Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Cauê Oliveira Dias Batista (USP)

Minicurrículo

    Mestrando em Meios e Processos Audiovisuais, linha de Teoria e Crítica, na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense, com trabalho de conclusão sobre composição nos filmes de Griffith para a Biograph. Pesquisa o trabalho de concepção e realização de três filmes de Jacques Rivette: Duelle, Noroît e Histoire de Marie et Julien. Tem como área de interesse aspectos de composição em cinema e cinema comparado.

Coautor

    Felipe Soares Lopes (USP)

Ficha do Trabalho

Título

    A proliferação de recusas: Suplício de Uma Alma e Paris Nos Pertence

Resumo

    Este trabalho pretende efetuar uma comparação entre os filmes Suplício de Uma Alma e Paris Nos Pertence a partir do texto de Jacques Rivette (realizador de Paris Nos Pertence) sobre o filme de Fritz Lang, “La Main”. Nesse texto Rivette elenca uma série de procedimentos de realização que culminariam na recusa a uma verossimilhança de trama e de construções de situações e atmosfera.

Resumo expandido

    Em novembro de 1957 Jacques Rivette escreve o texto “La main” para os Cahiers du Cinèma, a respeito de Suplício de Uma Alma, de Fritz Lang. Ponto central do texto, “a proliferação de recusas que sustentam a própria concepção do filme, e que possivelmente a constituem”: Rivette defende que Lang recusa uma verossimilhança de trama e de construções de situações e atmosferas, para chegar a um determinado resultado. A primeira parte do trabalho consiste em ir ao texto, destacar a argumentação de valores que o crítico faz e os conceitos que ele elabora. Dentre eles a já citada recusa, mas principalmente a ideia de Lang enquanto um “cineasta do conceito”, em seus desdobramentos aplicados a este filme (que são elencados como a objetividade, o negativismo, e a busca da verdade no inverossímil). Posteriormente a obra é confrontada com o texto: partindo desses estratagemas colocados por Rivette, a intenção é conferir o que está evidente no filme, quais argumentos se sustentam e encontram correspondência e quais são mais frágeis – o que é propriamente do texto e o que é propriamente do filme. A resultante é a defesa, por parte do trabalho, que a preocupação do autor nesse caso, mais do que o estudo de caso de um filme, é a defesa de valor de resultados que deveriam ser buscado com a realização cinematográfica, mesmo que não de forma absoluta (em nenhum momento o crítico postula que esse é o cinema que deve ser feito, mas sim uma maneira interessante de ser feito).
    Em 1961, quatro anos após o texto, Jacques Rivette estreia seu primeiro longa-metragem, Paris Nos Pertence. A segunda parte do trabalho é uma comparação direta entre Suplício de Uma Alma com este filme, levando em consideração as diferenças de procedimentos entre as duas obras (no que se refere a condução da trama, a abordagem dos personagens, a movimentação dos atores, as escolhas de montagem e principalmente as diferenças de contexto e condição de realização). Essa análise tem como ponto de apoio os argumentos articulados no texto de 1957: entender o que da defesa do crítico permaneceu no trabalho do realizador, e principalmente constatar em quais resultados semelhantes chegaram os dois cineastas, mesmo partindo de procedimentos diferentes.
    O trabalho então defende que Jacques Rivette, ao realizar Paris Nos Pertence, não tenta emular uma “maneira” a lá Fritz Lang na realização, o cineasta tem a sua autonomia nas escolhas formais e na forma de conceber o filme. Mas os resultados a que chega e o tipo de recusa que o filme se apoia, mesmo partindo de procedimentos diferentes, não apenas ecoa os resultados de Suplício de uma Alma, como os destaca e radicaliza. Conclui-se então que há uma ligação entre o trabalho do crítico e do realizador, de elucidar procedimentos e resultados que considerava pertinentes dentro de alguns filmes e posteriormente potencializar esses resultados, mesmo partindo de procedimentos diferentes. Dentro das diferenças consideráveis de contexto e estrutura de realização entre o filme de Lang e o de Rivette, os indícios de que os dois filmes encontram um ponto de convergência, e esse ponto já ter sido enunciado em texto pregresso ao filme, ou seja, já ser algo no mínimo parcialmente consciente por parte do realizador, faz desse um encontro raro. E deixa em aberto um desafio de abordagem: sendo Paris nos Pertence um marco dentro da Nouvelle Vague e, de certa forma, dentro da denominação genérica dos “Cinemas Novos”, procurar olhar esses filmes não do ponto de vista da ruptura, mas de uma continuidade radicalizada, e no caso deste filme e de outros, uma continuidade radicalizada que foi primeiramente concebida enquanto crítica.

Bibliografia

    RIVETTE, Jacques. “La main”, Cahiers du Cinéma n 76, novembro de 1957
    DANEY, Serge “La machine infernale — L’Invraisemblable verité”, Libération, 18 de julho de 1981.
    FRAPPAT, Helene. “Jacques Rivette, secret compris”, Cahiers du Cinema, janeiro de 2001.
    BAECQUE, Antoine. “Les Cahiers du Cinéma – Histoire d’une revue, tome 1: A l’assaut du cinéma, 1951-1959”, Cahiers du Cinéma, março de 1991.
    ______ . “Les Cahiers du cinéma, Histoire d’une revue, tome 2 : Cinéma, tours et détours, 1959-1981”, Cahiers du Cinéma, novembro de 1991.
    ______ . “La Cinéphilie”, Pluriel, maio de 2013.
    BOZON, Serge. “A tort”, Cahiers du Cinéma n 685, janeiro de 2013.