Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Flavio Guirland Vieira (Ulbra)

Minicurrículo

    Flávio Guirland é mestre em Multimeios pela Unicamp e professor de Produção Audiovisual. Lecionou na Universidade de Passo Fundo (UPF) e na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). É editor da revista Teorema – Crítica de Cinema. Tem como área de interesse a pesquisa sobre found footage: sua história, suas formas estéticas e poéticas.

Ficha do Trabalho

Título

    O cinema de arquivo e o conceito de inconsciente ótico de W. Benjamin

Resumo

    Pretendemos, através da análise do filme () a.k.a. Parentheses, de Morgan Fischer, estabelecer algumas relações entre o cinema de arquivo e determinados conceitos formulados por Walter Benjamin, especialmente aqueles referentes à leitura dialética da história e ao inconsciente ótico. A partir dessa comparação, lançamos uma hipótese: o corpo teórico de Benjamin revela-se uma ferramenta importante para compreendermos melhor essa prática audiovisual tão difundida no século 21, o found footage.

Resumo expandido

    Morgan Fischer é um realizador pertencente ao cinema experimental americano, em atividade desde os anos 1970, e é considerado um dos cineastas canônicos do movimento. O seu filme () a.k.a. Parentheses (2003) é constituído inteiramente de imagens de arquivo – imagens obtidas de filmes narrativos da indústria do cinema, os chamados “filmes B”, nenhum deles familiar ou facilmente reconhecível. São imagens irrelevantes que, por esquecimento ou deterioração, provavelmente teriam se perdido. Entretanto, a maneira como o filme encadeia os planos, nos ajuda a perceber alguns aspectos da narratividade audiovisual tal como foi praticada em um certo período da história do cinema. Assim, o filme nos proporciona uma análise do funcionamento da narrativa clássica, dentro de um repertório específico de imagens, oferecendo-nos, desse modo, um acesso ao inconsciente ótico do cinema de gênero.

    O inconsciente ótico é um termo que Walter Benjamin utilizou numa variedade de conotações, em diferentes ensaios. Miriam Hansen, em seu livro Cinema and Experience, observa que “o inconsciente ótico refere-se principalmente à projeção psíquica e à memória involuntária acionadas no espectador quando ele percebe algo oculto nas imagens, algo que ninguém percebeu na época em que elas foram exibidas.”

    Na interpretação de Hansen, “o lampejo fugidio de um momento pertencente ao passado” pode ser lido “em termos de uma indicialidade fotográfica entendida em seu senso estrito”, mas ela explica que Benjamin buscava entender a imagem fotográfica – aqui a imagem cinematográfica – como uma forma de “preencher a lacuna entre a inscrição e a recepção”, ou, em outros termos, entre o passado e o presente.

    Portanto, o conceito de inconsciente ótico está ligado a um outro conceito fundamental na obra de Benjamin, o de interpretação dialética da história. O inconsciente ótico apresenta-se, então, como um “link” entre a tecnologia e o imponderável, mas ele opera também como uma função do inconsciente coletivo – uma forma invertida do conceito de fantasmagoria, uma vez que o passado aqui evocado não é privado, mas coletivo, um “passado de arquivo”.

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de História. In: Obras escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1996.
    ___________. Pequena história da fotografia. In: Obras escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1996.
    ___________. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Obras escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1996.
    HANSEN, Miriam. Cinema and experience: Siegfried Kracauer, Walter Benjamin and Theodor Adorno. Berkeley: University of California Press, 2012.
    RUSSEL, Catherine. Arquiveology – Walter Benjamin and archival film practices. Durham: Duke University Press, 2018.