Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Alexandre Silva Guerreiro (UFRJ)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação no PPGCOM/UFF. Mestre em Comunicação pela UFF. Bacharel e Licenciado em História pela UERJ e Bacharel em Comunicação Social (Cinema) pela UFF. Atualmente, é Professor Docente I na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC/RJ) e desenvolve pesquisa de Pós-doutorado sobre “Escola, Cinema e Violência – um estudo sob a perspectiva dos direitos humanos” no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ.

Ficha do Trabalho

Título

    CINEMA E DIREITOS HUMANOS COMO PERSPECTIVA EDUCACIONAL

Seminário

    Cinema e Educação

Resumo

    As diversas formas de experimentação do cinema na escola nos convidam a refletir sobre os efeitos das escolhas feitas pelos docentes. A partir do conceito de curadoria educativa (VERGARA, 1996; MARTINS, 2006), este trabalho busca investigar de que maneira filmes como Café com Canela e Infiltrado na Klan promovem uma experiência cinematográfica dentro da perspectiva de uma educação em direitos humanos (CANDAU; SACAVINO, 2013) como norteadora de nossas práticas pedagógicas.

Resumo expandido

    O cinema está na escola de diversas maneiras e há muito tempo. As origens da relação entre cinema e educação nos remetem à experiência do INCE, no caso brasileiro, mas as reflexões acerca dessa relação ganham cada vez mais relevo e densidade. O modo como o cinema entra no espaço escolar na contemporaneidade merece uma atenção que abarque as diversas nuances da exibição audiovisual, seja vinculada a uma determinada disciplina, seja em espaços criados especialmente para isso, como os cineclubes. Isso, sem considerar as inúmeras possibilidades colocadas pela produção de vídeos por alunos.
    Nesse sentido, a formação docente para trabalhar com o cinema na escola adquire uma importância indiscutível. Quando a relação entre cinema e educação é acrescida das questões inerentes aos direitos humanos, essa formação ganha novos contornos e especificidades. Partindo do conceito de curadoria educativa (VERGARA, 1996), este trabalho busca investigar de que maneira filmes como Café com Canela, de Ary Rosa e Glenda Nicácio (Brasil, 2017) e Infiltrado na Klan, de Spike Lee (EUA, 2018) promovem uma experiência cinematográfica dentro da perspectiva de uma educação em direitos humanos (CANDAU; SACAVINO, 2013), como norteadora de nossas práticas pedagógicas e colocando em pauta uma dimensão crítica da formação docente.
    Uma das questões mais relevantes quando se discute a formação docente em relação ao uso do audiovisual na escola é o conceito de curadoria educativa. Segundo Luiz Vergara (2013), é através das escolhas feitas pelo professor que se pode promover, no âmbito escolar, uma experiência com a arte que seja enriquecedora. A curadoria educativa é prática fundamental do trabalho docente no sentido de pensar e fazer escolhas que promovam experiências significativas com o cinema na escola. Miriam Martins (2006) também coloca a importância da escolha feita pelo docente, que deve ser pautada por uma consciência do olhar. Aqui, a curadoria educativa ganha um lugar central na formação docente.
    Por outro lado, Vera Candau e Susana Sacavino (2013), refletem sobre a importância de uma formação de professores atravessada pelos direitos humanos. As autoras buscam enumerar os desafios dessa formação docente, que incluem desconstruir a visão do senso comum sobre direitos humanos e introduzir a educação em direitos humanos na formação inicial e continuada de educadores. Nesse sentido, a principal chave para a formação docente deveria ser uma formação pautada pelos direitos humanos, fornecendo elementos aos professores para que sua atuação no espaço escolar esteja sempre em sintonia com esse preceito.
    Quando alinhamos cinema, educação e direitos humanos, questões centrais como quais filmes escolher? e de que maneira abordá-los? ganham profundidade. É dentro deste horizonte que este estudo toma os filmes Café com Canela e Infiltrado na Klan como exemplos para refletir sobre cinema e direitos humanos sob a perspectiva de uma curadoria educativa. Nesse sentido, esses filmes evocam questões éticas e estéticas que oferecem aos docentes uma possiblidade de efetivarem uma educação voltada para os direitos humanos, na medida em que suscitam discussões sobre a representação e a representatividade do negro no cinema.
    As encenações, personagens e narrativas desses filmes, bem como o engajamento de seus diretores, colocam em pauta a pertinência de refletirmos sobre nossas escolhas, seja quando exibimos um filme aos alunos, seja quando produzimos uma obra audiovisual. Ambos os filmes são realizações contemporâneas de grande destaque no que diz respeito ao ativismo negro, às políticas afirmativas e à legitimidade do discurso fílmico, trazendo para o primeiro plano uma série de tópicos que abarcam tanto a experiência estética do filme quanto a sua dimensão ética, abrindo espaço para que o cinema e a educação estejam conectados com os direitos humanos de maneira orgânica, promovendo um ensino voltado para a arte e a cidadania no espaço escolar.

Bibliografia

    CANDAU, V.; SACAVINO, S. Educação em Direitos Humanos e Formação de Educadores. Educação, v.36, n.1, p.59-66, jan./abr., 2013.
    FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
    FRESQUET, A. Cinema e Educação: reflexões e experiências com professores e estudantes da educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
    MARTINS, M. C. (coord.). Curadoria educativa: inventando conversas. Reflexão e Ação – Revista do Departamento de Educação/UNISC, vol. 14, n.1, jan/jun 2006, p.9-27
    PEQUENO, M. Violência e Direitos Humanos. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v.28, jan/abr 2016.
    SAVIANI, D. Escola e Democracia. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.
    VANOYE, F.; GOLIOT-LÉTÉ, A. Ensaio sobre a análise fílmica. Campinas: Papirus, 1994.
    VERGARA, L. G. Curadoria Educativa: Percepção Imaginativa/Consciência do Olhar. Encontro da ANPAP, São Paulo, 1996.