Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Filipe Tavares Falcão Maciel (AESO)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco com pesquisa sobre remakes de filmes de terror. Mestre pela Universidade Federal da Paraíba. Especialista pela Universidade Católica de Pernambuco e formado em Jornalismo pela mesma instituição. Autor dos livros Fronteiras do medo: quando Hollywood refilma o horror japonês, 2015, e Medo de palhaço: a enciclopédia definitiva sobre palhaços assustadores na cultura pop, 2017. Docente da Faculdades Integradas Barros Melo – AESO.

Ficha do Trabalho

Título

    O SLASHER NO SÉCULO XXI E AS NOVAS REPRESENTAÇÕES DE MORTE

Resumo

    Subgênero dos filmes de terror, o slasher é marcado pela existência de um assassino capaz de matar parte dos personagens. Nas décadas de 1970 e 1980, estas mortes incluíam perseguições ou o olhar subjetivo do assassino observando a vítima. Para os remakes contemporâneos, os assassinatos são mais rápidos e diretos. Esta pesquisa pretende, por meio dos conceitos de Bordwell sobre continuidade intensificada, identificar os elementos responsáveis por esta aceleração e seus impactos para o subgênero.

Resumo expandido

    Os filmes de terror do subgênero slasher são bastante conhecidos. Do ponto de vista narrativo, a trama acompanha um grupo de personagens, geralmente jovens, e quase todos acabam mortos por um vilão. Parte do interesse é descobrir quem é o assassino ou apenas acompanhar as mortes quando os homicidas já são conhecidos como em filmes canônicos como Halloween, 1978, e Sexta-feira 13, 1980. Os assassinatos nos slasher são gráficos.

    Para estes filmes, costuma existir uma preparação que antecede os momentos de morte. Halloween e Sexta-feira 13 tendem a mostrar perseguições ou trabalhar com o assassino à espreita por meio da utilização de uma câmera subjetiva emulando o olhar do vilão observando as vítimas.

    Com a crescente onda de refilmagens de obras de terror, alguns dos principais slasher dos anos 1970 e 1980 ganharam versões atualizadas. Os remakes de Halloween e Sexta-feira 13 foram lançados respectivamente em 2007 e 2009. Os novos filmes possuem características comuns das produções mainstream contemporâneas por meio do que Bordwell (2006) chama de continuidade intensificada e Lipovetsky (2007) trata por estética do excesso na sétima arte.

    Estes novos filmes mainstream respondem como mais acelerados não apenas do ponto de vista de cenas mais curtas e edição frenética, mas também por meio de outros elementos estilísticos como movimento de câmera, ações dentro do quadro fílmico, número de personagens, tempo em que uma ação leva para acontecer e desenho de som cada vez mais potente e calibrado.

    Por ser uma das principais características do slasher, os assassinatos passam por este processo de aceleração para se adequarem a este novo fazer fílmico. Uma primeira observação neste recorte é com relação ao número de personagens que são mortos. No Halloween original existem cinco assassinatos, sendo um offscreen. No remake, este número sobe para 24 vítimas. Além do aumento na quantidade de personagens mortos, torna-se claramente perceptível uma aceleração no próprio ato de morte.

    Nos filmes originais, as ações que antecedem as mortes duram cerca de 01m ou até mais. Na refilmagem, as mortes são muito mais rápidas. Em alguns casos estas podem durar 05s, ou até menos, entre o assassino surgir em cena e desferir um golpe na vítima.

    Em seus estudos, que incluem a análise de 5.400 filmes norte-americanos, Salt (2009) afirma que o tempo médio de duração do plano começou a cair desde a década de 1950, o que justifica que os filmes mais recentes sejam considerados mais acelerados. No entanto, torna-se necessário ir além da contagem de planos para perceber os agenciamentos existentes nas refilmagens diante de novas formatações de mercado para atingir a um público contemporâneo.

    Indiscutivelmente existem decisões mercadológicas diante da formatação dos remakes. A refilmagem de Sexta-feira 13, por exemplo, foi co-produzida pela Platinum Dunes, escolha que teve um impacto direto na questão estética do filme. A produtora tem Michael Bay como um dos sócios. Bay dirigiu grandes filmes de ação mainstream marcados por um fluxo narrativo muito rápido. Ele é o homem responsável pela franquia Transformers, iniciada em 2007, e que, ao lado de outros filmes como Velozes e furiosos, serviu de calibrador do que o cinema consegue produzir de mais rápido e moderno para atrair o público contemporâneo.

    Trazer a Platinum Dunes para o projeto de um novo Sexta-feira 13 representa uma tentativa de modernizar o filme por meio de um fluxo narrativo extremamente acelerado que vai muito além da duração dos planos e da montagem. Dentro desta análise, o trabalho em questão tem como objetivo identificar nas mortes dos slasher do século XXI a existência dos elementos da continuidade intensificada e da estética do excesso para compreender como acontece o processo de aceleração e as novas formas de apresentar os assassinatos. Este estudo também pretende analisar o impacto das novas decisões estilísticas para o subgênero de modo a modernizá-lo ou até recodificá-lo.

Bibliografia

    BORDWELL, David. The way Hollywood tells it. London: University of California Press, 2006
    BRACKE, Peter M. Crystal lake memories. The complete history of Friday the 13h. UK: Titan Books, 2005.
    CLOVER, Carol. In VEREVIS, Constantine. Film remakes. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2006.
    GROVE, David. Sexta-feira 13 – arquivos de Crystal Lake. Rio de Janeiro: Darkside, 2015.
    LIPOVETSKY, Gilles; SÉBASTIEN, Charles. Os tempos hipermodernos. Barcelona: Anagrama, 2004.
    LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermo-derna. Barcelona: Anagrama, 2007.
    ROCHE, David. Making and remaking horror in the 1970s and 2000s. EUA: The Uniersity Press of Mississippi, 2014.
    SALT, Barry. Film style and technology: history and analysis. Londres: Starword, 2009.
    SMITH, Jeff. The sound of intensity continuity. In: RICHARDSON, John; GORBMAN, Claudia; VERNALLIS, Carol (Orgs.) The Oxford handbook of new audiovisual aesthetics. 2013