Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Baltar (PPGCine/UFF)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação, professora da graduação em Cinema e Audiovisual e do PPGCine – Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da UFF. É bolsista de produtividade do Cnpq (Pq 2) e desenvolve pesquisas sobre afeto e excesso como estratégicas estéticas para dar conta do lugar do corpo, das sensações e emoções no contexto da cultura audiovisual contemporânea. Organizou o livro “E pornô, tem pornô? – Panorama of Brazilian Porn (Mimesis Internacional, 2018) e publicou diversos artigos.

Coautor

    Érica Ramos Sarmet dos Santos (ECA-USP)

Ficha do Trabalho

Título

    Coreografias dos prazeres femininos – gestos e atrações pornô em As fi

Seminário

    Corpo, gesto e atuação

Resumo

    Esta comunicação pretende analisar o papel específico das coreografias sexuais em As Filhas do Fogo, de Albertina Carri (2018). No filme, gestos dos corpos na tela e do corpo fílmico colocam em cena questionamentos sobre a visibilidade dos desejos e prazeres das feminilidades. Propomos pensar como uma análise focada nas dimensões do corpo (seus gestos e volumes expressivos) presentificam, não apenas as tensões da política de gêneros, mas os próprios deslizamentos das tradições do pornográfico.

Resumo expandido

    Esta comunicação pretende analisar o papel específico das coreografias sexuais no filme As Filhas do Fogo (2018). O filme de Albertina Carri se alinha a uma parcela da produção latino-americana que explicita um desejo de se posicionar politicamente a partir da provocação dos corpos colocados em cena. Corpos que encenam coreografias que remetem ao campo do pornográfico, mas que também provocam um deslizamento nas suas tradições. Nesse deslizamento, arte, processo de produção coletivo e uso político do cinema se misturam para trazer à visibilidade modos de vida, sexualidades e prazeres dissidentes. Contudo, diferente das produções do chamado pós-pornô, o filme não se furta a incorporar um dispositivo dramatúrgico e narrativo (personagem narradora e estrutura de road movie) para costurar sequências centrais de coreografias sexuais.
    As Filhas do Fogo se vincula a um amplo contexto contemporâneo de emergência de uma produção pornográfica dissidente, tributária do feminismo pró-sexo, onde se percebe a presença intensa e politicamente atuante de realizadoras mulheres, pessoas trans e queer.
    O filme também pode ser pensado a partir do que Érica Sarmet (2018) identifica como uma “pornografia da vulnerabilidade”, chamando atenção para um tipo específico de pornografia que não se furta de explorar sensações e sentimentos evocados no ato sexual, a partir de corpos socialmente considerados vulneráveis. Segundo a autora, tal pornografia nos convidaria a acessar afetos através do uso estratégico da imagem, do som e do uso do texto (em offs ou na própria imagem). Judith Butler (2016), argumenta contra a ideia de que o conceito de vulnerabilidade seria o oposto de resistência; seria então uma maneira dos sujeitos serem expostos e de serem agentes ao mesmo tempo, nem totalmente passivos nem totalmente ativos, mas afetando e sendo afetados. A exposição do corpo seria a forma de atuação política da vulnerabilidade.
    Neste artigo, propomos desenvolver esses aspectos com base em um enfoque nos gestos dos corpos – aqueles colocados em tela e do próprio corpo fílmico – ao evocar a partir das suas expressividades próprias redes de questionamento políticos e afetos circundantes aos desejos e prazeres das feminilidades de modo a questionar a ordem heteronormativa e monogâmica que usualmente recobre a expressão da sexualidade feminina. Nesse sentido, lançaremos mão de um vocabulário analítico vindo do campo das reflexões sobre o afeto no cinema e do regime de atrações, a partir daquilo que Mariana Baltar propõe definir como atrações pornô.
    As atrações pornô seriam a junção de uma exibição dos corpos com a exibição do próprio corpo cinemático, intensificando os prazeres e afetos partilhados a partir dos gestos, coreografias e volumes dos corpos pornificados. Nesta concepção, o aparato conceitual do cinema de atrações se associa à reflexão sobre a ressonância carnal para pensar qual o papel do aparato cinemático na mobilização afetiva e sensorial do campo da pornografia de um modo geral.
    Para analisar a complexa rede de questões envolvendo a pornografia, Paasonen (2011) propõe um deslocamento da tradição tributária das análises com base nos estudos da narrativa, da representação e da identificação. Para a autora, tal tradição não dá conta da capacidade do pornográfico de transformar o corpo do espectador em caixa de ressonância que reverbera o encontro entre corpos expressos nas telas e mobilizados pelo “corpo fílmico” (Elena del Rio e Steven Shaviro). Assim, Paasonen propõe pensar a partir de termos como captura (grab) em correlação à tradicional perspectiva teórica do olhar (gaze); ritmo (rhythm) mais do que na narrativa (narrative) e na ideia de uma ressonância (ressonance) no espectador, mais do que identificação. É preciso, portanto, atentar para “os prazeres de ser arrebatado e maravilhado pelo visual” (Paasonen, 2011:185). Em nosso artigo, nos propomos a exercitar tais deslocamentos analíticos para os corpos de As filhas do fogo.

Bibliografia

    BALTAR, Mariana. Corpos, pornificaçõese prazeres partilhados. In. Imagofagia. n. 18, 2018. pag. 564 – 588.
    BOURCIER, Marie-Hélène. Post-pornographie. In: DI FOLCO, Philippe. Dictionnaire de la pornographie, Paris, Presses Universitaires de France, 2005, p. 378-380.
    BUTLER, J; GAMBETTI, Zeynep e SABSAY, Leticia. (orgs). Vulnerability in Resistance Duke University Press, 2016
    DEL RÍO, Elena. Powers of Affection. Deleuze and the cinemas of performance. Edinburg University Press, 2008.
    GUNNING, Tom. The cinema of attractions: early film, its spectator and the avant-garde. Amsterdam University Press, 2006.
    PAASONEN, Susanna. Carnal Resonance – Affect and Online Pornography. 1a. ed. MIT Press, 2011.
    SARMET, Érica. Pornografia da vulnerabilidade: estratégias feministas de subversão da normatividade pornográfica. In. Imagofagia. n. 18, 2018. pag. 545-563.
    _______________. Sin porno no hay posporno: corpo, excesso e ambivalência na América Latina Dissertação (Mestrado) – PPGCOM/UFF, 2015