Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Lisandro Nogueira (UFG)

Minicurrículo

    Lisandro Nogueira é professor de cinema na Universidade Federal de Goiás (Goiânia), desde 1988. Ex-diretor da Cinemateca Brasileira em São Paulo (2013/14). Doutor em cinema pela PUC/SP e Mestre em cinema pela ECA/USP. Autor do livro “O autor da TV” (Edusp). Organizou Socine-2018 em Goiânia.

Coautor

    wertem nunes faleiro (UFG)

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema e “Performance Art”

Resumo

    O objetivo da pesquisa é observar a pertinência e as ligações do conceito de “Performance Art” com o cinema narrativo clássico (o melodrama), cinema documentário e o cine-ensaio. Apresentamos a fase da pesquisa em que se elencou as origens, a etimologia e os caminhos teóricos e práticos pelos quais o conceito de performances se desdobrou. Em seguida, realizamos a análise de “Jogo de Cena” de Eduardo Coutinho que demonstra a relação entre cinema e “Performance Art”.

Resumo expandido

    A pesquisa propõe um estudo das relações entre Cinema e Performance Art. Num primeiro momento aborda-se o Melodrama no Cinema de Narrativa Clássica, sob a perspectiva interdisciplinar das Performances Culturais, buscando compreender seus mecanismos e verificar sua vigência em filmes contemporâneos. Mais precisamente, verificar se o Melodrama, gênero subvalorizado pela crítica, persiste contemporaneamente como um dos principais modos de representação narrativa audiovisual na forma de “Imaginação melodramática”(Brooks, 1995). Que ele foi fundamental para a construção e consolidação da Narrativa clássica do Cinema, já foi amplamente demonstrado por estudiosos como HUPPEZ(2000), OROZ(1992), XAVIER(2003), O interesse aqui é investigar se o Melodrama ainda influencia na cinematografia contemporânea e se há relação entre o cinema de narrativa clássica (melodramático) com o conceito de “Performance Art”.
    Na pesquisa apresentaremos um breve estado da arte a respeito do(s) conceito(s) de Performances. Buscaremos desembaraçar esse conceito tão complexo, levantar suas origens, sua etimologia e obter um esclarecimento que permita discernir sobre os diversos caminhos epistemológicos pelos quais é possível trabalhar com esse conceito, já que “percebemos que existem vários paradigmas de performance, e não um só” (LANGDON, p. 165, 2007). Após esse mapeamento, poderemos escolher mais seguramente qual linha seria mais adequada para permitir estudos do Cinema Clássico sob o viés das performances culturais.

    Em seguida, a pesquisa realizou um estudo do Cinema Documentário e Cine-Ensaio relacionando-o ao campo interdisciplinar das Performances Culturais. Para isso, levantou a hipótese de que a mise-en-scène(encenação) é o lócus onde podemos encontrar performances no cinema. Foi feito um mapeamento dos diversos caminhos conceituais e metodológicos possíveis a partir das performances. Fizemos uma retomada do conceito de encenação desde suas origens no teatro, até o cinema contemporâneo, mais precisamente os filmes-dispositivo.

    A partir da obra do cineasta Eduardo Coutinho, apresentamos seu método, e elegemos seu filme Jogo de Cena(2007) como objeto de análise. Neste, verificamos a problematização extrema das definições ligadas a dicotomia atuação/representação, verdade/mimesis a partir de um dispositivo que propicia a manifestação de performances de seus participantes, sejam eles mulheres anônimas, atrizes conhecidas ou não, e até mesmo o próprio cineasta.

    Para entender o método que Coutinho engendrou em seus filmes, recorremos a Consuelo Lins (2004), que, tendo trabalhado com o cineasta em dois de seus filmes – Babilônia 2000 (1999) e Edifício Master (2002) – pôde observar, em campo, o trabalho do diretor. A partir da produção do filme Santa Marta (1987), Lins explica (2004, p. 61) que ele passaria a adotar dois princípios rígidos em suas produções: filmar em um espaço restrito (em apenas uma favela, no caso de Santa Marta) – e em um curto espaço de tempo (um período pequeno dentro do qual o filme tinha que acontecer, um dia, uma semana). Isso o desobrigava de construir discursos generalistas sobre um assunto.

    Dessa maneira, ele apresentava um recorte, uma amostra clara e bem definida daquilo que queria retratar. Coutinho pensava que “delimitar claramente uma geografia era se ater – dentro da multiplicidade de escolhas possíveis ao realizar um documentário – a algo de essencialmente concreto, era criar os seus próprios limites, inventar sua própria ‘prisão’” (LINS, 2004, p. 65). A restrição do espaço e do tempo também era uma espécie de desafio que o obrigava a mergulhar verticalmente na matéria em que estava trabalhando no filme, pois dali teria que sair algo, não haveria chance de continuar o filme em outros espaços ou períodos. Isso também permitia que ele “controlasse” esse mundo com o qual iria lidar na hora da captação.

Bibliografia

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