Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    KATE VIVIANNE ALCANTARA SARAIVA (FOCCA)

Minicurrículo

    Especialista em Estudos Cinematográficos pela Universidade Católica de Pernambuco (2018); Mestra em Desenvolvimento Urbano (UFPE, 2017). Concluiu o curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Pernambuco (2002) com o trabalho intitulado “Cinemas do Recife – morfologia de edifícios e salas para exibição cinematográfica”. É autora do livro ‘Cinemas do Recife’ (Funcultura, 2013) e Docente na Faculdade de Olinda, desde 2018.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinemas do Sertão do Pajeú

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    O presente artigo é parte de uma pesquisa que tem como objeto de estudo os Cinemas de Rua do Sertão do Pajeú, no interior do Estado de Pernambuco, e que procura entender como a arte cinematográfica se difundiu na região e como se relacionou com a cultura e o desenvolvimento local. A quase inexistência e preservação de fontes documentais direcionou o trabalho à uma análise baseada nas memórias dos antigos frequentadores desses cinemas ou envolvidos com a prática da exibição local.

Resumo expandido

    Este artigo é parte de uma pesquisa, em andamento, que investiga nos dezessete municípios da Região do Pajeú, no Sertão Pernambucano, os cinemas de rua extintos ou que ainda ‘resistem’, com a intenção de entender como se deu a difusão do cinema, a construção de edificações para a exibição cinematográfica e a relação desses espaços construídos com as memórias, a cultura e o desenvolvimento local.

    Pretende discutir aspectos relacionados à história desses edifícios e às memórias de pessoas apaixonadas pela arte cinematográfica e pelos cinemas, antigos frequentadores ou envolvidos com a prática da exibição local. A falta de preservação de documentos direcionou o trabalho para uma análise de conteúdo baseada nas memórias dessas pessoas, conforme orienta Bardin (2011). O recorte temporal situa-se entre 1940 e 1970, período correspondente à expansão e funcionamento das salas de cinemas nesses municípios.

    Atualmente, quase não existem cinemas no Pajeú. Em algumas cidades, eles nunca chegaram. Triunfo é a única cidade que atende à região, com apenas um cinema, o Cineteatro Guarany, funcionando regularmente. Afogados da Ingazeira possui o Cine São José, mas que só exibe filmes uma vez por ano durante a Mostra Pajeú. As restantes não têm sala de cinema ou sequer chegaram a contar com exibições ao ar livre, em praças. Também não possuem cinemas em shoppings. Ou seja, um grande número de pessoas não possui acesso à produções audiovisuais, antigas ou contemporâneas, no sertão pajeuzeiro.

    No Brasil, há uma alta concentração de salas nas capitais e em cidades metropolitanas, e pouca ou quase nenhuma oferta nas cidades interioranas. De modo geral, as cidades, constantemente modificadas pelo desenvolvimento econômico, perderam o caráter simbólico dos cinemas no meio urbano. Marcos na paisagem. Edifícios de boa arquitetura ou não, em art déco ou modernos, se diferenciavam arquitetonicamente e já foram mais significativos que as atuais salas de shopping padronizadas. Esses espaços também contribuíam para a socialização entre pessoas, e ativação de áreas urbanas e de entornos imediatos.

    No interior, entretanto, a situação é um pouco diferente das capitais. Os processos foram mais lentos. A especulação imobiliária menos intensa, o que fez com que alguns edifícios de cinema ainda ‘resistissem’ e até ‘renascessem’, como foi o caso do Cine São José em Afogados da Ingazeira, reconstruído pela população local, voluntariamente, na década de 1990.

    No total, foram dezesseis cinemas de rua no Pajeú. De pequenas salas a outras de maior porte os sertanejos divertiram-se com produções do cinema nacional e internacional, principalmente filmes americanos e de faroeste. As películas foram vistas em espaços projetados, ou não, para a exibição cinematográfica.

    Essa apresentação pretende discutir algumas das questões levantadas na pesquisa como: Os primórdios dos cinemas no Sertão do Pajeú; Como era a relação com o parque exibidor e com as distribuidoras no Recife? Como os cinemas impactaram as comunidades locais e como se deu a experiência pessoal e afetiva com esses espaços? Quais os motivos do sucesso e permanência dos estabelecimentos de exibição ou do encerramento das suas atividades? Quais os principais filmes exibidos e como se deu a recepção e a frequência de público.

    Ao resgatar essa memória urbana e oral, local e regional, preenche-se mais uma parte de uma grande lacuna: a das histórias de cinemas no Brasil. Descobre-se melhor o país de ontem e o de hoje, assim como possíveis caminhos para a preservação e recuperação de patrimônios e de acervos, e para a criação de políticas públicas para a exibição cinematográfica.

Bibliografia

    ABREU, Regina; CHAGAS, Mário. Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A. 2003.
    BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Editora Almedina, 2011. 6ª ed. 280pg.
    FERRAZ, Talitha. Mais do que cinemas: parcerias entre esferas públicas, privadas e sociedade civil na reabertura de antigas salas de exibição no Brasil e na Bélgica. Revista Eptic, vol. 18, nº 2, maio-agosto, 2016.
    LUCA, L. G. A. Mercado exibidor brasileiro: do monopólio ao pluripólio. In: MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema e mercado. SP: Escrituras Ed., 2010. p. 53-69.
    SARAIVA, K. Cinemas do Recife. Recife: Funcultura, 2013.