Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Laís de Lorenço Teixeira (Unicamp)

Minicurrículo

    Laís Lorenço, mestranda em Multimeios (Unicamp), com apoio da CAPES, desenvolve uma pesquisa relacionada a documentários em primeira pessoa, refletindo sobre diretoras latino americanas e suas personagens femininas. Diretora do filme “Além de Mim” (2016), co-direção Gabriela Billwiller, contemplado pelo Edital Curtas Universitários do Canal Futura. Realizou intercâmbio na UNC – Universidad Nacional de Córdoba, na Argentina. Foi bolsista de Iniciação Científica – FAPERJ.

Ficha do Trabalho

Título

    Documentário em primeira pessoa, busca e trânsitos

Resumo

    As obras documentais contemporâneas tendem, em consonância com os discursos atuais – de reflexão da memória e guinada subjetiva -, a refletir com a construção e expressão da subjetividade de “eus” discursivos, como ocorre em diversos documentários em primeira pessoa. Assim, nos interessa pensar como o espaço se coloca como agente de construção e reflexão de memória. Como este se apresenta e é construído, e pensá-lo para além de uma simples apreensão da realidade, mas como construção constante.

Resumo expandido

    Seguindo na esteira do que Jean-Claude Bernardet (2004) chamou de “documentário de busca”, assim como os documentários em primeira pessoa em que a expressão subjetiva do realizador ou realizadora se coloca como atenção central, nos trabalhos, em que este “eu” transita, se constrói e se relaciona, ganha atenção. Objetivamos pensar como a articulação do espaço se apresenta, a partir de alguns exemplos, no documentário latino-americano contemporâneo, de que modo os espaços, o transito entre eles e a dinâmica de busca empreendidas nestes filmes se organizam. Nos interessa questionar como o espaço se articula com a memória (re)trabalhada no documentário.
    A dinâmica espacial chama atenção em muitas destas obras, assim como a dualidade privado e público, que implica dos temas e abordagem nos documentários, e assim, tornam essencial tratar o espaço cinematográfico. Estas obras tocam em temáticas públicas e privadas, no processo fílmico, colocando-as para debate, mas inversamente, tendem a ter estes debates em espaços familiares, íntimos, do cotidiano das personagens. Iniciar a reflexão do por que da eleição destes espaços, assim como de que maneira que são apresentados (ou não) e como implicam em uma dinâmica de encontro, nos parece essencial. Pensar o que é público e o que é privado a partir do momento em que se borram estas linhas através da exposição desses “eus”. Como afirma Perrot na Introdução do quarto volume de História da Vida Privada (1990, p.9), uma vez que se escolhe dar atenção ao que acontece no privado, assim “por uma inversão da ordem das coisas, o privado deixasse de ser uma zona maldita, proibida e obscura: o local de nossas delícias e servidões, de nossos conflitos e sonhos; o centro, talvez provisório, de nossa vida, enfim reconhecido, visitado, legitimado”. Pensar em que implica esse privado e porque temas públicos acabam por ser debatidos nesse âmbito.
    No caminho de contar e construir-se, a memória é elemento central. Essencial pensar como é agenciada de modo a construir uma conjuntura compreensível, que situe as relações da cena, mas não somente, como também apresente o contexto histórico e o espaço em que tal documentário se desenvolve. O processo a partir da construção de uma memória compreensível, no presente da realização documental, implica em uma racionalização do ocorrido, mesclado com o afeto das relações familiares e/ou domésticas.
    O espaço que serve como palco para construção da memória, do discurso político e pessoal dos encontros, os quais constroem estes filmes, é assim compreendido por nós, não apenas como um espaço físico. Mesmo que importante, nos parece essencial pensar além da materialidade, desse modo, refletir como o espaço também pode ser afetivo e propícia os encontros fílmicos. Estes espaços, de acordo com Velasco (2015, p.8), “se constroem em conjunto com as produções temporais cinematográficas, pois, se existe tempo, existe espaço. São blocos, uma coconstituição, que leva em conta todas as suas dimensões”. Se antes, ainda segundo o autor, o espaço cinematográfico era pensado como algo encerrado e os questionamentos que os cercavam eram referentes ao modo como poderia ser apreendido para a tela de cinema. A partir da compreensão de que “o espaço-tempo é uma coconstituição e que podemos analisar de que forma os espaços vão sendo construídos de modo dinâmico, incessante e sempre em busca de uma eventualidade” (VELASCO, 2015, p.10), o que pretendemos é entender como os espaços se constroem nesse tipo de obra, em que o processo de busca pela memória esta aliado a um trânsito por espaços específicos, com a tendência a serem mediados pelas constantes conversas em ambientes domésticos.

Bibliografia

    ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Tradução de Paloma Vidal. Rio de Janeiro, RJ: Editora da UERJ, 2010.
    BERNARDET, Jean-Claude. 33 traz novos horizontes aos documentários. Folha de S. Paulo. Ilustrada, São Paulo, 14-03-2004. p. E6. Disponível em: . Acesso em 11 de setembro de 2017.
    GUATTARI, Felix. Micropolitica: cartografias do desejo. Coautoria de Suely Rolnik. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1996.
    PIEDRAS, Pablo. El cine documental en primera persona. Buenos Aires: Paidós, 2014.
    RENOV, Michael. The subject of documentary. Minneapolis: Univ. of Minesota, 2004.
    VELASCO, Diogo Cavalcanti. Imagens-sertões: imagens-espaço de sertões-prosa e sertões-poesia no cinema brasileiro contemporâneo. 2015. 1 recurso online (198 p.). Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, SP. Disponível em: . Acesso em: 28 ago. 2018.