Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Yuri Garcia Piedade Kurylo (UNESA)

Minicurrículo

    Doutor e Mestre em Comunicação Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Coordenador do grupo de pesquisa “Transposições das Narrativas de HQ no Cinema”. Atua no grupo de pesquisa “Culturas Tecnológicas: medialidades, materialidades e temporalidades” coordenado pelo prof. Dr. Erick Felinto. Membro da ACCRJ – Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro e curador do Cineclube Silvia Oroz da Universidade Estácio de Sá. Autor do livro “Drácula: o vampiro camaleônico” (2014)

Ficha do Trabalho

Título

    O ESTRANHO UNIVERSO FÍLMICO DE H. P. LOVECRAFT

Resumo

    O presente trabalho introduz um breve levantamento de algumas incursões de H. P. Lovecraft no cinema. Enquanto a utilização de seus elementos costumam render filmes com boas críticas e bilheterias, as transposições das narrativas do autor parecem habitar nichos mais específicos, sobretudo em um âmbito considerado mais trash.. Através do estudo de autores que versam sobre o assunto e exemplos mais emblemáticos, demonstraremos esse estranho paradoxo no cinema e apresentando algumas hipóteses.

Resumo expandido

    O presente trabalho procura fazer um breve levantamento de algumas incursões do universo ficcional de H. P. Lovecraft no cinema. Criador de um panteão teratológico único, objetos profanos variados e uma perspectiva filosófica pessimista, apontando para a insignificância do humano diante de um cosmos aterrador, o escritor acaba se tornando um amplo material para apropriações cinematográficas. Dentre essa utilização das criações de Lovecraft no cinema, um curioso fenômeno toma forma. Enquanto uma massiva utilização de elementos lovecraftianos ganham contornos cada vez maiores em filmes com boas críticas e bilheterias, as transposições das narrativas do autor parecem habitar um nicho mais específico de filmes, sobretudo em um âmbito considerado mais trash do audiovisual. Através do estudo de alguns autores que versam sobre o assunto e alguns exemplos mais emblemáticos, demonstraremos esse estranho paradoxo no cinema e tentaremos ensaiar algumas possíveis hipóteses.
    Nascido na cidade de Providence em 1890, o escritor estadunidense faleceu em 1937 sem alcançar nenhum reconhecimento fora de um ciclo amador de produções. Com o passar do tempo, seu mundo imaginário do horror ganha maior repercussão, sendo um nome comumente encontrado em diversos meios da cultura contemporânea, sobretudo no cinema. No entanto, as criações lovecraftianas ganham contornos paradoxais nesse processo de apropriação midiática. O escritor desenvolve um panteão teratológico único e uma perspectiva filosófica do humano como insignificante em um universo hostil e indiferente à nossa existência.
    Diversos elementos de sua escrita são vistos rondando uma interessante gama de produções cinematográficas. Todavia, enquanto os filmes que versam com as criações encontradas no universo lovecraftiano sem se ater mais precisamente às suas histórias ganham uma maior visibilidade e repercussão, as transposições de seus contos parecem não conseguir atingir os mesmos resultados. Esse trabalho procura evidenciar alguns casos dessa curiosa apropriação de Lovecraft no cinema nas transposições diretas de suas obras e na utilização de elementos lovecraftianos de forma indireta outras.
    O artigo Lovecraft tel qu’en outsider le cinéma le change (2017) de Philippe Met apresenta uma pesquisa sobre Lovecraft no cinema e discute as questões que dificultam suas transposições, assim como aponta alguns filmes que parecem ter conseguido se utilizar da narrativa lovecraftiana ou se apropriar de alguns elementos de seu universo de forma mais eficiente.
    Talvez a linguagem de Lovecraft, suas criações e suas narrativas estejam destinadas a apropriações para o cinema trash, visto que é um terreno em que algumas das estranhezas que o autor apresenta poderiam se adaptar melhor. Apesar da noção de cinema trash ser um pouco ampla, nos apoiaremos em trabalhos como ‘Trashing’ the academy: taste, excess, and an emerging politics of cinematic style (1995) de Jeffrey Sconce, Enjoying trash films: Underlying features, viewing stances and experimental response dimensions (2016) de Keyvan Sarkhosh e Winifried Menninghaus e Changing Highbrow Taste: From Snob to Omnivore (1996) de Peterson e Kern como suporte teórico.
    O levantamento filmográfico será desenvolvido a partir dos livros The Complete H. P. Lovecraft Filmography (2001) de Charles P. Mitchell e The Lurker in the Lobby: A guide to the cinema of H. P. Lovecraft (2006) de Andrew Migliore e John Strysik. Outros filmes poderão ser acrescidos como complemento para identificar esse interessante fenômeno.
    Lovecraft é um autor paradoxal. Ao focarmos em suas transposições fílmicas, nos deparamos com uma variedade de películas consideradas trash. Todavia, a utilização de elementos lovecraftianos e/ou sua perspectiva filosófica pessimista parecem alcançar outros horizontes cinematográficos. Com breve levantamento de alguns filmes, vemos a mitologia lovecraftiana cada vez mais pregnante em nossa cultura e suas criações cada vez mais presentes no cinema.

Bibliografia

    MET, Philippe. H. P. Lovecraft tel qu’en outsider le cinéma le change. In: KELLY, G; MENEGALDO, G. (org.) Lovecraft au prisme de l’image: Littérature, cinema et arts graphiques. Cadillon: Le Visage vert, 2017. p.133-149.
    MIGLIORE, Andrew; STRYSIK, John. The Lurker in the Lobby: A guide to the cinema of H. P. Lovecraft. Portland: Night Shade Books, 2006.
    MITCHELL, Charles P.. The Complete H. P. Lovecraft Filmography. Westport: Greenwood Press, 2001.
    PETERSON, Richard A.; KERN, Roger M.. Changing Highbrow Taste: From Snob to Omnivore. American Sociological Review, Vol. 61, No. 5 (Oct., 1996), pp. 900-907.
    SARKHOSH, Keyvan; MENNINGHAUS, Winfried. Enjoying trash films: Underlying features, viewing stances,and experiential response dimensions. Poetics, Vol 57, August 2016, Pages 40–54 (1-15).
    SCONCE, Jeffrey. ‘Trashing’ the academy: taste, excess, and an emerging politics of cinematic style. Screen, vol. 36, issue 4, p.371-393, 1995.