Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Everaldo Asevedo Mattos (UFBA)

Minicurrículo

    Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da FACOM/UFBA e bolsista do CNPq. Bacharel em Artes, com concentração em Cinema e Audiovisual, pelo IHAC/UFBA. Pesquisador do Laboratório de Análise Fílmica (Pepa) da FACOM/UFBA. Bacharel em Direito pela UCSal – Universidade Católica do Salvador.

Ficha do Trabalho

Título

    Um gênero em (re)configuração: “melodrama de macho” em Praia do Futuro

Resumo

    Adotando-se, como objeto de estudo, o filme Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, propõe-se, neste trabalho, a análise da (re)configuração das matrizes históricas e elementos caracterizadores do gênero melodrama nesta obra audiovisual (que, conforme afirmado pelo próprio diretor, nortearam a concepção e realização de seu produto), de modo a perceber as estratégias utilizadas pelo cineasta para criar, numa narrativa protagonizada por homens gay, um “melodrama de macho”.

Resumo expandido

    Nascido em Fortaleza, em 1966, o diretor brasileiro Karim Aïnouz mudou-se para Nova York em 1989, onde iniciou um mestrado em Teoria do Cinema na New York University e teve contato com o movimento que viria a ser cunhado por B. Ruby Rich como New Queer Cinema, oriundo de um desejo de diversos realizadores audiovisuais de buscar repensar a representação de personagens homossexuais no cinema, “fazendo algo novo, renegociando subjetividades, anexando gêneros inteiros, revisando histórias em suas imagens” (RICH, 2015, p. 18). Flagrantemente influenciados pelos estudos queer, diversos cineastas desta época passaram a levar para as telas de cinema, numa tentativa de desestabilizar e reconfigurar as percepções sociais, culturais e políticas cristalizadas, histórias e representações de personagens LGBT que punham em xeque os estereótipos até então presentes nos filmes. Foi, assim, a partir da experiência acumulada em seu contato com essas referências teóricas e com os próprios filmes que viriam a ser reconhecidos como exemplos seminais do New Queer Cinema que Karim Aïnouz começou a construir uma filmografia marcada por curtas e longas-metragens documentais e de ficção que buscavam suscitar reflexões e retratar, sob novos olhares, as histórias e vivências de personagens gay, a exemplo de Seams (1993), Paixão Nacional (1996) e Madame Satã (2002), o que o levou a imediatamente se consolidar como um dos expoentes da teoria queer do cinema, reverenciado, inclusive, por Robert Stam, em sua Introdução à Teoria do Cinema.
    Dentre as obras de Aïnouz marcadamente herdeiras de suas experiências com o New Queer Cinema está o longa-metragem Praia do Futuro (2014), que o diretor realizou, em suas próprias palavras, como um “melodrama de macho”. Gênero historicamente originado no teatro popular francês do início do século XVIII, o melodrama se consolidou, no cinema, em meados do século XX, tendo suas características e conotações principais firmadas nos chamados woman’s film, grupo de produções protagonizadas por mulheres e voltadas ao público feminino que proliferou, nos EUA, durante a chamada Era Clássica do cinema norte-americano (DOANE, 1987), e logo se disseminou pela produção latino-americana da época como um gênero essencialmente “feminino” (OROZ, 1999), voltado para uma certa educação sentimental e moral das mulheres. Contudo, apesar de toda esta conexão histórica e referência, no cinema, do melodrama com o universo feminino, foi justamente a este gênero que Aïnouz declarou querer se aproximar e experimentar ao conceber e dirigir Praia do Futuro, um filme eminentemente “masculino” e declaradamente queer, protagonizado por um homem gay (o salva-vidas Donato, interpretado por Wagner Moura) que se apaixona por um motociclista alemão (Konrad, interpretado por Clemens Schick) e por quem abandona sua família, especialmente o irmão mais novo, Ayrton (Jesuíta Barbosa). Como, então, conciliou Karim Aïnouz as matrizes históricas e as características do melodrama cinematográfico na concepção desta obra? Em que medida este realizador se apropria e rompe com os elementos conceituais próprios deste gênero para apropriá-lo e anexá-lo na composição de um filme que dialoga com o “fazer algo novo” e com a renegociação de subjetividades própria dos ideais do New Queer Cinema?
    A partir desses pressupostos e questionamentos, portanto, tendo como objeto de estudo o filme Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, propõe-se, neste trabalho, a análise da (re)configuração das matrizes históricas e dos elementos caracterizadores do gênero melodrama nesta obra audiovisual, de modo a perceber as estratégias utilizadas pelo cineasta para criar, numa narrativa protagonizada por homens gay, o que ele denominou de “melodrama de macho”.

Bibliografia

    CHAMPAGNE, John. Italian masculinity as queer melodrama: Caravaggio, Puccini, contemporary cinema. New York: Palgrave Macmillan, 2015.
    DOANE, Mary Ann. The Desire to Desire: The Woman’s Film of the 1940s. Bloomington: Indiana University Press, 1987
    LANDY, Marcia. Imitations of life: a reader on film and television melodrama. Detroit: Wayne State University Press, 1991.
    MARCANTONIO, Carla. Global melodrama: nation, body, and history in contemporary film. New York: Palgrave Macmillan, 2015.
    OROZ, Silvia. Melodrama – O cinema de lágrimas da América Latina. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1999.
    RICH, B. Ruby. New Queer Cinema – Versão da diretora. In: MURARI, Lucas e NAGIME, Mateus (org.). New Queer Cinema – Cinema, Sexualidade e Política. Brasil: LDC, pp. 18-29, 2015.
    XAVIER, Ismail. Melodrama ou a sedução da moral negociada. Novos Estudos CEBRAP, v. 57, p. 81-90, 2000.