Trabalhos Aprovados 2019

Ficha do Proponente

Proponente

    Giovanna Durski Dal Pozzo (UTP)

Minicurrículo

    Formou-se em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná em 2016. Mestranda do curso de Comunicação e Linguagens, na linha de pesquisa de Cinema e Audiovisual, pela Universidade Tuiuti do Paraná. Desde 2014 atua como freelancer na área audiovisual, com atuação em curtas metragens, comerciais, ensaios fotográficos e afins. Sua pesquisa acadêmica é voltada as diversas representações e significações da figura do malandro no gênero pornochanchada.

Ficha do Trabalho

Título

    O GESTUAL DO MALANDRO DE HUGO CARVANA NA PORNOCHANCHADA

Resumo

    O presente artigo se propõe a analisar o gestual do malandro incorporado por Hugo Carvana sob a ótica de uma plasticidade semiótica. Tendo como corpus os filmes Vai Trabalhar, Vagabundo (Hugo Carvana, 1973) e Se Segura, Malandro (Hugo Carvana, 1978), cria-se um diálogo com o arquétipo do trickster junguiano, objetivando conceituar a linguagem corporal dessa figura marota que se fez presente no cinema brasileiro de comédias eróticas nos anos de repressão militar.

Resumo expandido

    O corpo – com seus movimentos, gesticulações e trejeitos – é capaz de criar signos próprios, lidos como uma forma de fala não-verbal pelo receptor. No universo das “audiovisualidades”, como o cinema e a televisão, a gestualidade é crucial: fornece características essenciais à leitura da personagem por parte do receptor. Nesse contexto, cabe ao ator utilizar o corpo como dispositivo para incorporação desse ser fictício, tornando física tal presença por meio do modo de andar, da gesticulação, de pequenas expressões faciais e maneirismos, entre outros. Objetivando tal vertente de pensamento, propõe-se a análise o gestual sob a ótica de uma plasticidade semiótica – capaz de produzir sentidos dentro da cinematografia – tendo como corpus o malandro incorporado por Hugo Carvana nos filmes Vai Trabalhar, Vagabundo (Hugo Carvana, 1973) e Se Segura, Malandro (Hugo Carvana, 1978).
    Dialogando com o arquétipo do trickster junguiano, pretende-se conceituar a linguagem corporal dessa figura marota que se fez presente no cinema brasileiro de comédias eróticas nos anos de repressão militar.
    Objetiva-se conceituar o gestual do malandro a partir da atuação de Hugo Carvana ao incorporar malandros icônicos nas pornochanchadas, visto que estes possuem gestualidades bem definidas e que seguem um padrão, encaixando-se e traduzindo – de forma visual – o arquétipo do malandro dentro da pornochanchada brasileira. Através de modos e expressões corporais, tem-se o malandro carioca impresso nas películas dessas comédias eróticas, figura que, através de seus trejeitos sígnicos, constrói o que nesse artigo se denominará “gestualidade da malandragem”.
    Percebe-se a figura do malandro sendo encarnada por Carvana diversas vezes em filmes do gênero de comédia erótica, e, no corpus da presente pesquisa, ambas as personagens interpretadas por ele possuem expressões corporais similares, que criam signos e concebem uma linguagem corporal específica para o arquétipo do malandro dentro desse universo, ou seja, pode-se pensar em uma “gestualidade da malandragem” dentro do cinema de pornochanchada realizado por Carvana, onde o dispositivo corporal do ator tece movimentos e trejeitos padrões, tornando possível uma conceituação do malandro através do gestual através de uma tríade indicial entre objeto (o gesto, aquilo que está sendo analisado), signo (o que esse gestual está gerando de informações) e índice (o que esses movimentos estão indiciando ser, algo além daquilo que ele é, ou seja, a criação de uma presença arquetípica malandra).
    Partindo da percepção de que o ator, ao procurar referencial para corporificar um personagem, busque no inconsciente coletivo arquétipos que se relacionem com seu papel, o presente artigo propõe-se a pensar sobre a questão antropológica do surgimento do malandro como um produto cultural, discutindo os entrelaçamentos entre tal figura e o arquétipo junguiano do trickster – que se manifesta no inconsciente coletivo brasileiro. Analisam-se quais significações semióticas emanam do gestual do pícardi incorporado por Hugo Carvana, e, dessa forma, começar a refletir sobre a construção visual e gestual do arquétipo do malandro brasileiro.

Bibliografia

    CHARTIER, Roger. A História Cultural: Entre Práticas e Representações. São Paulo: DIFEL, 2002
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    JUNG, Carl G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. São Paulo: Editora Vozes. 2014.
    KANT, Immanuel. A Crítica da Razão Pura. 1781
    OLIVEIRA, Ana Claudia de. Fala Gestual. São Paulo. Editora Perspectiva. 1992
    PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva. 1977.
    SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. Complexo de Zé Carioca. Notas sobre uma
    identidade mestiça. São Paulo: IN : Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.10 nº29. 1995