Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Arruda Carneiro da Cunha (UFPE)

Minicurrículo

    Pesquisadora de pós-doutorado (PNPD/CAPES) do Programa de Pós-graduação em Comunicação
    da Universidade Federa de Pernambuco. É doutora em Cinema pela Birkbeck, University of
    London e mestre em Estudos Críticos e Culturais pela mesma instituição.

Ficha do Trabalho

Título

    Devir ecológico: corporeidades não-humanas no cinema contemporâneo

Resumo

    Esta comunicação examina os desdobramentos das imagens da natureza, mais especificamente de florestas e bosques, em “Jin” (2013) e “Mulheres que cantam” (2014), dois filmes do realizador turco Reha Erdem que apresentam um forte engajamento com o não-humano e o meio ambiente. Trata-se de discutir o papel estético e ético da espacialidade em obras que se aproximam de uma abordagem não-antropocêntrica, a partir de uma perspectiva ecológica e de uma discussão sobre a materialidade do cinema.

Resumo expandido

    Imagens de florestas e bosques estão presentes no cinema, notadamente como cenários de filmes de certos gêneros, como é o caso dos filmes de terror. No entanto, uma produção recente de filmes de realizadores contemporâneos põe em evidência aspectos que vão além de uma interpretação simbólica desses lugares e paisagens. Esta comunicação examina os desdobramentos de imagens da natureza em filmes contemporâneos que buscam um forte engajamento com o não-humano e o meio ambiente. Trata-se de entender o papel estético e ético da espacialidade em filmes com tendência a uma abordagem não-antropocêntrica do cinema, a partir de uma noção de natureza como uma rede de seres orgânicos e inorgânicos sensíveis, cuja agência se espalha para além das formas de vida humana. Nesse sentido, a partir de uma perspectiva ecológica e de uma discussão sobre a materialidade do cinema, a pesquisa analisa os filmes “Jin” (2013) e “Mulheres que cantam” (2014) do realizador turco Reha Erdem, buscando, contudo, paralelos com a cinematografia de realizadores como Apichatpong Weerasethakul e Naomi Kawase, cujas obras desestabilizam perspectivas dominantes sobre a relação entre humanos e meio ambiente, ressaltando uma forma não-antropocêntrica de pensar o mundo.

    Ambos “Jîn” (2013) e “Mulheres que cantam” (2014) enfatizam corporeidades não-humanas do ponto de vista narrativo e estético. “Jîn” apresenta uma parábola ambiental a partir do conflito curdo-turco como reflexo da ruína da humanidade diante da natureza. A protagonista, Jîn, é uma guerrilheira curda que deserta a milícia e foge pela paisagem rural da Turquia, atravessando exuberantes florestas e paisagens montanhosas. Já “Mulheres que cantam” retrata o dia a dia de um grupo de moradores de uma ilha que, após receber um aviso para evacuar a ilha por conta da possibilidade de um terremoto, se recusam a deixá-la. Os que ficam passam a viver em um clima apocalíptico, em que, por exemplo, cavalos contraem uma doença misteriosa numa floresta e começam a morrer. Nos dois filmes, o tratamento dado à natureza e aos animais enfatiza a materialidade e a agência dos elementos não-humanos, além de levar o observador a sentir e pensar a natureza como uma experiência corpórea e afetiva.

    A análise se baseia nos conceitos de visualidada hápitca e tatilidade (Laura Mark, Giuliana Bruno), corporeidade (Vivian Sobchack) e afeto (Gilles Deleuze, Brian Massumi), e está fundamentada numa abordagem ecológica do cinema, como proposta por Timothy Morton, Anat Pick e Guinevere Narraway. Busca-se, portanto, pensar que funções a relação entre os corpos, a natureza e o afeto desempenha e que efeitos são produzidos a partir de uma aproximação com o não-humano, ou, para além da esfera da representação, a partir de uma conexão direta entre a materialidade da imagem e a materialidade do mundo, em razão da atribuição de uma agência aos elementos não-humanos. Em outras palavras, não se trata apenas de questionar como a natureza é representada, mas, fundamentalmente, como as imagens em movimento desafiam nossas ideias e noções filosóficas a respeito da natureza e do meio ambiente, e criam novas formas de imaginar a relação entre o humano e o não-humano.

Bibliografia

    Bennett, J. Empathic Vision. Stanford University Press, 2005.
    Berger, John. Why Look at Animals. In: About Looking. Londres: Vintage, 1992.
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    Ivakhiv, Adrian. Ecologies of the Moving Image: Cinema, Affect, Nature. Waterloo, ON:
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    Marks, Laura U. Touch: Sensuous Theory and Multisensuous Media. Minneapolis: University
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    Massumi, Brian. The Autonomy of Affect. Cultural Critique, No. 31, The Politics of Systems
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    Mazis, Glen A. Merleau-Ponty and the Face of the World: Silence, Ethics, Imagination and
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    Morton, Timothy. Hyperobjects: Philosophy and Ecology after the End of the World. University of Minnesota Press, 2013.
    Pick, Anat; Narraway, Guinevere (Orgs). Screening Nature: Cinema Beyond the Human. New
    York e Oxford: Berghahn Books, 2013