Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    ALINE DE CALDAS COSTA DOS SANTOS (UFOB)

Minicurrículo

    Aline de Caldas possui graduação em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV (2005) e mestrado em Cultura e Turismo (2008) pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; é doutora em Memória: linguagem e sociedade (2017) pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Atualmente é professora de Teorias da Comunicação, Fotografia e Linguagem audiovisual da Universidade Federal do Oeste da Bahia, Centro Multidisciplinar Santa Maria da Vitória.

Ficha do Trabalho

Título

    Da pintura ao vídeo: a composição da imagem a partir de Kandinsky

Resumo

    O trabalho apresenta uma leitura da direção de fotografia da obra audiovisual Cena Aberta (2003), episódio A hora da estrela, a partir das teorias da forma e da cor de Wassily Kandinsky. Através de um análise fílmica, o estudo identifica elementos visuais oriundos da reflexão sobre a criação na pintura que, de maneira similar, porém, ampliada, comparecem no vídeo revelando a personalidade da protagonista, Macabea.

Resumo expandido

    O estudo realiza uma aproximação entre pintura e fotografia com foco sobre os estudos de composição da imagem. O objetivo é estender a teoria da forma e a teoria da cor construídas por Wassily Kandinsky para a criação da pintura ao estudo da direção de fotografia audiovisual. Os elementos analisados por Kandinsky – ponto, linha, movimento, cor e contraste, por exemplo – são recursos que compõem a chamada “gramática da criação” visual. Os recursos de direção de fotografia, como luz, planos, ângulos, cores, movimentos são, por sua vez, recursos que geram sentidos diversos, prescindindo do recurso verbal, seja na forma de diálogo ou narração. Neste estudo, a imagem audiovisual será objeto de uma leitura relativamente ampliada dos elementos de criação aplicados à pintura junto à imagem em movimento do vídeo, visando a uma aproximação entre as duas linguagens.
    O corpus de análise está na obra audiovisual Cena Aberta (2003), um produto de Televisão com realizado pela Rede Globo e veiculado em quatro episódios ao longo do mês de dezembro. Em cada episódio, uma adaptação de uma obra literária brasileira, tomando como cenário a cidade em que a narrativa literária acontece. Também marca este produto a condução da adaptação pela atriz Regina Casé, apresentando os bastidores, o processo de seleção de não atores, a apresentação de traços comuns ao trabalho com televisão e a leitura de trechos do livro, seja com o grupo de candidatos a ator principal, seja nas tomadas de testes com os mesmos. Neste estudo, a análise recai apenas sobre a adaptação de A hora da estrela, de Clarice Lispector. Em verdade, trata-se de uma revisão/reconstrução do estudo realizado quando da conclusão do curso de Rádio e TV na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (2005). Na ocasião, os traços da personalidade da protagonista foram levantados na obra literária por meio de análise do discurso e, na sequência, os mesmos foram identificados na obra audiovisual através de recursos desta linguagem, utilizando-se do estudo dos signos de Charles Peirce. O que se propõe aqui é a análise das mesmas cinco cenas a partir dos recursos teóricos e filosóficos de Kandinsky, visando a identificar os traços preponderantes de Macabea por meio da composição da imagem fotográfica.
    Como subsídio do estudo anterior, parte-se dos cinco traços de personalidade levantados a respeito da protagonista: solidão, baixa autoestima, conformismo, timidez, sensibilidade. Dentre os resultados encontrados no presente estudo, listamos 1) na cena em que a protagonista chega ao Rio de Janeiro, sua presença ocorre de maneira estática entre uma multidão agitada, primeiro em contraluz, depois iluminada com alta temperatura de cor; 2) na cena em que Macabea resiste a adentrar adentre à casa da cartomante, há uso de câmera subjetiva e a personagem só se movimenta após um impulso externo; 3) na cena em que a personagem toma café da manhã em uma lanchonete, o balconista toma o açucareiro de sua mão e ela o consente – a câmera se movimenta dela até o balconista, que se movimenta para a parte direita e inferior do quadro; 4) na cena em que Macabea conhece seu futuro namorado, há movimento de câmera da direita para a esquerda e a personagem é contraposta a uma luz azulada, enquanto o parceiro de cena está sob uma luz amarela; 5) na cena em que Macabea relata a Olímpico a sua experiência com uma música clássica, ela se movimenta para a esquerda e veste roupa violeta.
    A discussão aponta para a presença dos elementos estudados por Kandinsky: o ponto como ressonância de silêncio somado ao contraste preto e branco, a linha quebrada sob influência da cor vermelha, o movimento rumo ao desconhecido e de queda, o movimento de ascensão e o uso das cores introspectivas. As conclusões apontam que o ponto demonstra a solidão e a baixa autoestima; a linha quebrada e o vermelho, a timidez; o movimento de queda, o conformismo; o contraste entre as luzes amarela e azul, a timidez e cor violeta, a sensibilidade.

Bibliografia

    A HORA da estrela: a magia de contar uma história Direção: Guel Arraes, Regina Casé, Jorge Furtado. Produção: Casa de cinema de Porto Alegre. Rio de Janeiro: TV Globo Ltda., 2003. 1(45min.) DVD.

    BARROS, L. R. M. A cor no processo criativo: um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe. São Paulo: Senac, 2011

    BROWN, B. Cinematografia – teoria e prática: produção de imagens para cineastas e diretores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012

    COSTA, A. de C. dos Santos. DA LITERATURA À TELEVISÃO: aspectos da personagem Macabéa na adaptação de “A hora da estrela”. Monografia. 2005. Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Estadual de santa Cruz. Ilhéus, 2005

    KANDINSKY, W. Ponto e linha sobre plano. Lisboa: Edições 70, 1970

    _____. Curso da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 2003

    _____. Gramática da Criação. Lisboa: Edições 70, 2018

    MASCELLI, J. V. Os cinco Cs da cinematografia: técnicas de filmagem. São Paulo: Summus 2010