Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Ludmila Moreira Macedo de Carvalho (UFRB)

Minicurrículo

    Ludmila Moreira Macedo de Carvalho é doutora em Literatura Comparada e Cinema pela Universidade de Montreal, no Canadá. Professora do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Autora de tese sobre o cinema de Wong Kar-wai, atualmente conduz pesquisa sobre marcas de estilo e autoria no cinema e em séries televisivas.

Ficha do Trabalho

Título

    Diálogos estilísticos entre Barry Jenkins e Wong kar-wai

Resumo

    O trabalho pretende apresentar uma análise comparativa dos filmes “Se a rua Beale falasse” (Barry Jenkins, EUA, 2019) e “Amor à flor da pele” (Wong Kar-wai, Hong Kong, 2002), ressaltando o uso de recursos estilísticos da linguagem audiovisual como enquadramentos, cenários, movimentação de câmera, fotografia e montagem. Defende-se a ideia de que, embora sejam filmes com temáticas diversas, há um interessante diálogo travado no âmbito das decisões estilísticas e dos efeitos provocados por elas.

Resumo expandido

    Desde o lançamento e o reconhecimento internacional de “Moonlight” (2016), segundo longa-metragem da carreira do diretor estadunidense Barry Jenkins, comparações entre seu estilo e o do cineasta de Hong Kong Wong Kar-wai tem emergido na imprensa internacional e nos fóruns de discussão de fãs e apreciadores de cinema. De fato, tal comparação já foi corroborada pelo próprio Jenkins que, em entrevista ao portal da distribuidora Criterion Collection (2016), referiu-se a Wong como uma de suas maiores influências cinematográficas.
    À luz do lançamento do longa “Se a rua Beale falasse” (2019), o diálogo entre as obras dos dois realizadores torna-se ainda mais evidente. Percebe-se por exemplo que, assim como o diretor de “Amores Expressos” (1994), “Felizes Juntos” (1997), “Amor à flor da pele” (2000) e “2046” (2004), Jenkins possui marcas estilísticas reconhecíveis no modo de encenar e enquadrar seus personagens e cenários; nas movimentações de câmera e nas manipulações temporais através da edição; no uso expressivo das cores e da música, entre outras.
    A partir destas primeiras constatações, pretende-se apresentar uma análise comparativa dos filmes “Se a rua Beale falasse” (Barry Jenkins, EUA, 2019) e “Amor à flor da pele” (Wong Kar-wai, Hong Kong, 2002), ressaltando justamente as relações entre essas marcas estilísticas. No entanto, mais do que empreender uma discussão a respeito de questões de influência e originalidade, nosso estudo se preocupa mais com a própria ideia de estilo, e de como o estilo apresenta-se como possibilidade metodológica para a análise aprofundada de filmes.
    Estilo é compreendido, neste contexto, como o modo com que os materiais da linguagem audiovisual – que compreende desde o que se chama de mise-en-scène, ou seja, a organização e disposição dos elementos para a câmera, o cenário, o figurino, a iluminação e o movimento e atuação dos atores, até a montagem e a trilha sonora – são utilizados sistematica e significativamente de modo expressivo pelos criadores da obra para atingir um determinado resultado (BORDWELL, 2013).
    O historiador da arte Michael Baxandall (1985) aponta que a marca estilística de um artista decorre, em boa medida, das escolhas que faz durante o processo artístico diante de um universo de possibilidades. Isso quer dizer que, ao fazer uma obra, o artista não parte simplesmente do zero, mas tem como ponto de partida uma espécie de inventário de possibilidades cujos limites dependem, certamente, das intenções e da própria habilidade técnica do artista, mas também de outros fatores, tais como o conjunto das práticas e esquemas disponíveis naquele momento histórico e social.
    Deste modo, indagamo-nos de que modo diretores de origens diferentes, cujos filmes apresentam preocupações temáticas e histórias distintas (a saber, o filme de Jenkins narra o romance entre dois jovens negros no Harlem dos anos 1970; o filme de Wong narra a aproximação entre dois vizinhos casados na Hong Kong dos anos 1960), inseridos em contextos de produção diferentes, tomam decisões estilísticas semelhantes? De que modo os efeitos – estéticos, poéticos, narrativos – decorrentes de tais escolhas estilísticas se aproximam ou se afastam em suas obras?

Bibliografia

    BAXANDALL, M. Padrões de intenção: a explicação histórica dos quadros. São Paulo: Companhia das Letras, 1985.
    BORDWELL, D. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Unicamp, 2013.
    ___. Figuras traçadas na luz. A encenação no cinema. São Paulo: Papirus, 2009.
    CARVALHO, L. M M. The Ambivalent Identity of Wong Kar-wai’s Cinema. 2009. Tese de Doutorado. Université de Montréal (Faculté des arts et des sciences).
    CRITERION Collection. “What Wong Kar-wai taught Barry Jenkins about longing”. Nov. 2016. Disponível em . Acessado em 11/04/2019.
    GOMBRICH, E. Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
    OLIVEIRA JR. L.C. A mise-en-scène no cinema: do clássico ao cinema de fluxo. Campinas: Papirus, 2013.