Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Cyntia Gomes Calhado (UNIP)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professora de cursos de Comunicação da Universidade Paulista (UNIP).

Ficha do Trabalho

Título

    O impacto de procedimentos fotográficos na experiência cinematográfica

Seminário

    Teorias e análises da direção de fotografia

Resumo

    Esta comunicação visa apresentar os resultados da tese “Intensidades da imagem: experiência estética no cinema”. No exame de trechos de Abril Despedaçado e Linha de Passe, observamos que os procedimentos fotográficos concebidos por Walter Carvalho e Mauro Pinheiro Jr. geram plasticidades na imagem fundamentais para a construção da narrativa visual. Detalharemos esses procedimentos para demonstrar a importância da autoria destes profissionais na experiência estética dos filmes.

Resumo expandido

    A pesquisa de doutorado “Intensidades da imagem: experiência estética no cinema – análises críticas a partir de Walter Salles”, concluída em 2018, pelo Programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, investigou sequências plasticamente marcantes dos filmes Central do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001) e Linha de Passe (2008). Constatamos, no exame destes trechos, algumas questões importantes do ponto de vista da realização cinematográfica e, mais especificamente, da área de direção de fotografia.

    Sabemos que, na cadeia cinematográfica, o diretor de fotografia é o responsável pela concepção fotográfica dos filmes. Normalmente, ele atua em parceria com o diretor de arte para definir os aspectos propriamente plásticos da imagem, a narrativa visual.

    Verificamos na pesquisa que a plasticidade das cenas intensas nos filmes analisados foi consequência de determinados procedimentos fotográficos. Desta forma, concluímos que os diretores de fotografia Walter Carvalho (Central do Brasil e Abril Despedaçado) e Mauro Pinheiro Jr. (Linha de Passe) adquirem um papel de relevo na construção da experiência estética destes filmes. Esta constatação tem um impacto nos modos como tradicionalmente se observa a autoria do cinema centrada na figura do diretor.

    Nesta comunicação detalharemos os procedimentos fotográficos realizados nas imagens intensas de Abril Despedaçado e Linha de Passe com o objetivo de demonstrar a importância da autoria do diretor de fotografia para a construção da narrativa visual nos longas aqui analisados.

    Em Abril Despedaçado, selecionamos a cena em que a trapezista Clara (Flávia Marco Antônio) gira em uma corda indiana. Nela, a câmera é presa à corda, um pouco acima da posição da atriz, com a lente voltada para baixo. Grande parte de seu impacto é consequência da solução técnica da cena. O fato da câmera-corpo estar presa na corda faz com que seu movimento seja impulsionado pela mesma força que move a atriz/personagem Clara, que diegeticamente corresponde à força do personagem Tonho (Rodrigo Santoro). Como as imagens captadas são afetadas por essa força, elas apresentam a inscrição do tempo na imagem. Visualmente, a unidade do corpo de Clara é perdida e vivenciamos experiências de formas espiraladas, gradação de tons terrosos e diferentes texturas.

    Já em Linha de Passe, escolhemos analisar uma das sequências de festa. Tecnicamente, uma alteração na correia da câmera, que modifica seu funcionamento tradicional, expôs o negativo enquanto ele estava em movimento. Como o negativo distorce a imagem em situações de superexposição da luz, o resultado deste processo é a ampliação dos diversos pontos de iluminação da cena e a distorção da luz em sentido circular. A plasticidade da imagem organiza-se então em contrastes de luz e sombra, superexposição e reflexos da luz. Acompanhando isso, temos um acontecimento de quebra do movimento fluido dos quadros fílmicos, graças à filmagem de alguns planos com velocidade alterada para seis e doze frames por segundo.

    Os procedimentos fotográficos descritos acima geram imagens que destoam, em plasticidade, das demais cenas dos filmes. Por serem momentos de exceção, funcionando como pontuações na narrativa visual, estes trechos têm grande impacto na experiência estética dos longas analisados.

Bibliografia

    BUTCHER, Pedro; MÜLLER, Anna Luiza. Abril despedaçado: história de um filme. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
    CALHADO, Cyntia Gomes. Intensidades da imagem: experiência estética no cinema – análises a partir de Walter Salles. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, PUC-SP, São Paulo, 2018.
    DEWEY, John. Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
    DUBOIS, Philippe. “Plasticidade e cinema: a questão do figural”, In: HUCHET, Stéphane. (Org.). Fragmentos de uma teoria da arte. São Paulo: Edusp, 2012.
    MELLO, Christine (org.). Extremidades: experimentos críticos – redes audiovisuais, cinema, performance, arte contemporânea. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2017.
    PARENTE, André. “As virtualidades da narrativa cinematográfica”. In:_______ (Org.). Cinema/Deleuze. Campinas: Papirus, 2013, pp. 249-270.
    RANCIÈRE, Jacques. A Fábula cinematográfica. Trad. Christian Pierre Kasper. Campinas, SP: Papirus, 2013