Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Marise Berta de Souza (UFBA)

Minicurrículo

    Professora da Universidade Federal da Bahia – Bacharelado Interdisciplinar em Artes/ Prof-Artes/ Pós-Cult -Programa Multidisciplinar de Pós Graduação em Cultura e Sociedade
    Pesquisadora e produtora audiovisual;
    Doutorado em Artes Cênicas/UFBA; Mestrado em Artes Visuais/UFBA;
    Coordenadora do BI em Artes IHAC/UFBA(2013 /2014);
    Coordenadora da TV UFBA 2013/2015;
    Coordenadora do Prof-Artes – Mestrado Profissional em Artes (2015/2018).

Ficha do Trabalho

Título

    Fernando Belens: A memória que entra pelos olhos

Mesa

    MEMÓRIA(S) DA INVENÇÃO NO CINEMA BAIANO

Resumo

    Essa proposta consiste na análise de um conjunto de curtas do cineasta baiano Fernando Belens: Oropa, Luanda, Bahia (1983), Fibra (1986) e A mãe (1998), em coautoria com Umbelino Brasil. Parte-se da premissa que a memória e os acontecimentos vivenciados em determinados grupos sociais, em certos espaços geográficos e temporalidades distintas, instigam o cineasta a (re)visitar o passado com a força da invenção.

Resumo expandido

    Em 2010 apresentei nesta SOCINE comunicação que tratava do método e do processo criativo dos filmes Em me lembro (2005), de Edgard Navarro e Pau Brasil (2009), de Fernando Belens, em que analisei aspectos desses filmes em diálogo travado com os cineastas para compreender as poéticas e os seus “métodos” de construção fílmica. No ano seguinte, 2011, a comunicação que expus tratou da filmografia de Fernando Belens a partir de recorrências e inter-relações fincadas em torno de duas questões identificadas como centrais na sua obra: o corpo e a política.
    Nesta edição, volto a me debruçar sobre a obra de Fernando Belens. Essa proposta contém a abordagem de seus filmes em outra chave de leitura: “a memória que entra pelos olhos”, e consiste na análise de um conjunto de curtas – Oropa, Luanda, Bahia, Fibra e A mãe – plasmados no ambiente sociocultural da realidade vivenciada pelo diretor em que lembrar e reviver fatos remetem a um movimento de reconstrução e de releituras de experiências vividas que se projetam em direção ao futuro para produzir sentidos. Em Oropa. Luanda, Bahia, a sublevação dos revoltosos Malês, escravos de origem islâmica, ocorrida na noite de 24 para 25 de janeiro de 1835 em Salvador é o acontecimento enfocado que fará a mediação entre memória e história, na perspectiva de descomprimir a memória abafada pela percepção histórica. Em Fibra, a polifonia das vozes dos agricultores mutilados pela máquina de desfibrar sisal se reporta a lugares da memória que abriga nosso passado patriarcal para atualizá-lo na reivindicação e garantia dos direitos atingidos. A Mãe, exulta a figura da mãe coragem do cinema brasileiro, Lúcia Rocha, e a sua obstinada luta pela preservação da obra do filho. Filmes feitos a partir da malha social e política em que o cineasta está inserido, frutos da necessidade absoluta do não esquecimento e do compromisso incondicional perante a sua própria existência. Nesses filmes a memória individual de Fernando Belens associa-se às práticas sociais dos grupos enfocados, e, portanto, são entendidos como filmes de um cinema que contempla a memória coletiva, inseridos na memória social, que dimensionam a essencialidade de suas temática e estética. Os filmes selecionados para análise foram realizados nas bitolas de 16 mm e 35mm, são posteriores ao seu intenso exercício superoitista, do qual trazem algumas marcas incorporadas pelo cineasta: a disciplina no uso dos recursos e a potência criativa. Assim, essa proposta segue as pistas da visão de cinema e de mundo que conformam a busca estética e o ato poético de Fernando Belens, tornando possível evidenciar princípios que identificam uma marca pessoal na sua expressividade através de um elemento comum: a memória revisitada com invenção.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004.
    BAECQUE, Antoine de (org). La política de los autores – Manifestos de una generación de cinéfilos. Barcelona: Buenos Aires: Paidós, 2003.
    BECK, Urich; GIDDENS, Anthony; LASCH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Unesp, 1997.
    CARRIÈRE, Jean-Claude. A linguagem secreta do cinema. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.
    D’ALÉSSIO, Márcia Mansor. Memória: leituras de M. Halbwachs e P. Nora. Revista Brasilei-ra de História, v. 13, n. 25/26, p. 97-103, 1992.
    DURAND, Gilbert. A imaginação simbólica. São Paulo: Cultrix, Editora da USP, 1998. FER-REIRA, Jairo. Cinema de Invenção. São Paulo: Max Limonad: Embrafilme, 1986.
    GODARD, Jean-Luc. Introdução a uma verdadeira história do cinema. São Paulo: Martins Fontes, 1989
    NORA, Pierre. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto História. São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993.