Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Roderick Steel (USP)

Minicurrículo

    Artista Visual, fotografo, pesquisador e documentarista, Roderick formou-se em cinema nos E.U.A. Atualmente é doutorando em Poeticas e Técnicas na ECA/USP, em Meios e Processos Audiovisuais. Em sua obra, parte de experimentações visuals para abordar questoes ligadas a performance e o cinema expandido. Participou de festivals etnográficos, de cinema e arte contemporanea corn trabalhos de video, performance, video-performance, etnografia experimental, pintura e instalação.

Ficha do Trabalho

Título

    CINE-PERFORMANCE: Montagens espaciais e temporais entre a PERFORMANCE

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Esta proposta baseada na prática tem como objetivo discutir a relação entre a arte da performance e os dispositivos audiovisuais experimentais. Pretende delinear como o corpo performativo cria montagens entre espaços e tempos distintos, e como estes arranjos corporais se potencializam na construção de artefatos audiovisuais concebidos para cinema, vídeo-instalação ou vídeo-performance, tendo como base o filme autoral “Cruz Branca Terra Preta”. Link: https://vimeo.com/320749596 (senha/abre)

Resumo expandido

    Como o corpo performativo cria montagens entre espaços e tempos distintos, e como estes arranjos corporais são transpostos para artefatos audiovisuais é uma das questões fundamentais para entender a “Cine-Performance”, um conceito aqui sugerido e defendido com o intuito de ampliar a atuação de áreas díspares como: Desenho de Performance, que se configura atualmente entre a performance e o desenho de cena; Teoria de Montagem do cinema defendida por Eisenstein; o termo “agenciamento” usado por Deleuze e Guattari que nos possibilita pensar em assemblage, algo que se faz entre linguagens e dispositivos.
    Se um corpo performático intervém no mundo, “montando” relações através de uma intervenção corporizada, o cinema se apoia de um método similar para intervir conceitualmente nas imagens do mundo através da montagem. Pode ser que este é justamente o desafio principal do corpo na performance, de fazer em tempo real e ao vivo “cortes secos”, “elipses”, montagens dialéticas, paratáticas e afins, criando relações entre objetos e imagens e, principalmente, entre tempos e espaços. A performatividade audiovisual não difere muito disso: constrói uma peça audiovisual como se fosse uma performance também, porém dentro de outro tipo de corpo. Altera tempos e espaços no corpo cinemático. Convém perguntar quais as intersecções dessas linguagens e o que podemos aprender deste entrelaçamento e, especificamente, da maneira distinta em que a performance corporal e audiovisual lidam com o espaço e tempo.
    Michel Foucault descreve espaços não homogêneos, ou ‘heterotópicos’, como sítios geográficos de justaposição. A heterotopia junta lugares diferentes incompatíveis entre si num único espaço. Foucault cita como exemplo o Teatro por sua característica de justapor no palco ‘toda uma série de lugares que são estranhos um ao outro’ (FOUCAULT, 1986.p. 75). Uma peculiaridade da performance arte é de justapor estes sítios através do corpo: um corpo que desaparece depois da performance. Alguns autores citam um “loop de retroalimentação” entre a arte da performance e o espaço, que ocorre dentro de uma montagem presencial. O corpo do performer monta, orquestra e se surpreende com a totalidade dessas relações emergentes ao vivo.
    Desde os anos 70, quando a Arte de Performance começou, até os anos 90, autores como Peggy Phelan defendem que é impossível documentar relações e entrelaçamentos entre esses tantos fatores que se fazem presente durante a arte da performance. Outra autora, Erika Fischer Lichte enfatiza: “Todo intento de capturarla en un artefacto por medio de un registro magnetofónico o de video está condenado al fracaso.” (FISCHER-LICHTE, 2011, p. 36) Pode ser que é principalmente a espacialidade do sítio específico e o contexto específico do lugar (sua história, significado etc..) que a captação audiovisual de performance tem deixado de captar. Especialmente porque cabe ao performer criar a perspectiva ou conceito que conduz um recorte do olhar sobre este sítio tão específico, através do seu corpo.
    Quem faz cinema sabe que o espaço não é um mero suporte, mas protagonista e passível de ser identificado com qualidades narrativas e/ou performativas. No cinema, cenários ganham a importância de personagens e se comunicam o tempo inteiro. A locação cinematográfica é desenhada e contamina a interpretação dos atores. O sítio geográfico ganha voz através do aparato cinematográfico. Ademais, no cinema a montagem é capaz de juntar espaços incompatíveis em tempos diferentes (câmera lenta, stop motion, etc…)
    Com base no filme autoral “Cruz Branca Terra Preta” (lançado em 2019), que transita nas intersecções entre as Artes Visuais, Estudos de Performance e Cinema, irei apontar como uma prática experimental direcionou essa pesquisa sobre Cine-Performance. O filme transita entre a “Performance Art” a “Live Art” e o registro documental, e foi montado num dispositivo de vídeo-torre: três canais de vídeo montadas verticalmente.

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. What is a Dispositor? (transcrição de palestra por Jason Michael Adams), http://www.zoepolitics.com/transcript.html (2005)
    DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 2006.
    ________. Cinema 1 (The Movement Image) University of Minnesota Press, 1986.
    ________. Cinema 2 (The Time Image). University of Minnesota Press, 1989.
    ________.¿Que és un dispositivo? In: Michel Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990.
    DIXON, Steve. Digital Performance. A History of New Media. MIT Press, 2007.
    EISENSTEIN, Sergei. The Film Sense. London: Faber & Faber, 1960.
    FISCHER-LICHTE, Erika. Estética de lo Performativo. Abada Editores, 2011.
    FOUCAULT, Michel. Of Other Spaces: Utopias and Heterotopias. Architecture /Mouvement/ Continuité October, 1984.
    PHELAN, Peggy. A ontologia da performance: representação sem reprodução. Revista de Comunicação e Linguagens, Lisboa: Edição Cosmos, n. 24, p.171-191, 1997. (não localizado)