Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Lucas (PUCSP)

Minicurrículo

    Mestranda em História Social na PUCSP, tem como objeto de pesquisa os filmes “A cidade é uma só?”e “Branco sai, preto fica? “de Adirley Queirós. Especialista em “História, Cultura e Sociedade”. Integrante o corpo docente da FAAP, desde de 2014, onde ministra as disciplinas de Documentário e Cinema Brasileiro. Graduada e em Cinema pela Fundação Armando Alvares Penteado, foi bolsista FAPESP pelo projeto de iniciação cientifica ” Michelangelo Antonioni e as fantasmagorias do silêncio”.

Ficha do Trabalho

Título

    Polarização e performance política no interior do Pernambuco.

Seminário

    Cinema brasileiro contemporâneo: política, estética, invenção

Resumo

    Interessa-me analisar o documentário Camocim (Quentin Delaroche, 2018), através do conceito de “acontecimento” (MIGLIORIN, 2014) enquanto fagulha desviante, que ainda não propõe uma nova ordem, mas, já aponta para uma bifurcação histórica. Delaroche tece uma análise política, aparentemente local, que, através de um conjunto de opções formais, é capaz de atualizar a condição de leitura em torno das eleições de 2018, sobretudo, naquilo que refere-se a dimensão da performance política.

Resumo expandido

    O documentário Camocim de Quentin Delaroche, o acompanha os 45 dias que antecedem as eleições do município pernambucano de Camocim. Durante este período, a polarização entre os eleitores vermelhos e azuis fica ainda mais acirrada e violenta, de maneira, que, os conflitos daquela pequena cidade configuram-se enquanto síntese de questões referentes ao cenário político nacional contemporâneo. Assim, “Camocim parece estar simultaneamente no meio do nada e no centro de tudo” (PINTO, 2018). Dessa forma Delaroche é capaz de tecer uma análise política, aparentemente local, que, através de um conjunto de opções formais, é capaz de atualizar a condição de leitura sobre as eleições de 2018, sobretudo, naquilo que refere-se a dimensão da performance na política.

    O filme aproxima-se de uma certa tradição documental que almeja acompanhar momentos cruciais que antecedem pleitos presidenciais, a título de exemplo esta o clássico Primary (Robert Drew, 1960), The war Room (Chris Hagedus e D.A. Pennerbaker), Entreatos (João Moreira Salles, 2004). Porém, Camocim distancia-se dos filmes citados ao optar em debruçar-se na campanha do candidato a vereador, César Lucena. Outro diferencial de Camocim em relação a esta tradição documental, esta na escolha pela cabo eleitoral Mayra em conduzir a narrativa, diferente dos outros filmes em que é o próprio político quem conduz o documentário. Será por meio do olhar de Mayra que o filme se estrutura enquanto crítica a antiga politicagem. Mulher, negra, periférica, lésbica e politizada, Mayara emerge enquanto única personagem capaz de romper com a degradante práxis política de Camocim.

    São nas ruas estreitas da cidade que o circo político é montado, em clima de festa as vias são ocupadas por eleitores entusiasmados, trios-elétricos e políticos discursando, criam, a mise-en-scène necessária para construção do jogo de cena político. Através de seu registro documental Delaroche nos apresentada a experiência política da periferia do capitalismo como a mais espetacular das mercadorias e o eleitorado, enquanto subproduto deste espetáculo.

    Orientados através de imagens toscas e cores marcantes, para demarcação de seu posicionamento político, os eleitores, assim, compõe com o cínico espetáculo da campanha eleitoral, através de uma precária estetização da política.

    É em meio a performática disputa eleitoral, que a presença de Mayara marca, não apenas, o abismo da polarização de vermelhos e azuis, mas, sobretudo, uma distância incomensurável entre democracia representativa, os moldes em que ela se fundamenta, e a possibilidade de reação dentro do sistema que a criou.

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica In Obras escolhidas: Mágica e técnica, arte política. São Paulo, editora brasiliense 2008.
    CÉSAR, A. Cinema como ato de engajamento: o documentário brasileiro contemporâneo em contextos de urgência. Comunicação apresentada no 4º Colóquio Cinema Estética e Política realizado pelo Grupo de Pesquisa Poéticas da Experiência (PPGCOM-FAFICH-UFMG) no 26/06/15, em Belo Horizonte.
    Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hyJtVZoePbU
    MIGLIORIN, C. Ensaios na revolução: o documentário e o acontecimento. In: GONÇALVES, Osmar (org). Narrativas Sensoriais. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2014, pp.235-261.
    PINTO, de Abreu Rodrigo. Veemência pacífica. Revista cinética, 19 de outubro de 2018.
    Disponível em: http://revistacinetica.com.br/nova/veemencia-pacifica/
    SIBILIA, Paulo. O show do eu- a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira 2008.