Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Natalia de Oliveira Conte Delboni (Unesp)

Minicurrículo

    Doutoranda pela Universidade Estadual Paulista (Unesp, Bauru/SP), pesquisa cinema nacional, com foco em Cinema Marginal. É Mestre em Comunicação Midiática, também pela Unesp, onde dissertou sobre adaptação literária e estética. Pela Universidade do Sagrado Coração possui graduação em Jornalismo e especialização em Comunicação Organizacional. Atualmente é docente na Faculdade IESB (Instituição de Ensino Superior de Bauru), Fabau (Faculdade de Bauru) e Universidade Paulista (Unip).

Ficha do Trabalho

Título

    A abertura da margem: proposta de análise do cinema de Ozualdo Candeia

Resumo

    A história do cinema brasileiro foi marcada pela influência estrangeira, porém, a busca por identidade audiovisual desenvolveu experimentações narrativas e estéticas. É o caso de “A Margem”, de Ozualdo R. Candeias, que une poética e técnica em uma obra que denominaria uma fase histórica: cinema marginal. Esse artigo analisa a abertura interpretativa e a experiência estética, bem como o conceito de poiésis, aisthésis e katharsis aplicados à obra. Os autores Eco e Jauss foram base desse estudo.

Resumo expandido

    INTRODUÇÃO
    A expressão “Cinema Marginal” corresponde ao período cinematográfico brasileiro entre os anos finais da década de 60 e começo de 70. Fase da história nacional em que o país estava dominado por uma ditadura de imprensa e rigorosa fiscalização do conteúdo midiático. Nesse momento, cineastas buscavam em suas produções inflexões de contracultura, ignorando a censura e criticando as tendências realistas do cinema tradicional. A subversão da linguagem cinematográfica ganha foco em detrimento do engajamento político direto que o Cinema Novo propunha, indicando uma forma antagônica de se fazer cinema no Brasil.
    As produções realizadas nesse período ganham destaque pelo seu conteúdo inovador, buscando uma experiência estética desde a sua formação narrativa até a concepção final de sua mise-en-scène. Entre esses ousados cineastas, encontra-se Ozualdo R. Candeias, considerado um dos pioneiros do Cinema Marginal, principalmente com a sua primeira obra: “A Margem”, de 1968.
    Dado ao seu caráter estético da obra de Candeias, o filme “A Margem” é caracterizado por uma produção cinematográfica que foge de padrões tradicionalistas, iniciando com câmera subjetiva, poucos diálogos e precisão fotográfica diante dos olhares de seus personagens.
    Segundo Ramos, em seu estudo “Cinema Marginal (1968/1973): a representação em seu limite”, o fato de “A Margem” ter sido filmado ao redor do rio Tietê e ao lado de uma favela paulistana, onde a visão é tomada pela miséria e pela sujeira, como os personagens transitam nesse ambiente e a narrativa fragmentada é que o tornaria essa obra precursora do marginal. No entanto, alguns aspectos centrais destoam da estética dos filmes que seguiriam a partir de 1968. “Um destes traços é, sem dúvida, a ausência da dimensão irônica da curtição/avacalho e, principalmente, a busca do sublime dentro do abjeto, dimensão totalmente ausente no Cinema Marginal que se desenvolveria a seguir” (Ramos, 1987, p. 87)
    METODOLOGIA
    Iniciado os estudos na Escola de Constance, na República Democrática da Alemanha, em Berlim, a Teoria da Estética e da Recepção orientou a avaliação de “A Margem” durante todo esse trabalho. Segundo Jauss (2002), essa vertente acadêmica tem premissas para investigações científicas de obras de arte em seu tempo, espaço e contraste com a contemporaneidade.
    Para esse apoio interpretativo, Jauss define três práxis sobre as manifestações histórico-artísticas: a poiésis, a aisthésis e a karthasis, ou seja, a experiência estética não se inicia pela compreensão e interpretação do significado de uma obra, menos ainda pela reconstrução da intenção de seu autor. “A experiência primária de uma obra de arte realiza-se na sintonia com seu efeito estético, isto é, na compreensão fruidora e na fruição compreensiva”. (JAUSS, 2002, pg. 69).
    Visto que cada receptor possui um legado de experiências comunicativas e culturais o conceito de “Obra Aberta”, do pesquisador italiano Umberto Eco, se faz pertinente ao refletir que Candeias nos dá espaços não delimitados para a experimentação do prazer estético ao vislumbrarmos o filme “A Margem”.
    RESULTADOS E DISCUSSÕES
    Esse trabalho investigou o prazer estético possível ao fruir pela obra de Candeias. Assim, concepções de estruturação fílmica, condições sociais e históricas e considerações teóricas propiciaram discussões sobre conceitos de abertura interpretativa da obra de Candeias. Através da estética autoral de Cadeias, foi possível reconhecer as instâncias de poiésis, aisthésis e Katharsis proporcionada pela obra, além da valorização do lírico em detrimento da objetividade.
    CONCLUSÕES
    Candeias foi um cineasta que utilizou de recursos não inovadores para propor uma exclusão do espectador diante às cenas dos personagens que vivem à margem de algo. Sua linguagem é mais voltada para o existencialismo que ao objetivismo, ao contrário de grandes filmes no cinema nacional. “A Margem” trabalha com alegorias e a noção do simbólico, o que propõem uma abertura interpretativa maior.

Bibliografia

    CHEVALIER, Jean. Diccionario de los símbolos. Editorial Herder. Barcelona, Espanha. 1986.
    ECO, Umberto. Interpretação e Superinterpretação. Editora Martins Fontes. São Paulo, S.P, 1993
    ECO, Umberto. Obra Aberta. Editora Perspectiva, São Paulo,SP, 2002.
    FERREIRA, Jairo. Cinema de Invenção. Editora Limiar. São Paulo, 2000.
    FIGURELLI, Roberto. Hans Robert Jauss e a Estética da Recepção. Revista Letras, [S.l.], v. 37, dez. 1988. ISSN 2236-0999. Disponível em: . Acesso em: 24 de julho de 2017. doi:http://dx.doi.org/10.5380/rel.v37i0.19243.
    JAUSS, Robert Hans, et al. Coordenação e tradução de Luiz Costa Lima. A Literatura e o leitor: textos de estética da recepção. Rio de Janeiro,RJ. Editora Paz e Terra. 2002.
    Puppo, Eugênio. Portal Brasileiro de Cinema. Acesso em: 20 de junho de 2017. http://www.portalbrasileirodecinema.com.br/
    RAMOS, Fernão. Cinema Marginal (1968/1973) – a representação em seu limite. São Paulo: