Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Cristiane da Silveira Lima (UFSB)

Minicurrículo

    Professora Adjunta da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Doutora pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da UFMG. Realizou estágio doutoral no Départment d’Histoire de l’Art et d’Études Cinématographiques, da Université de Montréal – Canadá, no âmbito do laboratório de pesquisa La Création Sonore – Cinéma, Arts Médiatiques et Arts du Son (PDSE/CAPES). É pesquisadora da SOCINE e coordenadora do programa de extensão Imagina! Circuito Permanente de Audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Circulação audiovisual e formação de público no interior da Bahia

Resumo

    Em atividade desde 2018 na UFSB, o programa de extensão Imagina! Circuito Permanente de Audiovisual tem como objetivo promover os circuitos alternativos de exibição e a formação de público na região do sul da Bahia. Neste trabalho, propomos um relato teórico e crítico acerca desta experiência prática, buscando refletir sobre as potências e os desafios de se atuar com o audiovisual neste território e contribuir para a implementação de uma universidade pública que pretende ser inclusiva e popular.

Resumo expandido

    Em atividade desde abril de 2018, o Imagina! Circuito Permanente de Audiovisual é um programa de extensão vinculado à Universidade Federal do Sul da Bahia, na cidade de Porto Seguro. Concebido com o objetivo promover os circuitos alternativos de exibição audiovisual e contribuir para a formação de público na região do extremo Sul da Bahia, o programa atualmente abrange quatro projetos: o Imagina! Apresenta, voltado à realização de sessões de cinema ou mostras temáticas, sempre com bate-papo após as exibições, num formato mais próximo à atividade cineclubista; o Imagina! Reverbera, voltado às experimentações de formatos de exibição e fruição das obras, buscando reverberações entre o audiovisual e outras artes, particularmente as artes sonoras; o Imagina! Oficinas: voltado à oferta de workshops e minicursos de capacitação ou atualização, com foco na dimensão prática da realização audiovisual e o F.EST.A – Festival Estudantil de Audiovisual, voltado à produção audiovisual estudantil, aberto a inscrições de todo o estado da Bahia, em formato itinerante, realizado, a cada ano, em uma escola pública de ensino médio.

    Mariella Pitombo Vieira e Milene de Cássia Silveira (2017), em estudo recente, discutem como se dão os circuitos alternativos no território baiano e destacam a importância das mostras e festivais para a qualificação profissional na região. Além disso, explicam que esses circuitos são espaços significativos para a produção audiovisual contemporânea brasileira, que muitas vezes não encontram seus públicos das salas de exibição comerciais tradicionais. Paulo Corrêa (2019), por sua vez, nos oferece o seguinte panorama: em 2018 foram registrados 356 festivais em todo o país. Destes, apenas 88 ocorreram na região nordeste, número bastante inferior à região sudeste, que totalizou 143 no mesmo ano. Entre os estados do nordeste, a Bahia ocupa o segundo lugar, tendo realizado 20 festivais. Estes festivais ocorreram em Salvador, Cachoeira, Vitória da Conquista, Lauro de Freitas, Feira de Santana, Luís Eduardo Magalhães, São Francisco do Conde e Porto Seguro. Destes, a maioria são estreantes, como é o caso do F.EST.A – Festival Estudantil de Audiovisual, único festival da região com abertura de chamada de trabalhos.

    Apesar da escassez de equipamentos culturais e políticas públicas relacionadas ao audiovisual na região do sul da Bahia, o que se observa é que começam a surgir iniciativas nesse sentido. Percebe-se que há uma grande demanda da população por projetos desta natureza e um enorme potencial ainda por ser desenvolvido na região. Mas o que significa, afinal, formar público a partir do cinema neste território? Como o cinema poderia contribuir para um projeto de universidade inclusiva, popular, que almeja contribuir para o desenvolvimento humano e a transformação de uma dada região, como é o caso da UFSB?

    A partir da leitura de Jean-Louis Comolli (2008), ao caracterizar a experiência do espectador de cinema, e Jacques Rancière (2017), acerca do espectador emancipado, buscaremos discutir os sentidos relacionados à experiência de se ver um filme. Se o espectador de cinema possui a capacidade de fazer associações e dissociações, traçando um percurso próprio diante de uma obra (Rancière, 2017), é no encontro das múltiplas capacidades e sensibilidades dos vários sujeitos que compõem um coletivo é que se forma um público ou uma comunidade de espectadores (Guimarães, 2015). Assim, atuar para a formação de público vai muito além de formar consumidores ou frequentadores, trata-se antes de instaurar espaços de partilha em torno das imagens, onde é possível ver junto e estar exposto às multiplicidades e alteridades. É na clivagem entre o saber e o não saber, entre o visível e o invisível (Comolli, 2008), entre as singularidades dos vários sujeitos que – reunidos, postos em relação com um filme e também com os outros – é que um público pode ser construído, formado, imaginado enfim.

Bibliografia

    BARONE, J. G. Exibição, crise de público e outras questões do cinema brasileiro. Diversidade Cinematográfica. Porto Alegre, n.20, dezembro/2008. Famecos/PUCRS, pp. 6-11.
    COMOLLI, J-L. Cinema contra o espetáculo. Catálogo Fórumdoc.bh – 2001. Belo Horizonte, Filmes de Quintal, 2001. pp.127-130.
    CORRÊA, P. V. L. Os Festivais/Mostras Audiovisuais Brasileiros em 2018: Geografia e Virtualização. São Paulo, Kinoforum, 2019. 150p. (online) https://issuu.com/pauloluzcorrea/docs/v1_os_festivais-mostras_audiovisuai
    GUIMARÃES, C. O que é uma comunidade de cinema? Revista Eco-Pós, Arte, Tecnologia e Mediação. V. 18, N. 1, 2015, pp.45-56.
    MIGLIORIN, C. Cinema e escola, sob o risco da democracia. Disponível em:
    http://www.fe.ufrj.br/artigos/n9/9_posfacio_cinema_e_escola_104_a_110.pdf. Acesso
    em: 22 jul. 2015.
    RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2017.