões fundantes das artes e da vida em sociedade. O objetivo, por fim, é refletir sobre algumas perspectivas de pesquisa via a abordagem da Teoria dos Cineastas que possam tornar-se indicativos de caminhos a serem seguidos e, assim, que possam colaborar com investigações futuras nesta abordagem.
    No campo dos estudos cinematográficos o conceito de autor é bastante conhecido via um percurso que nasce com a proposta da Política dos Autores e desemboca na Teoria de Autor. Tal percurso tem seu ponto de partida, essencialmente, nos textos fundadores de cariz crítico: “Nascimento de uma Nova Vanguarda: a câmera-stylo”, de Alexandre Astruc (1948); “Uma Certa Tendência do Cinema Francês”, de François Truffaut (1954); e o texto que deu nome à proposta “A Política dos Autores”, de André Bazin (1957). Em seguida esse percurso levou ao ponto em que houve a tentativa de que tal proposta fosse acolhida e conformada aos preceitos acadêmicos, inicialmente com o texto “Notes on the Auteur Theory in 1962”, de Andrew Sarris (1962) e, posteriormente, passou a ser revista e reconsiderada, como em “A Morte do Autor”, de Roland Barthes (1967) e, finalmente, em “O que é um Autor?”, de Michel Foucault (1969).
    Tal conceito de autor está vinculado ao ideário de autoria, relação especialmente desenvolvida em alguns textos como “The Auteur Theory”, segundo capítulo do livro “Signs and Meaning in the Cinema”, de Peter Wollen (1969) e retomado na compilação de textos “Theories of Authorship”, organizada por John Caughie (1981), na qual se destaca também “Ideas of Authorship”, de Edward Buscombe – posteriormente traduzido para o português. Caughie ainda retornou ao tema em “Authors and auteurs: the uses of theory” (2007).
    Se o percurso que liga o conceito de autor e a ideia de autoria é bastante conhecido e evidente, a segunda relação proposta para esta comunicação terá que ser traçada de forma a argumentar e trazer à baila a possibilidade de ligação entre o conceito de cineasta e a ideia de criação. Para isso, o princípio definidor de cineasta virá dos próprios estudos vinculados à Teoria dos Cineastas, notadamente nos textos Teorias dos Cineastas Versus Teoria do Autor, de Tito Cardoso e Cunha (2017) e “Observações sobre a ‘Teoria dos Cineastas’ – Nota dos Editores”, de André Rui Graça, Denize Araujo, Eduardo Baggio e Manuela Penafria (2017). Já a ideia de criação estará fundamentada em “O Ato de Criação”, de Gilles Deleuze (1987), em um texto que se refere diretamente ao de Deleuze chamado “Sobre ‘o ato de criação: o que é ter uma ideia em cinema?’, de Gilles Deleuze.”, de Alain Badiou (2003) e algumas discussões contemporâneas, como as presentes em “Del autor en la historia del cine. Revisiones y nuevas vías”, de José María Galindo Pérez (2015).
    O ápice dessa genealogia será a fonte para apontamentos de diversidade entre a linhagem autor-autoria e a linhagem cineasta-criação. Tal diversidade leva ao encontro de propostas de pesquisas também diversas, que serão apontadas como possibilidades para os estudos na abordagem da Teoria dos Cineastas no que tange às questões próprias do campo das artes, bem como para outras, relacionadas à vida em sociedade.

Bibliografia

    ASTRUC, Alexandre. Nascimento de uma Nova Vanguarda: A Caméra-Stylo. Revista Foco, 2012.
    BADIOU, Alain. Sobre “o ato de criação: o que é ter uma ideia em cinema?”, de Gilles Deleuze. In: YOEL, Gerardo (Org.). Pensar o Cinema: imagem, ética e filosofia. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
    BARTHES, Roland. A Morte do Autor. In: O Rumor da Língua. São Paulo: Brasiliense, 1988.
    BAZIN, André. La Politique des Auteurs. Paris: Cahiers du Cinéma, nº 70, April 1957.
    BUSCOMBE, Edward. Idéias de Autoria. In: RAMOS, Fernão (org.). Teoria Contemporânea do Cinema. V. 1. São Paulo: Editora Senac, 2005.
    PENAFRIA et al., 2017. (orgs.) Revisitar a teoria do cinema: Teoria dos Cineastas Vol. 3. Covilhã: UBI, 2017.
    DELEUZE, Gilles. O ato de criação. Folha de São Paulo, 27/06/1999.
    SARRIS, Andrew. Notes on the auteur theory in 1962. In: John Caughie (ed.). Theories of Authorship. London: BFI, 1981.
    TRUFFAUT, François. Uma Certa Tendência do Cinema Francês. Paris: Cahiers du Cinéma, nº 31, janeiro 1954.