Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Marta Cardoso Guedes (UFRJ)

Minicurrículo

    Doutoranda Educação UFRJ. Mestre Educação UFRJ. Especialista Psicomotricidade UNIIBMR. Professora Educação Física UGF. Atriz (DRT 20.318). Professora Educação Física Rede Municipal do Rio de Janeiro (SME). Professora Cursos de Pós-graduação da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD/UFRJ). Professora responsável pelo Projeto Cinema para Aprender e Desaprender (LECAV/UFRJ) na Escola Municipal Prefeito Djalma Maranhão no Rio de Janeiro.

Ficha do Trabalho

Título

    SUPER-8 E CINEMATECA DO MAM: A IMAGEM COMO CONDENSAÇÃO DE TEMPOS

Resumo

    Experiência de pesquisa com preservação de películas super-8 pelo projeto de cinema da escola do Vidigal (CINEAD) em parceria com a Cinemateca do MAM/RJ. Em 2017 encontramos imagens sobre a tentativa de remoção da favela do Vidigal na década de 1970, feitas por uma cineasta amadora em super-8. Em 2018, as imagens restauradas, são exibidas na mesma Cinemateca, visando a construção de uma memória coletiva (BENJAMIN, 2009) e a produção de um documentário como método historiográfico (LEANDRO, 2015).

Resumo expandido

    Em 2017, o projeto de cinema da escola promove o reencontro de antigos moradores/ativistas pela não remoção do Vidigal na década de 1970 e encontra imagens super-8 de uma cineasta amadora, guardadas por 40 anos em uma caixinha de isopor no armário de sua casa. Muitas dessas imagens feitas podiam estar danificadas pela ação do tempo devido às condições de armazenamento. “Submetidas à umidade e ao mofo dos armários, por exemplo, as imagens impressas nesses filmes ganharam manchas e outras cicatrizes do tempo, sem que seus guardiões pudessem perceber” (BOSI, 2016, p. 67). Assim, em dezembro deste mesmo ano nos reunimos na Cinemateca do MAM/RJ com Hernani Heffner (especialista em preservação e curador da Cinemateca), com o propósito de abrir a caixinha de isopor. De dentro dela, com odor característico de vinagre, emergiram filmes super-8, fotografias, fitas cassete e documentos da época. O material, doado pela cineasta amadora, passou a fazer parte do acervo da Cinemateca do MAM, sob o Lote da Associação dos Moradores do Vidigal.
    Em 2018, sob a tutela de Hernani, começamos o processo de recuperação do material. Foram algumas semanas limpando e preenchendo fichas de entrada dos filmes na cinemateca, telecinando e digitalizando todo acervo. O material, recuperado pelo projeto de cinema da escola, agora está preservado em 4 diferentes mídias. Super-8, Mini DV, HD, e salvo também em DVD. Foi assim que em 13 de agosto deste mesmo ano promovemos o evento Vidigal: imagens, memória e resistência nesta Cinemateca, que tornava-se para nós um lugar mágico, dada a natureza dos encontros que ali vivenciávamos. O evento contou com a presença dos antigos moradores/ativistas, dos estudantes do projeto de cinema da escola e do grupo de pesquisa do CINEAD/UFRJ. Os comentários durante a projeção revelavam emoção nas falas. A voz, por vezes embargada, lembrava momentos de luta, vitória e também de dor da perda de alguns que já não estão mais entre eles. Consonante com Benjamin (2009), a articulação histórica do passado não significa reconhecê-lo como de fato aconteceu, mas sim apropriar-se de uma recordação como ela relampeja no momento do perigo. A todo momento escutávamos soluços, risadas, cochichos, perguntas de reconhecimento e testemunhos advindos das imagens. “A imagem seria, portanto, o lampejo passante que transpõe, tal um cometa, a imobilidade de todo o horizonte” (DIDI-HUBERMAN, 2011, p. 117). Ao final da sessão muitas conversas, “causos” narrados, abraços apertados, troca de telefones, pois muitos haviam perdido contato entre si.
    A partir desta experiência na Cinemateca do MAM tornou-se imperativo, para além da escrita de nossa tese de doutorado, a realização de um documentário, pois as imagens e documentos do passado ajudam na elaboração de uma memória histórica e pessoal.
    Um método científico se distingue pelo fato de, ao encontrar novos objetos, desenvolver novos métodos – exatamente como a forma na arte que, ao conduzir a novos conteúdos, desenvolve novas formas. Apenas exteriormente uma obra de arte tem uma e somente uma forma, e um tratado científico tem um e somente um método (BENJAMIN, 2009, p. 515).

    Assim é que estamos em fase de produção de um documentário como um método historiográfico (LEANDRO, 2015). Nas filmagens, confrontaremos os entrevistados – testemunhas dos acontecimentos – com o material de arquivo encontrado, rodado em 1977, 1978. A imagem vista como uma condensação de tempos. “Não é que o passado lança sua luz sobre o presente ou que o presente lança sua luz sobre o passado; mas a imagem é aquilo em que o ocorrido encontra o agora num lampejo, formando uma constelação” (BENJAMIN, 2009, p.505). Vale lembrar ainda que a memória, sempre em disputa, é fundamental nas lutas, resistências e conquistas. Quais são as implicações de um encontro desta natureza no âmbito escolar? Este material pode ser utilizado na elaboração de uma memória coletiva e na educação permanente dos estudantes?

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: editora da Universidade Federal de Minas Gerais. 2009

    BOSI, Maíra Magalhães. A cidade de Fortaleza nos filmes de família em super-8: representação imagética e construção de memória. 1º Colóquio Internacional de História Cultural da Cidade, Sandra Jatahy Pesavento. Sessão temática sensibilidade pgs. 560.572. Porto Alegre, 9-11 de março de 2015.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos Vaga-Lumes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

    LEANDRO. Anita Montagem e história: Uma arqueologia das imagens da repressão. In: http://www.compos.org.br/biblioteca/artigo_com-autoria_compos-2015-3443f24d-7f10-4aaf-857c-1441b53a7204_2837.pdf. Acessado em 13 de abril de 2019.