Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Matheus José Pessoa de Andrade (UFPB)

Minicurrículo

    Matheus Andrade é professor de Fotografia Cinematográfica do curso de Cinema e Audiovisual do Departamento de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba; Doutorando do Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação da UFPB. Áreas de interesse: fotografia, documentário e memória. Publicou os livros: Documentário Paraibano: modos de representação (e-book, 2016, org.), REC: uma iniciação à filmagem (Editora Ideia, 2013) e O sertão é coisa de cinema (Marca de fantasia, 2008).

Coautor

    Fernando Trevas Falcone (UFPB)

Ficha do Trabalho

Título

    Manoel Clemente: memórias da direção de fotografia na Paraíba

Seminário

    Teorias e análises da direção de fotografia

Resumo

    A história da direção de fotografia no Brasil está em construção, principalmente pela diversidade de práticas cinematográficas que ocorreram no país. Na Paraíba, a produção de referência é o ciclo de documentários da década 1960. Nesse contexto, Manoel Clemente estreou como diretor de fotografia, tendo trabalhado em obras importantes do cinema nacional. Nossa proposta, portanto, consiste em resgatar as memórias da trajetória do fotógrafo, sobretudo analisando as especificidades do seu trabalho.

Resumo expandido

    A presente pesquisa consiste na construção das memórias do diretor de fotografia paraibano Manoel Clemente da Penha. Nascido em João Pessoa, na década de 1940, o fotógrafo é dono de uma trajetória significativa no desenvolvimento do cinema paraibano. Entretanto, constatamos, de início, a ausência de registros sobre seu tratado enquanto fotógrafo cinematográfico.
    Quando Aruanda (Linduarte Noronha, 1960) entra em cena no cinema brasileiro, a fotografia de Rucker Vieira chama a atenção por sua ousadia estética, rompendo as convenções e ressaltando a luminosidade sertaneja. O recurso de destelhar os ambientes para a luz ser vista em contraste com as sombras indicava novos caminhos para a imagem cinematográfica. Além da sua força temática e ousadia narrativa, propondo uma ruptura da linha que separava ficção e documentário, as escolhas de planos contribuem de maneira decisiva com sua relevância fotográfica. Ao tempo que inaugura o Ciclo do Documentário Paraibano, Aruanda abriu uma nova perspectiva para a fotografia brasileira, que podemos ver nos estouros de luz articulados por Luis Carlos Barreto em Vidas Secas, por exemplo.
    Na Paraíba, o nome que vai se destacar na feitura da fotografia cinematográfica em sintonia com as novas demandas estéticas do cinema será o de Manoel Clemente. Vindo do fotojornalismo, atuando no jornal A União, Clemente inicia-se no cinema como assistente de fotografia de Hans Bantel em Romeiras da Guia (João Ramiro Mello/Vladimir Carvalho, 1962).
    Em seguida, estreia como diretor de fotografia no curta-metragem A Bolandeira (Vladimir Carvalho, 1968), no qual demonstra seu rigor na captação dos movimentos daquela estrutura arcaica que extraia, a partir da tração animal, o sumo da cana-de-açúcar. Aspectos decisivos para a poeticidade do filme, sendo o reconhecimento do seu potencial enquanto fotógrafo e operador de câmera. No longa-metragem O País de São Saruê (Vladimir Carvalho, 1971) a precariedade da produção obriga Clemente a utilizar negativos de diferentes procedências, alguns até de qualidade duvidosa. A fotografia acompanha a própria escassez material do sertão paraibano da época e faz do Sol uma personagem decisiva na construção de um painel sobre as potencialidades e as desigualdades da sociedade daquele lugar. No mesmo ano, fotografou o longa-metragem Fogo: o salário da morte (Linduarte Noronha, 1971), o primeiro filme de ficção feito na Paraíba.
    Nos anos 1980, seu trabalho fotográfico em Nau Catarineta (Manfredo Caldas, 1987) é decisivo para que o filme consiga captar a beleza, o colorido e a coreografia da manifestação folclórica da cidade portuária de Cabedelo. Com sua agilidade corporal, Clemente insinua sua câmera entre os integrantes da dança, sendo um registro importante para a cultura popular da Paraíba.
    Figura-chave no processo de surgimento de uma nova geração de realizadores do cinema paraibano, ele participou do Ciclo do Super-8 produzido pelo NUDOC (Núcleo de Documentação Cinematográfica da UFPB). Em 24 Horas (Marcus Vilar, 1987) e Itacoatira – A Pedra no Caminho (Torquato Joel, 1987) exerce a função de diretor de fotografia já numa fase da sua carreira em que o trabalho no set tem como desdobramento a atuação em sala de aula, como professor das disciplinas de fotografia, documentário e realização audiovisual nos cursos de Comunicação da UFPB. Trata-se, enfim, de uma referência na formação de diretores de fotografia paraibanos, oriundo das suas atividades docente e de sua filmografia.
    Assim, para a pesquisa que aqui se apresenta, como metodologia, partimos da revisão bibliográfica, na qual, inicialmente, percebemos a ausência de suas memórias, principalmente ao confrontarmos com uma entrevista concedida pelo próprio fotógrafo. Resultando, também, num convite a revisarmos a filmografia de Manoel Clemente, empreendendo um olhar analítico sobre suas imagens, destacando sua habilidade com a luz natural.

Bibliografia

    AMORIM, Lara; FALCONE, Fernando Trevas. Cinema e memória: o super-8 na Paraíba nos asno 1970 e 1980. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.
    CARVALHO, Vladimir. O País de São Saruê. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986.
    CARVALHO, Vladimir. Jornal de Cinema. São Paulo: É Tudo Verdade. Festival Internacional de Documentários, 2015.
    GAUTHIER, Guy. O documentário: um outro cinema. Campinas, SP: Papirus, 2011.
    HOLANDA, Karla. Documentário nordestino: mapeamento, história e análise. São Paulo: Annablume, 2008.
    LEAL, Wills. Cinema na Paraíba, Cinema da Paraíba. João Pessoa: Edição do Autor, 2007.
    MARINHO, José. Dos homens e das pedras: o ciclo do cinema documentário paraibano (1959-1979). Niterói, RJ: Eduff, 1998.
    MATTOS, Carlos Alberto. Vladimir Carvalho: pedras na lua e pelejas no planalto. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.