Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Alexandre Figueirôa Ferreira (Unicap)

Minicurrículo

    Alexandre Figueirôa é Doutor em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais pela Universidade Paris 3. É crítico e pesquisador de cinema, professor adjunto do curso de Jornalismo, da Especialização em Estudos Cinematográficos e do mestrado em Indústrias Criativas da Universidade Católica de Pernambuco. Publicou, entre outros, os livros Cinema Novo, a Onda do Jovem Cinema e sua Recepção na França (2004); O Documentário em Pernambuco no Século XX, com Claudio Bezerra (2016).

Coautor

    Claudio Roberto de Araujo Bezerra (UNICAP)

Ficha do Trabalho

Título

    Preservação e memória na atuação do crítico-cineasta Fernando Spencer

Resumo

    A manutenção de acervos cinematográficos é fundamental para a preservação da memória do cinema brasileiro. Em Pernambuco, o cineasta e crítico Fernando Spencer é um nome incontornável, sobretudo pelo papel que desempenhou na preservação do Ciclo do Recife, tanto nas páginas do jornal Diário de Pernambuco, quanto no período em que foi diretor da Cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.

Resumo expandido

    A conservação e a guarda de filmes é uma ação fundamental para a preservação da memória do cinema em todo o mundo. No Brasil, é sabida as dificuldades para manutenção dos acervos cinematográficos do país, a exemplo da Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Em 1981, Carlos Augusto Calil já observava:

    “Todos conhecemos a impossibilidade de se reconstituir, no Brasil, o copioso acervo de filmes, aqui produzidos desde 1898. O descaso e a diversidade climática e a própria friabilidade da película cinematográfica são responsáveis pelo desaparecimento de quase toda a produção até nossos dias. O que sobreviveu foi obra do mero acaso.” (CALIL, 1981, p.12)

    Passados 38 anos, a situação dos acervos melhorou um pouco, mas, como assinalou Calil, naquele momento, a coleção de filmes existentes não era representativa da evolução do cinema brasileiro, pois apenas momentos dessa evolução é que se encontravam preservados.

    Em Pernambuco, a situação dos acervos também sempre foi marcada pela penúria. O Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (MISPE) possui uma coleção de filmes, mas que está longe de ser representativa de tudo que foi realizado no estado. Outro acervo local é o da Cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), inicialmente uma filmoteca, transformada em cinemateca em 1982.

    Nesse contexto, um nome, porém, chama atenção. Entre as obras do “mero acaso”, como citou Calil, um momento do cinema brasileiro, ou parte dele, sobreviveu a tragédia do desaparecimento completo: o Ciclo do Recife. E foi graças ao crítico e cineasta Fernando Spencer, que temos hoje um acervo de filmes (ou trechos deles), textos e fotos de um dos ciclos mais importantes do cinema brasileiro. No período em que foi diretor da Cinemateca da Fundaj, graças ao bom relacionamento que tinha com o cineasta Jota Soares, diretor de A Filha do Advogado (1926), Spencer empreendeu uma série de ações que recuperou a memória material e imaterial do Ciclo do Recife. Soares, foi um dos pioneiros do cinema pernambucano e possuía um arquivo pessoal, sendo uma espécie de guardião do Ciclo.

    Fernando Spencer, além de cineasta e crítico do jornal Diário de Pernambuco, exerceu uma militância constante a favor de tudo que dizia respeito à arte cinematográfica. Foi defensor da profissionalização da produção de filmes, do cineclubismo, criou o Cinema de Arte do Recife e, como diretor da Cinemateca a partir de 1980 – cargo que ocupou por 20 anos –, articulou várias ações ligadas a preservação de filmes.

    A consciência da importância de se manter uma memória do cinema pernambucano, todavia, já era um fato quando Spencer ainda estava dando os seus primeiros passos como crítico de cinema. Em 1962, ele abriu a página de cinema por ele editada, para que Jota Soares publicasse uma série de crônicas na coluna denominada Relembrando o cinema pernambucano. Nos anos 1980, ele retomou essa preocupação como relata Regina Behar:

    “Os filmes de Fernando Spencer sobre o Ciclo do Recife são marcados pelo seu compromisso com a preservação da memória; com a missão que lhe foi transmitida por Jota Soares que o tornou, após a morte deste, o novo guardião do legado dos pioneiros. (…) Spencer teve um papel fundamental no que se refere à preservação da memória do movimento, quando assumiu a direção da Cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco. Foi com sua intermediação que a Fundação adquiriu o arquivo de Jota Soares e adquiriu cópias restauradas dos filmes do Ciclo do Recife junto à Cinemateca Brasileira.” (BEHAR, 2003)

    É essa atuação de Fernando Spencer como guardião herdeiro do Ciclo do Recife e suas outras iniciativas em prol da preservação de obras cinematográficas que nos debruçaremos, lembrando que esse trabalho é resultado das investigações para a pesquisa “A produção jornalística e cinematográfica de Fernando Spencer e sua contribuição à cultura pernambucana”.

Bibliografia

    BEHAR, Regina. Labirintos da memoria no cinema pernambucano: o “ciclo” da década de 20. In: ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, João Pessoa, 2003.
    BEZERRA, Cláudio R. A.; FIGUEIRÔA, Alexandre. O documentário em Pernambuco no século XX. Recife: FASA/MXM Gráfica e Editora, 2016.
    CALIL, Carlos Augusto M. Cinemateca imaginária: cinema & memória. Rio de Janeiro: Embrafilme, 1981.
    CUNHA, Paulo. Relembrando o cinema pernambucano. Recife: Editora Massangana, 2006.
    FIGUEIRÔA, Alexandre. O crítico-cineasta das mil faces. In: Anais de Textos Completos do XXII Encontro SOCINE [recurso eletrônico] / Organização editorial Angela Freire Prysthon… [et al.]. São Paulo: SOCINE, 2018.
    FIGUEIRÔA, Alexandre. Cinema pernambucano: uma história em ciclos. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2000.