Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Maíra Norton (PPGE UFRJ)

Minicurrículo

    Doutoranda do PPGE/UFRJ e integrante do CINEAD/UFRJ. Formada em Comunicação pela ECO/UFRJ. Mestre em Artes pelo PPGCA/ UFF . Autora do livro Cinema Oficina: técnica e criatividade no ensino do audiovisual, Eduff: 2013. 
    Atua como educadora de cinema desde 2007 em escolas e espaços comunitários. É integrante do Coletivo Feminista M.A.R ( Maria Angélica Ribeiro), onde desenvolve desde 2016 o Cine Mulher (cineclube de filmes dirigidos por mulheres) no colégio Estadual CEMBRA em Paraty/RJ.

Ficha do Trabalho

Título

    O que se aprende quando se faz cinema com mulheres?

Seminário

    Cinema e Educação

Resumo

    O presente trabalho irá apresentar as experiências pedagógicas da oficina Cinema com Mulheres realizada com as alunas do curso técnico de formação de professores do colégio Estadual CEMBRA em Paraty. Intercalando a exibição de filmes dirigidos por mulheres com realizações de exercícios práticos, dentre eles o Minuto Alice Guy, a oficina se propôs a refletir e construir com as participantes uma poética feminista do cinema.

Resumo expandido

    A história do cinema é marcada pelo ocultamento da presença feminina na construção e criação da linguagem cinematográfica. As mulheres desde os primórdios do cinema realizavam filmes, tendo sido uma atividade bastante feminina até 1920. Com a industrialização do cinema, ao se tornar uma atividade lucrativa, as mulheres foram excluídas dos papeis importante de construção da narrativa, como nos mostra o documentário das irmãs Kuperber: E a mulher criou hollywood.

    Alice Guy-Blache, a primeira pessoa a dirigir uma ficção, realizou “A fada do repolho”, em 1896, alguns meses antes de Meliès. Apesar de seu pioneirismo, das contribuições que trouxe para o desenvolvimento da linguagem, de ter criado sua própria produtora e ter realizado mais de 200 filmes, Alice, que era conhecida e aplaudida pelos críticos da época, foi apagada da história. Seu nome não consta nos principais livros de história do cinema mundial. Como afirma Holanda: “vale o exercício de pensar sobre o que se diz quando se omite. A reivindicação de maior visibilidade dos filmes feitos por mulheres é, acima de tudo, política” (HOLANDA, 2017).

    Ao falarmos de um cinema feito por mulheres é importante ressaltar que não se trata de defender uma poética essencialmente feminina, como uma sensibilidade criativa resultante de um determinismo biológico. Ao mesmo tempo não podemos ignorar que apesar das diversidades e diferenças, as mulheres compartilham experiências de resistência em uma sociedade patriarcal que atravessam suas subjetividades e, por conseguinte, seus processos criativos, como aponta Lúcia Helena Vianna (2003) :

    “Penso que por poética feminista se deva entender toda discursividade produzida pelo sujeito feminino que , assumidamente ou não, contribua para o desenvolvimento e a manifestação da consciência feminista , consciência esta que é sem dúvida de natureza política (O pessoal é político), já que consigna para as mulheres a possibilidade de construir um conhecimento sobre si mesmas e sobre os outros, conhecimento de sua subjetividade, voltada esta para o compromisso estabelecido com a linguagem em relação ao papel afirmativo do gênero feminino em suas intervenções no mundo público. Consciência com relação aos mecanismos culturais de unificação, de estereotipia e exclusão. E ainda, a consciência sobre a necessidade de participar conjuntamente com as demais formas de gênero (classe, sexo, raça) dos processos de construção de uma nova ordem que inclua a todos os diferentes, sem exclusões. Poética feminista é poética empenhada, é discurso interessado. É política”(VIANNA, 2003).

    Na criação feminista está contida a possibilidade de mulheres falarem por si e através desse ato de subversão das hierarquias do sistema linguístico patriarcal, produzirem também uma nova compreensão de si mesmas.

    O presente trabalho irá apresentar as experiências pedagógicas da oficina Cinema com Mulheres realizada com as alunas do curso técnico de formação de professores do colégio Estadual CEMBRA em Paraty. A oficina faz uma introdução a linguagem do cinema a partir de uma re-visão histórica que revela a importância da presença das mulheres na construção de sua linguagem. Assistindo a trechos de filmes e curtas realizados por essas cineastas podemos observar outras formas de representar a mulher, de maneira mais diversa e complexa. Intercalando a exibição de filmes com realizações de exercícios práticos, dentre eles o Minuto Alice Guy, a oficina se propôs a refletir e construir com as participantes uma poética feminista do cinema.

Bibliografia

    FRESQUET, Adriana. Cinema e Educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. BH: Autêntica Editora, 2013
    HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs). Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro. Campinas, SP: Papirus, 2017.
    hooks, bell. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.
    hooks, bell. Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2018
    KILOMBA, Grada. A máscara. Cadernos de Literatura em Tradução, n. 16, 2016
    SCOTT, Joan. “História das mulheres”. IN: BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas. SP: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992.
    SELEM, Maria Celia Orlato. Políticas e poéticas feministas: Imagens em movimento sob a ótica das mulheres latino-americanas”. Tese de doutorado em História. Campinas: Unicamp, 2013.
    VIANNA, Lúcia Helena. Poética feminista – poética da memória. Revista Estudos Feministas, n4 2003