Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcelo Vieira Prioste (PUC-SP)

Minicurrículo

    Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP. Professor universitário desde 1996. Atualmente leciona na PUC-SP. Membro da SOCINE – Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual e da ASAECA – Asociación Argentina de Estudios sobre Cine y Audiovisual. Durante o doutorado desenvolveu pesquisa sobre o cinema documentário latino-americano com enfoque na produção do cineasta cubano Santiago Álvarez Román (1919-1998).

Ficha do Trabalho

Título

    De Santiago a Roma: uma mirada patronal no Cinema Latino-Americano

Seminário

    Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados

Resumo

    Análise do filme Roma (México/USA, 2018) na perspectiva de sua busca por um efeito de reparação em relação ao passado, rememorando traumas pessoais do diretor e da história mexicana. Porém, ao trazer para o protagonismo a sua empregada, personagem de sua infância, o que emerge nesta alteridade é um distanciamento intransponível, que guarda similaridades àquele assumido por João Moreira Salles no documentário Santiago (Brasil, 2007), ao tentar retratar o mordomo que serviu sua família.

Resumo expandido

    Nas diversas entrevistas dadas para promoção do filme Roma (México/USA, 2018), o consagrado diretor mexicano Alfonso Cuarón reitera o caráter autobiográfico de sua obra. Numa experiência marcadamente autoral, desde a construção do roteiro aos processos de produção, fotografia e filmagem, Cuarón mergulha nas memórias de sua infância por meio de uma imagem espetacularizada de cineasta hollywoodiano que rememora episódios traumáticos de sua vida e da história do México, principalmente o Massacre de Corpus Christi ou El Halconazo, quando em Junho de 1971 mais de 120 estudantes foram mortos por um grupo paramilitar treinado pelo governo de Luis Echeverría Álvarez (1970-76).
    Porém, no centro dessa narrativa quem está é a personagem Cleo, empregada da família, jovem indígena de vida obliterada pela estrutura social mexicana e inspirada em sua babá na vida real (Libo Rodríguez). Se ao longo do filme Cleo se expressa em espanhol com os patrões e em mixteca, dialeto de grupos indígenas mexicanos, nas conversas com sua colega de serviço, contudo, sua subjetividade permanecerá inacessível ao longo da trama, envolta numa extenuante e cíclica ação laboral no espaço burguês do ambiente doméstico.
    Assim, enveredaremos por uma análise dos procedimentos de direção no filme Roma que, aliado a materiais extra-fílmicos centrados nas entrevistas do diretor, observaremos a perspectiva de um “filme de remissão patronal”, que busca por um efeito de reparação social conciliatória com o seu passado ao trazer para o centro da narrativa a personagem de sua infância, alguém cuja passividade repete-se agora como personagem fílmica. Posição acentuada pela direção maneirista, com enquadramentos socialmente hierarquizados somados a recorrentes e ostentosos travellings e planos-sequência, intensificando a distância para com a personagem que pouco se expressa.
    Um distanciamento similar aquele assumido e convertido em reflexão feita por João Moreira Salles no documentário Santiago (Brasil, 2007), ao contar a história do empregado (mordomo) que serviu a sua família por toda a infância.
    Dissensão que também havia sido tematizada no filme posterior do diretor brasileiro. Em No Intenso Agora (Brasil 2017), novamente pelo viés do documentário, Salles aborda a alienação da sua família, sua mãe principalmente, na efervescência política e cultural de 1968.
    É desta maneira que as reflexões do diretor brasileiro presentes em Santiago, muitas vezes de caráter confessional, sobre uma mirada patronal e as fronteiras no ato de filmar o subalterno, irão subsidiar uma análise fílmica da ficção mexicana em torno dos conceitos de voz e espaço na construção da mise en scène.

Bibliografia

    CÂMARA, Vasco. Alfonso Cuarón regressou ao México para resgatar a ama. (entrevista). Disponível em: https://www.publico.pt/2018/11/25/culturaipsilon/entrevista/alfonso-cuaron-regressou-mexico-resgatar-ama-1851867. Acessado em: 18/4/19.
    NOGUEIRA, Calac. Roma e os limites do visível. Revista Cinética, 2019. Disponível em: http://revistacinetica.com.br/nova/roma-e-os-limites-do-visivel/. Acessado em: 18/4/19.
    OLIVEIRA JR, Luiz Carlos. A Mise en scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo. Campinas: Papirus, 2013.
    PINTO, Ivonete. Roma e o México invisível. In: Revista Teorema, Porto Alegre, n. 30, p. 64-68, 2018.
    VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio Sobre a Análise Fílmica. Campinas: Papirus, 1994.